Os acontecimentos dos últimos dias na vida municipal na Covilhã mais parecem saídos de uma série de ficção. A zanga de dois responsáveis autárquicos originou uma verdadeira guerra de poder com a requisição das instalações do “Espaço das Idades”, pedidos de trocas de fechadura, corte de fornecimento de água, marcação e desmarcação de conferências de imprensa e colocação de um veículo da câmara a barrar a entrada do espaço.

António Rebordão, presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria e um dos mentores por este projeto que se destina a apoiar os munícipes mais idosos do concelho, desempenhava funções de adjunto do presidente da câmara desde o início do atual mandato. Segundo uma das notas enviadas à comunicação social, Rebordão teria por este cargo um vencimento mensal de 2.198,91 euros por mês, tendo recebido até ao momento 103.398,56 euros. Contudo, Carlos Pinto decidiu retirar a confiança política a este adjunto e designar para a gestão do “Espaço das Idades” três funcionárias da autarquia. A fazer fé num dos muitos comunicados emitidos relativamente a este caso, “foram detetadas algumas situações que suscitaram dúvidas quanto ao respeito pelas regras e procedimentos legais na contratação de colaboradores, na contabilização de receitas com incumprimento das imposições fiscais, designadamente pagamento de IVA e demais tributos, na compra de equipamentos, sem respeito pelas regras de contratação pública”, ato desenvolvidos na “Espaço das Idades” coordenado por António Rebordão.

A situação parece ter sido transmitida ao também presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria por Carlos Pinto. O presidente da câmara enviou, dias depois, funcionários da autarquia ao pavilhão onde está instalado o “Espaço das Idades”, no sentido de serem trocadas as fechaduras do mesmo, mas tal acabou por não acontecer. Deu-se início a uma verdadeira troca de acusações, corte de serviços e alteração no acesso às instalações. Para António Rebordão, as acusações do atual presidente da autarquia e a retirar da confiança política são apenas “formas de vingança por não ter aceite o convite para integrar a lista do candidato à autarquia apoiado pelo atual presidente”. Segundo Rebordão, foram vários os momentos em que surgiram convites por parte de Pedro Farromba, candidato à autarquia covilhanense em lista independente apoiada pelo CDS e também por parte do atual chefe do executivo, Carlos Pinto. Como a resposta parece não ter sido do agrado destes “o resultado está à vista”, sublinha.

A situação ganha ainda mais contornos de “guerra política” quer pelos seus intervenientes, todos eles ligados à mesma força política e às mesmas equipas autárquicas, quer pelos organismos em questão, nomeadamente a câmara e a junta de Santa Maria, quer também pela utilização de bens públicos na luta pelo desfecho deste dossier. Recorde-se que o “Espaço das Idades” funciona em instalações alugadas. A autarquia covilhanense e a junta de Santa Maria realizaram um protocolo através do qual a câmara paga as custas deste arrendamento e outras atividades destinadas aos seus utentes, enquanto que os responsáveis da junta ficam também encarregues da direção dessas mesmas atividades. Apesar de ter sido destituído de assessor, António Rebordão lembra que continua a ser o presidente da junta e o protocolo continua vigente, daí o facto de não ter sido entregue o espaço à edilidade. A câmara, por sua vez, garante que paga anualmente 165 mil euros para o “Espaço das Idades” e que por isso tem direito a este.

Perante o agudizar das partes, Carlos Pinto agendou uma conferência de imprensa a realizar no local, na passada segunda-feira, 20 de maio, pelas 10 horas. Contudo, o mesmo encontro com a Comunicação Social, que iria servir para apresentar as novas atividades do espaço foi desmarcado pela edilidade, no domingo, 19, cerca das 22 horas. Rebordão garante que Carlos Pinto só volta a ter posse daquele espaço “com uma ordem do tribunal”.

Face a todas estas situações, a autarquia “estacionou” um camião nos portões de acesso ao pavilhão, impedindo a circulação de viaturas e cortou o fornecimento de água. Os responsáveis e utentes do espaço dizem que vão resistir e lutar pela manutenção “de um projeto que é de todos”, já a câmara, através do vereador Paulo Rosa, diz que “a normalidade”, leia-se – fornecimento de água e desbloqueio dos acessos – será reposta “assim que forem entregues as chaves do espaço ao município”. Os próximos dias prometem novos episódios nesta novela que inclui já os candidatos à autarquia covilhanense.