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Uma mão cheia de solidariedade
Marina Azevedo · quarta, 22 de maio de 2013 · Nacional Eles são 5 jovens na flor da juventude, com idades compreendidas entre os 23 e os 33 anos, e diferentes modos de vida. Todos têm um objetivo em comum: ajudar o outro, em troca de nada. Todos eles, organizam a sua vida de forma a dispensarem parte do seu tempo para ir ao encontro de quem precisa. |
21975 visitas Segundo a Organização Internacional do Trabalho, o trabalho voluntário é “um trabalho não pago e não compulsivo, que consiste no tempo em que os indivíduos (com mais de 15 anos) dedicam a atividades não remuneradas, realizadas através de uma organização ou diretamente, em prol de outros que não pertençam ao seu agregado familiar”. Segundo o INE , em Portugal, a taxa de voluntariado em 2012 foi de 11,5%, ou seja, cerca de 1 milhão e 49 mil indivíduos, com 15 ou mais anos participou em pelo menos uma atividade de trabalho voluntário.
AJAS - Associação de Jovens para acção Solidária Mafalda Araújo tem 26 anos e estuda Medicina na UBI. Atualmente colabora com a Associação de Jovens para Ação Solidária (AJAS) mas já tinha feito voluntariado antes. Apesar da crise, a sua família não foi muito afetada e a jovem sente-se uma privilegiada pela vida que leva. Vendo cada vez mais gente a passar por dificuldades, procurou uma instituição para “dar algum apoio” e “um ombro amigo” a pessoas em situação de carência. Para Mafalda, a parte mais “difícil de gerir em casa” é o facto de querer “fazer mais” e não ter possibilidade. “Um sorriso, um toque, um olhar” bastam para que Mafalda se sinta recompensada pelo trabalho que faz. Uma das histórias que hoje recorda com alguma emoção foi quando se cruzou com uma idosa, prestes a ter alta hospitalar, e lhe disse “agora a senhora devia descansar, ficar mais em casa, não trabalhar tanto na quinta”, ao que a doente respondeu: “se eu não for trabalhar para a quinta e não me cansar todos os dias, não tenho comida na mesa”.
Vinhais Solidária Luís Alves tem 33 anos e é professor do 1º Ciclo e Educação Especial. Começou a fazer voluntariado “mais a sério” aos 32. Atualmente dedica “parte do seu tempo” aos outros sem pensar em “qualquer tipo de remuneração”. Para o professor “a palavra solidariedade é a que melhor define a motivação para ser voluntário”. O professor primário juntou-se à instituição “Vinhais Solidária” depois de “um convite de uma pessoa conhecida”, e como estava relacionado com a sua área decidiu abraçar o projeto. Dentro da associação dá apoio ao estudo a alunos do 1º ciclo, mas o seu objetivo final é “trabalhar com jovens (em idade escolar) e adultos com necessidades especiais”. Luís Alves não consegue esquecer o dia em que “uma das crianças se virou para os técnicos e disse: ‘gosto tanto de vir para aqui, mas hoje aconteceu-me uma história muito triste, faleceu o meu avô’. Estas são o tipo de situações complicadas em que não se sabe bem o que dizer, nem o que fazer”.
Grupo de Voluntários do Hospital de Vila Nova de Famalicão Joana Ferreira estuda de Psicologia Clínica da Saúde e tem 23 anos. Neste momento, dá apoio aos utentes do Centro Hospitalar Médio Ave (Vila Nova de Famalicão), nos serviços de Medicina Oncológica e Análises Clínicas. Normalmente vem ao hospital uma vez por semana, às sextas-feiras, das 9 às 11 da manhã. No serviço de Medicina Oncológica a jovem ajuda os utentes que precisam de acompanhamento e de algum apoio. “As pessoas procuram-me para falar, para contar como foi o dia, ou as ansiedades dos tratamentos”, revelou a voluntária. Nas análises clínicas serve o pequeno-almoço aos utentes que “vêm de fazer análises e estão em jejum” e acompanha “as pessoas que vêm sozinhas”. Mas o voluntariado não entrou na sua vida somente agora. Já aos 16 anos a estudante teve a “possibilidade de fazer voluntariado num jardim-de-infância”. A estudante confessa que é “um bocadinho complicado” conciliar a vida pessoal e académica com este modo de vida mas tenta sempre compatibilizar tudo. Quando não pode comparecer à sexta-feira, acaba por ajudar nos dias em que está mais disponível. O grupo de voluntários em que está inserida marca presença diária no hospital, “uns nos turnos da manhã, outros nos da tarde, mas está sempre garantido o serviço”. A sensação de “dever cumprido” que sente às 11 horas da manhã de sexta-feira é o que a faz continuar a fazer voluntariado. A estudante tem “imensa pena” que não haja “mais jovens” a dispensar um pouco do seu tempo para, tal como ela, ajudar quem precisa.
Amor-Perfeito Sofia Sousa tem 29 anos e divide o seu tempo entre o consultório, onde é assistente dentária, a sua vida pessoal, e a ajuda ao outro. Além de acompanhar, há 16 anos, os peregrinos a Fátima, a jovem faz parte da equipa do “Amor Perfeito” há já dois anos. Esta não é uma associação comum, é apenas um grupo de amigos que se organizou com vista a proporcionar algum conforto a quem pouco tem. Todas as quintas-feiras, por volta das 21 horas, perto da Torre dos Clérigos, no Porto, são distribuídas refeições quentes e “kits de família” com alguns alimentos para o dia seguinte. Manuela Santos, responsável pelo projeto em que Sofia participa, contou que a iniciativa surgiu de “uma amiga” e que inicialmente o apoio era destinado apenas “aos sem-abrigo”. Ao longo tempo e com a situação económica a tornar-se cada vez mais grave, começaram a ser procurados por outras pessoas e como “ de comer não se nega a ninguém” agora ajudam toda a gente que por lá aparece. Sofia Sousa, todas as semanas, tenta angariar entre os amigos e pessoas conhecidas os bens que são precisos a semana seguinte. A jovem, tal como os seus colegas, usam o facebook para encontrar quem queira ajudar, contribuindo com alimentos. O grupo conta também com o apoio de algumas empresas da zona, desde padarias que lhes cedem pão e bolos, uma frutaria que lhes cede a fruta “tocada”, um ATL que lhes põe à disposição a sua cozinha industrial, um ginásio que disponibiliza um frigorífico para que os frescos possam ser guardados, entre outros. Há dias em que depois da ação a assistente dentária se sente “extremamente feliz” por ter ajudado alguém, outras sai “destroçada” pelas histórias que ouve. Sofia não consegue esquecer o dia do Cortejo da Queima das Fitas do ano passado. A assistente dentária recorda, com angústia, que naquele dia “choveu torrencialmente” e que junto às carrinhas do “Amor Perfeito” estavam várias pessoas que se viram obrigadas a encostar-se aos edifícios, na tentativa de se abrigarem. A imagem de várias pessoas, em fila, com “ as pingas a cair na taça da comida” acompanhará a jovem para toda a vida.
Bombeiros Voluntários de Proença-a-Nova Tiago Ribeiro tem 28 anos e desde os 15 que faz voluntariado nos Bombeiros Voluntários de Proença-a-Nova. Desde cedo sentiu necessidade “ de fazer qualquer coisa” que o fizesse “sentir útil”. Recentemente recebeu uma notícia que não o podia “ter deixado mais triste”, pois limita o seu trabalho enquanto voluntário. Foi-lhe diagnosticado um quadro clínico de asma e desta forma não pode continuar acompanhar os colegas no “combate a incêndios”. Mesmo assim, o jovem não baixou os braços e continua na associação dando apoio “nos serviços de ambulância, no atendimento telefónico, nas comunicações-rádio e na manutenção de viaturas”. Segundo Tiago, apesar de “tantas noites mal dormidas” devido aos serviços que surgem durante a noite, “quem sai a ganhar” é ele visto que aprende “todos os dias com as pessoas com que se cruza nas ocorrências.” “Ouvir histórias de vida muito mais complicadas do que a minha, ajuda-me a relativizar os meus problemas e a crescer enquanto pessoa”, confessou. Ao longo desta caminhada em prol do outro, o bombeiro já tem “várias histórias”, algumas delas “bastante chocantes e marcantes”. Num dia em que se encontrava no quartel a cumprir mais um piquete, o telefone tocou e Tiago saiu em direção “a uma aldeia próxima”. Ao chegar lá “o cenário não foi o melhor”. O bombeiro encontrou uma “família com graves carências económicas” e com uma casa “em elevado grau de degradação”. Apanhou o doente e levou-o ao Centro de Saúde da zona. No caminho de volta para casa, o senhor confessou não ter “dinheiro para pagar o serviço” prometendo “passar mais tarde na associação para regularizar o valor”. Antes de descer da ambulância, além de um “simpático obrigado” o senhor quis oferecer-lhe “ o único dinheiro que tinha no bolso”, como gorjeta. Perante tal situação, Tiago não aceitou o dinheiro e ficou muito “sensibilizado” com a situação. “São estes gestos que me fazem continuar a ajudar as pessoas”, disse. O bombeiro lamenta que não haja mais jovens da sua idade a fazer voluntariado e que “as entidades competentes” não apoiem mais as corporações de bombeiros e as restantes associações. Neste momento a instituição em que participa encontra-se em dificuldades económicas e com grande falta de meios para atuar, pois cada vez “há menos verbas” e as pessoas cada vez “ajudam menos”. |
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