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Crise chega à mesa
Tânia de Jesus · quarta, 5 de junho de 2013 · Região A fome, segundo dados da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares, senta-se cada vez mais à mesa das famílias portuguesas, o que faz com que 60% dos inquiridos admita que o dinheiro de que dispõem não dá para viver. |
Fome atinge cada vez mais famílias |
21973 visitas Na Covilhã, um número crescente de famílias pediu, nos últimos meses, ajuda ao Banco Alimentar e à autarquia. O Banco Alimentar contra a Fome da Cova da Beira, de acordo com António Saraiva, diretor da associação, auxilia presentemente “43 instituições nos concelhos da Covilhã e da Guarda”, que por sua vez “ajudam cerca de 4800 pessoas”. Todavia, devido ao “aumento substancial de pedidos de auxílio”, dispõem de “14 instituições em lista de espera”, às quais não conseguem dar resposta. “Tendo em conta o número de alimentos que conseguimos recolher nesta zona, não nos é permitido ampliar o número de organizações que ajudamos”, lamentou o diretor. Para António Saraiva, hoje existe uma “nova pobreza”, transversal a todas as idades, na qual brotam efetivamente casos dramáticos, que não ficam resolvidos “com a simples entrega de alimentos”. Segundo o dirigente do Banco Alimentar da Cova da Beira, devido à conjuntura económica que se vive em Portugal, “as pessoas estão cada vez mais solidárias”, o que o faz acreditar no sucesso da campanha de recolha de alimentos, iniciada no passado dia 1 de junho e que decorrerá até ao dia 9 do presente mês, na qual espera “superar as 40 toneladas recolhidas em maio do ano transato”. O Município da Covilhã, segundo o vereador Paulo Rosa, responsável pelo pelouro da Ação Social, tem procurado contribuir para o “bem-estar e qualidade de vida das famílias covilhanenses”, principalmente “das mais carenciadas”, através das Lojas Sociais, inauguradas em 2006, que disponibilizam à população “roupa, mobílias e eletrodomésticos”. Desde a abertura das Lojas Sociais já foram ajudados, de acordo com o autarca, “cerca de 1000 agregados familiares, através da atribuição de mais de 300 bens móveis e 12 mil peças de vestuário”. A Câmara Municipal da Covilhã (CMC) encontra-se também, desde 2009, a “apoiar financeiramente as Conferências Vicentinas, uma instituição que visa suportar as despesas inerentes à água, luz, gás, medicamentos e alimentação das famílias carenciadas. “Desde esse período foram contempladas com este apoio 903 agregados familiares, com uma comparticipação do Município no valor de 87.629.10 euros”, salientou Paulo Rosa. O vereador revelou ainda que “com o objetivo de proporcionar às pessoas em situação de dependência a manutenção da sua autonomia e oferecer uma resposta imediata em situações de emergência, a CMC assinou com a Portugal Telecom um protocolo de teleassistência”, encontrando-se neste momento em funcionamento “48 equipamentos que em situação de emergência dão o alarme aos serviços de auxílio”. No estudo realizado pela Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares, 60% dos inquiridos afirmaram que o rendimento que dispõem não lhes permite viver condignamente, e 40% garantiram que sentiram fome nos últimos meses. Por de trás destes números estão vidas, como a de Dália Batista e Ana Santos, duas mulheres covilhanenses que viram a crise roubar-lhes o ‘pão’ que punham na mesa. Dália Batista, de 65 anos, vive com o marido, o único dos dois que recebe uma reforma, no valor de 370 euros. Todavia, nos últimos meses, devido à crise, o companheiro de Dália Batista foi obrigado a “arregaçar as mangas” e regressar ao trabalho no campo. “O dinheiro que lhe dão na quinta não é nada, mas tem a possibilidade de trazer para casa vários alimentos e se não fosse isso morríamos de fome”, assegurou a idosa. Às dificuldades por que passam, acrescenta-se o facto de se terem tornado novamente o sustento dos filhos, que ficaram desempregados. Para Dália Batista, Portugal caminha para uma situação em que é “impossível viver”, que só pode ser resolvida se o governo intervir. Ana Santos, de 79 anos, nasceu com uma “paralisia infantil”, que a impossibilitou de “andar até aos 10 anos de idade”, apesar disso “sempre trabalhou”. Contudo, a vida ‘trocou-lhe as voltas’, e depois de se reformar a doença voltou tornando-a “completamente dependente de terceiros”, o que a obriga, dos 350 euros que recebe mensalmente de reforma, a despender de uma “grande parte” para “pagar a uma pessoa que cuida da casa” e dela própria. A falta de dinheiro com que vive ‘roubou-lhe’ a possibilidade de se submeter a uma operação, no valor de cinco mil euros, que podia efetivamente devolver-lhe o andar. “Querem cinco mil euros, mas eu não tenho possibilidade para isso, não tenho rendimentos, não tenho nada”, explicou. A idosa, que habita no bairro municipal do Cabeço, assegurou que apesar das dificuldades com que sempre viveu, recebe alguns apoios da Câmara Municipal da Covilhã, que já lhe entregou “mobílias” e, este ano, um “cabaz de alimentos na Páscoa”, numa altura em que “não tinha dinheiro para uma caixa de fósforos”. Ana Santos, apesar do “sofrimento” em que sempre viveu, admite que “leva a vida a sorrir” e é isso que a mantém viva. |
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