Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Estou numa fase maravilhosa
Jéssica Barreira · quarta, 8 de maio de 2013 · Eduardo Jaime Rodrigues Madeira é um humorista e argumentista português. Nasceu na Guiné-Bissau em 1972. Não tem vícios e não gosta de brincar com cancros. Prefere ler um bom livro e praticar surf. Começou a sua carreira a escrever para as Produções Fictícias, e já participou e foi co-autor de vários programas de humor na RTP1, na Rádio Comercial e na SIC. Em 2001, em conjunto com Filipe Homem Fonseca criaram a banda Cebola Mol. Editou vários livros, como Forte e Feio, Os jeitosos continuam à solta e Dar e rir. Madeira foi um dos convidados do1º Festival de Stand Up Comedy da Covilhã. O Urbi não quis deixar passar esta oportunidade de conversar com o artista, que falou da sua vida, das recordações de África e dos planos para o futuro. |
21992 visitas UO (Urbi et Orbi) - Eduardo Madeira nasceu na Guiné Bissau, em 1972. Quando veio para Portugal e porquê? EM (Eduardo Madeira) - Vim da Guiné muito pequenino, tinha uns três anos. O meu pai esteve bastantes anos em África, voltamos na altura da revolução, da independência (da Guiné).
UO - Do que se lembra de Guiné Bissau? EM - Não me lembro de praticamente nada. Do que me lembro de África foi de lá voltar. Tenho muito o imaginário daquela época. Porque em minha casa sempre se comeu comida com o toque africano, “os picantes, a cultura, a música também, muito”. Alguns escritores e pintores moçambicanos, angolanos, guineenses que estiveram sempre presentes na minha vida, “essa coisa de África”. África para mim é sempre uma componente muito forte na minha vida.
UO - Estudou Direito. Como passou para o humor? EM - Estava no fim do curso quando comecei a escrever para as “Produções Fictícias”, para o Herman José. Era finalista e percebi exactamente no dia em que o Herman José fez o meu primeiro texto em televisão, que nunca na vida eu queria ser advogado. O que eu queria era estar ligado ao humor. Depois, felizmente, correu-me sempre tudo muito bem e acabei por começar a fazer coisas como ator. Hoje em dia a escrita também está presente, mas a minha função principal, atualmente, é ser performer. Porque apesar de continuar a escrever, já não escrevo como escrevia há dez anos. Presentemente estou a fazer uma peça, um programa em que tenho que ser ator. O stand-up é uma das coisas que ainda resta de autoral, porque eu escrevo o meu próprio stand-up.
UO - Quando era criança, o que é que queria ser quando fosse grande? EM - Eu quando era criança queria ser… tive várias fases. Houve uma altura em que queria ser super-herói e estava bastante convencido disso. Até que a minha mãe começou a achar perigoso que eu andasse com uma capa ao pé das janelas. E proibiu-me de ser super-herói quando fosse grande. Também quis ser cientista, para inventar coisas que revolucionassem completamente a humanidade. Durante muito tempo também quis ser músico. Não consegui, mas como não consegui, brinco com aquilo que é a música. A componente musical continua a ser muito forte nos meus espectáculos.
UO - Há assuntos com os quais não se brinca? EM - Eu acho que não há assuntos com os quais não se brinca. Há assuntos com os quais eu não brinco. Mas tem a ver com a escolha pessoal de cada um e o limite se calhar é o bom senso. Eu não brinco, por exemplo, com certas coisas simplesmente porque não considero de bom gosto, de bom-tom.
UO – O quê, por exemplo? EM - Não gosto de brincar com cancros, por exemplo. Qual é que é o interesse de brincar com uma pessoa que tem um cancro? Eu acho que o humor negro pode funcionar mas se calhar há pessoas que sofrem com aquilo e eu não me apetece brincar com o sofrimento dos outros. Mas admito que há pessoas que o façam bem, a mim é que não me diverte muito esse tipo de humor. Mas atenção, eu tenho colegas que fazem humor negro e que o fazem bem. É preciso é saber fazer bem e não ultrapassar certas barreiras.
UO - Já participou e foi co-autor de vários programas de humor, nomeadamente “Os Contemporâneos” e “Estado de Graça” na RTP1, “Caixilhos e Laminados” na Rádio Comercial e “Levanta-te e ri da” SIC. Em que meio se sente mais à vontade: televisão, rádio ou no palco? EM - Eu gosto muito do palco. Já experimentei todos e sinto-me bem em todo o lado mas se tivesse que escolher, escolheria o palco porque é muito forte para mim.
UO - Qual a melhor experiência que já teve em palco? E a pior? EM - A pior experiência aconteceu uma vez ou outra, quando o público não reagiu tão bem às minhas piadas. Eu acho que a pior situação foi um espectáculo que eu dei, uma vez, numa feira equestre, em que um trator me ia atropelando no meio da atuação. Isso foi um bocado esquisito. Não sei o que é que aconteceu, mas sei que entrou um trator pela zona onde eu estava a atuar e ia-me atropelar. Eu meti a viola no saco e fui-me embora naquele momento. Porque preferi não morrer, a continuar. A melhor, por exemplo este ano, no fim do ano, pedi a minha namorada em casamento no palco, em Portimão, à frente de duas mil pessoas. Foi um momento giro, foi um momento muito, muito, muito forte. Não sei o que é que me passou pela cabeça, mas foi um momento daqueles de espontaneidade, saiu-me!
UO - E por essa ação considera-se uma pessoa romântica? EM - Eu sou uma pessoa romântica, eu acho que faz falta o romantismo. Eu acho que apesar do humor ser muito forte, o amor é ainda mais forte que o humor. Isso não haja dúvidas.
UO - Como consegue conciliar a vida de ator/humorista com a função de pai? EM - Tenho que conciliar. É uma coisa com que temos que aprender a lidar. Às vezes estamos mais presentes, outras vezes menos, mas temos que aprender a lidar com isso.
UO - Eduardo Madeira vai ser pai pela segunda vez. Como é que o seu filho reagiu à chegada do irmão ou da irmã? EM - Reagiu bem, reagiu bem. Quando eu tentei contar-lhe, ele próprio é que me disse qual era a novidade. Reagiu muito bem, está a reagir muito bem, está a adorar.
UO - Com Filipe Homem Fonseca criaram a banda Cebola Mol, editaram quatro discos, chegando até ao disco de prata. Os Cebola Mol são para continuar? EM- Os Cebola Mol de vez em quando saem da sua caverna e voltam a aparecer para irritar toda a gente, e depois desaparecem novamente na bruma.
UO - Durante a sua carreira imitou e criou inúmeras personagens. Quais as que gostou mais de interpretar e quais lhe deram maior trabalho? EM - Agora há uma personagem que cada vez que a faço corre muito bem. Talvez por ser um treinador muito conhecido, que é o Jorge Jesus. Além disso, é uma personagem que eu gosto muito de fazer. Mas há personagens que dão muito trabalho a construir. As pessoas pensam “ah ele faz ali umas coisas”… Mas é importante construir, por exemplo o Miguel (Sete Estacas) (que atuou no “1º Festival de Stand Up Comedy da Covilhã”) faz personagens maravilhosas como o senhor Limpinho ou o Meireles.
UO - Em que é que se inspira na criação de novas personagens? EM - As personagens normais são pessoas que estão à nossa volta, basta estar com atenção e ter a capacidade de observação. Para as imitações propriamente ditas, de pessoas públicas, tenho que observar as pessoas e como em qualquer caricatura, escolher os traços mais fortes da personalidade. Às vezes é um exagero, mas as pessoas reconhecem o exagero. É óbvio que o Jorge Jesus não diz tantas calinadas nem fala tanto assim como eu faço. Mas as pessoas reconhecem-no pelo exagero. Eu acho que funciona muito pela capacidade de observação das pessoas. Porque há pessoas que estão à nossa volta que falam e não sei quê, e que nós de repente dizemos: “olha isto é muito bom, a maneira desta pessoa falar e de se comportar é muito bom”. Por exemplo, eu fui a uma reunião com uma pessoa e depois fui fazer uma personagem na televisão que era aquela pessoa.
UO - Este ano está a ser diferente, com um pedido de casamento à sua namorada e a chegada do seu segundo filho. Como está a ser esta fase da sua vida? EM - Maravilhosa, estou numa fase maravilhosa. Um filho é sempre um momento de grande alegria e deixa-nos sempre cheios de felicidade. Em termos profissionais estou também numa fase muito boa, em que me vejo inclusivamente obrigado a recusar trabalhos, portanto está a correr muito bem. Tenho tido nomeações, prémios, enfim… está a ser uma altura particularmente simpática da minha vida, portanto se não fosse o Vítor Gaspar eu estava radiante, o problema é que o Vítor Gaspar leva-me o dinheiro todo!
UO - Se os seus filhos quiserem ser atores, apoia-os? EM - Claro, claro. Apoio os meus filhos. Só não os apoio se quiserem ser políticos.
|
Palavras-chave/Tags:
Artigos relacionados:
|