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Fernando Rocha: "A minha família e os meus filhos são as maiores paixões da minha vida"
Marina Azevedo · quarta, 8 de maio de 2013 · Região Sempre foi uma criança divertida e o dom para contar anedotas nasceu em tempos de miúdo. Deixou a eletricidade para se dedicar exclusivamente ao humor. Ficou conhecido depois de ganhar o concurso televisivo Ri-te Ri-te, na TVI. Mais tarde, no Levanta-te e Ri, na SIC, conseguiu conquistar os portugueses e tornou-se num dos mais conhecidos humoristas portugueses. Participou nos Malucos do Riso, apresentou Ou Bai ou Rocha e foi ator em Balas e Bolinhos. É um apaixonado pela família e pelas tecnologias, e um portista ferrenho. |
21993 visitas Urbi et Orbi (UO): Como é que começou a sua carreira como humorista? Fernando Rocha (FR): Começou por uma brincadeira, ninguém aspira na vida a contar anedotas. Quem tem uma carreira como humorista foi porque o destino assim o quis e porque se verificou o talento para essa área. O próprio público é que nos nomeia como humoristas. Eu nunca pensei ser humorista, as pessoas começaram a gostar do que eu fazia por brincadeira, para os amigos. Depois surgiu o convite para atuar num bar (todas as quintas-feiras) que durante quatro anos juntou muita gente e foi aí que tudo começou.
UO: O que o levou a participar no programa da TVI “Ri-te Ri-te”? FR: O que me levou a participar no “Ri-te Ri-te” foram os primeiros dois programas a que assisti. Os dois vencedores (e aqui vou demonstrar alguma falta de humildade) não tinham piada nenhuma e eu disse para a minha esposa: “Vou ali e ganho aquilo”. E foi o que aconteceu. UO: Quem são as suas referências no mundo do humor? FR: As referências são várias, inspiro-me em vários humoristas nacionais e estrangeiros. Acabamos por viver um bocado uns dos outros. Mandamos piadas uns dos outros e acho isso simpático, desde que se assuma. Eu por vezes utilizo piadas dos outros e os outros utilizam as minhas. Vi muitas vezes anedotas criadas por mim nos “Malucos do Riso” e não me importei. Acho que isso é um intercâmbio cultural. Tenho como referência muitos humoristas mas na minha opinião, o melhor humorista português é Miguel Sete Estacas. Todos sabem que sou um grande admirador dele.
UO: Com o que não costuma brincar? FR: Com pedofilia. É o único tema com que não brinco.
UO: São vários os CD’s e DVD’s que já gravou. Qual foi aquele que lhe deu mais prazer fazer? FR: Foi um DVD, gravado no Teatro Sá da Bandeira, onde interagi comigo mesmo. O espetáculo demorou 3 horas e eu contracenava com uma personagem que aparecia numa tela que também era eu. Por exemplo, chegava um padre (era eu, vestido de padre) e eu interagia comigo. Saía e ficava o padre a falar sozinho e eu ia lá para trás vestir-me de padre. Entretanto o padre saía da tela e entrava eu em palco. Isto dava a entender às pessoas que a personagem saía da imagem para vir para o palco. O vídeo que passava era gravado, para eu ter o tempo suficiente para trocar de roupa e vestir aquela personagem. Foi o que mais prazer me deu, foi muito bem conseguido, porque foi tudo no tempo certo, muito bem ensaiado. No fim pareceu que era mais improviso do que ensaio.
UO: Está desaparecido da televisão há algum tempo. Não tem saudades de surgir neste meio que possibilita uma maior visibilidade? FR: Não, porque só tenho saudades de aparecer na televisão em programas com “cabeça, tronco e membros” e não com programas para “encher chouriços”. Se eu não apareço em televisão não é por falta de convites. Há convites, mas cheguei a um estatuto da minha carreira que me dou ao luxo de negar alguns e dizer não. Não é por isso que vou ter mais ou menos espetáculos. No fundo, eu vivo dos meus espetáculos, é isso que me “faz ganhar a vida” e “pôr o pão na mesa lá em casa”.
UO: Em que projetos está envolvido neste momento? FR:Neste momento tenho uma empresa de produção de espetáculos que se chama Fly. Temos os humoristas todos do nosso lado e vendemos tanto espetáculos meus como deles. A nível de espetáculos tenho tournées para os Estados Unidos, Canadá, Luxemburgo, França, Alemanha, Inglaterra, Angola, Moçambique, Venezuela, África do Sul (Joanesburgo e Pretória). Esses são os meus projetos para este ano, que já estão agendados. A nível televisivo tenho alguns projetos em fase embrionária que ainda não posso revelar neste momento.
UO: Tendo em conta que já percorreu o país de lés-a-lés e atuou em vários países, qual é o público que mais o acarinha? FR: O público é todo muito carinhoso quando gosta de um artista. Neste país, a nível televisivo, funciona muito à base de cunhas e nós vemos a televisão ser ocupada por pessoas (salvaguardando as pessoas com muito talento) sem talento nenhum e de que o público não gosta. Eles estão lá porque são “apadrinhados” por alguém lá dentro. E isso é uma coisa que se faz há muitos anos, só que nenhum deles ainda conseguiu ver que quem manda na predominância de uma carreira é o público. E quando o público gosta, põe-nos lá em cima.
UO: Via-se a fazer outra coisa a nível profissional? FR: Não. Como diz o americano “Do what you love, love what you do”. Eu faço o que amo e amo o que faço.
UO: Qual é a personagem que usa nas suas anedotas que mais prazer lhe dá interpretar? FR: Gosto muito de interpretar o “bezaina” e a “loira burra”. Mas o que gosto mais é o “Tibúrcio”.
UO: De onde é que surgiram estas personagens? FR: Surgiram da inspiração no quotidiano, no dia-a-dia, nas pessoas que se cruzam comigo na rua, nos vizinhos. Eu sou capaz de estar duas horas à conversa, ao contrário de muitas pessoas, com um bêbado. Durante a conversa estou a reparar nas pausas que faz, na linguagem que utiliza e tudo isso me serve de inspiração. O mesmo acontece com os negros, as prostitutas, as loiras. Eu vou beber ao público que me rodeia no dia-a-dia.
UO: Há excesso de humoristas em Portugal? FR: Não. Há mercado para toda a gente.
UO: Com a crise, o número de espetáculos diminuiu ou manteve-se? FR: Não tenho razão de queixa. Os meus espetáculos mantiveram-se. Têm sido sempre a mesma coisa, mas também tenho uma estratégia no mercado. Mantenho sempre os mesmos preços. Não é por estar em televisão que levo mais caro, não é por sair da televisão que levo mais barato. O meu preço é o meu preço e o meu preço não é dito à sorte. Há um estudo e um artista vale pelo número de pessoas que arrasta. Por exemplo, se me contratam e eu arrasto mil pessoas, se o bilhete custa cinco euros, faz-se 5 mil euros. Sendo assim, eu nunca posso pedir mais de 2 mil euros, pois tenho consciência que há despesas extra e que quem organiza tem que lucrar com o espetáculo. Se não der lucro, a pessoa contrata-me uma vez na vida e nunca mais me chama.
UO: Para além do humor, tem outras paixões? FR: Tenho, tenho outras paixões. A minha família e os meus filhos são as maiores paixões da minha vida e é por eles que eu tanto trabalho. Sou um mouro de trabalho, sou um lutador, sou um verdadeiro guerreiro e isso posso assumi-lo com todo o orgulho. Sou uma pessoa que vou à luta, que vou à guerra, que nunca “atira a toalha ao chão”. Passo momentos mais fáceis, outros menos fáceis, mas tenho sempre a capacidade de dar a volta à situação e conseguir sempre uma saída airosa e tranquila para a minha família. A segunda paixão, embora com menos importância, são as tecnologias. Sou viciado em comprar coisas, principalmente novas tecnologias. Se há um aparelho que faz algo novo, eu vou logo comprar.
UO: É difícil conciliar a vida familiar com a vida profissional? FR: Não, porque a minha família tem uma capacidade de encaixe fantástica e compreendem a vida que levo. A minha mulher é cúmplice da minha carreira, porque é ela a minha agente. É ela que trata da minha agenda, que marca os meus espetáculos. Conseguimos conciliar isso tudo muito bem. Não sou um pai que esteja muito tempo com os meus filhos, mas quando estou é com uma intensidade muito forte. Eu não compenso os meus filhos com prendas, é com ações e atitudes. Por exemplo, na semana passada, peguei na minha filha de 8 anos (o meu filho não estava tinha ido fazer uma visita de estudo para Londres) e fui com ela ao cabeleireiro. Fiquei à espera dela, depois fomos os dois jantar fora, como se fossemos um casal de namorados, e por fim fomos ao cinema.
UO: Tem medo de um dia perder a piada? FR: Não tenho medo de nada. Só tenho dois medos na vida: um deles é perder a humildade sem dar fé e o segundo é da solidão. De resto não tenho medo de nada.
UO: Quer deixar uma piada para os leitores do Urbi et Orbi? FR: Claro que sim, cá vai. |
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