Um edital afixado no portão da empresa informava que a Fundatex abriu insolvência. Depois de uma semana de férias, foi assim que as mais de seis dezenas de trabalhadoras ficaram a saber que, de um dia para o outro e sem uma única palavra dos responsáveis da empresa, iriam engrossar a já negra lista do desemprego em Portugal. Mesmo assim a surpresa não foi de todo completa. Apesar do trabalho nunca ter faltado, o volume de encomendas já não era o mesmo de outros tempos. Mas isso não impediu a revolta das funcionárias. “O que mais me indigna é saber que trabalhei aqui 20 anos, todas as trabalhadoras da Fundatex davam o seu melhor, e despejaram-nos como lixo”, referiu Paula Reis, delegada sindical.
Ainda sem cartas para poderem acionar os pedidos do subsídio de desemprego, e com o salário do mês de Março por receber, as operárias fazem já contas à vida. “Eu tenho o meu marido desempregado, os filhos na escola, não tenho dívidas mas tenho faturas para pagar e contava com o ordenado para sobreviver”, desabafa Maria da Conceição Fernandes. As trabalhadoras acusam a administração de estar a desviar a produção para outras fábricas. A Fundatex pertence ao grupo de confeções Torre, com sede em Belmonte, que produz fardamentos nomeadamente para empresas do Estado como a TAP, a CP e a Carris, entre outras. Isto, para além do mercado de exportação.
“Deixaram-nos ir de férias e não nos deram explicação nenhuma, há aqui pessoas com situações muito complicadas”, referiu Delfina Marques. Também Paula Diamantino se mostrou indignada com a atuação da empresa: “Já ligaram para a Torre e o que disseram foi que já não têm nada a ver com a Fundatex”. Maria da Conceição reforça as críticas e garante que vai cumprir horário à porta da empresa tal como as colegas, até que recebam as cartas de despedimento para entregarem no centro de emprego. Posição reiterada também por Paula Reis que frisa que vão “exigir todos os direitos”.
A acompanhar a situação, Luís Garra, do Sindicato Têxtil da Beira Baixa, adiantou que estão a ser desenvolvidos contactos com o administrador de insolvência da empresa para que “as trabalhadoras não tenham que passar pelo martírio de terem que cumprir horário à porta da empresa”. O objetivo é acelerar todo o processo burocrático para que as 64 funcionárias se possam inscrever no centro de emprego e “começar a receber os subsídios o mais depressa possível”, atestou.
Apesar dos contactos, da administração do grupo Torre ninguém se mostrou disponível para prestar esclarecimentos sobre o encerramento da Fundatex.