O ciclo de palestras organizado pelo departamento de Sociologia contou com a presença da docente no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, Graça Carapinheiro, que se focou na disciplina da “Sociologia da saúde” adiantando que “hoje, mais do que nunca, estamos confrontados com um tempo que já não é só de risco e de incerteza, é um tempo de enorme turbulência em todos os domínios” considerando que existem “uma série de fatores de carácter nacional e transnacional que têm vindo a imprimir um ritmo muito acelerado aos processos de mudança”.
Graça Carapinheiro referiu que estes processos de mudança são “vertiginosos”, assim como o ritmo na investigação científica, na medicina, e na sociologia, “na medida em que sendo a saúde, a doença, e a medicina os marcadores fundamentais no campo da sociologia da saúde, tem que se dar tempo para que produzem efeitos quando se estudam esses objetos”. A docente do ISCTE adiantou, ainda, que “as mudanças são tão rápidas nas ciências da saúde que tem de se ser eficaz na forma como se consegue enquadrar as questões da saúde, da doença, da vida e da morte nos quadros sociais com que hoje nos confrontamos”.
Assim, a comparação entre a saúde e a doença foi enfatizada por Graça Carapinheiro, defendendo que “são condições que estão ligadas à nossa existência epidermicamente”, e que “ao longo da história se foram transformando as condições em que a doença surgiu, foi tratada e gerida nas sociedades humanas”. Nesta perspetiva, “saúde e doença são matérias políticas na medida em que a elas estão ligadas a questões de natureza geográfica, demográfica, de direitos humanos, sociais, e cívicos”, defendeu.
Numa abordagem diferente, os conceitos de “medicalização”, “bio-medicalização” e “processos relacionados” foram discutidos por Amélia Augusto, docente na UBI, afirmando em primeiro lugar que “condições que antes eram vistas como comportamentos desviantes ou falhas de carácter são hoje vistas como doenças”.
Amélia Augusto reforçou que “as forças por trás da medicalização eram os médicos mas hoje em dia há outros motores nomeadamente a indústria farmacêutica e a biotecnologia”. Associado a este fenómeno está “a encomenda direta de medicamentos através da Internet sem intervenção médica passando a ser um processo que está nas mãos dos indivíduos”, avançou.
As práticas da “bio-medicalização enfatizam as transformações dos corpos por intervenções técnicas-científicas não para efeitos de tratamentos mas sim para melhorar e otimizar o corpo, a mente e as capacidades sociais para interagir”. A docente da UBI realçou ainda que esta transformação está a mudar o significado da vida, o cuidado e a intervenção médica nos indivíduos.
Ainda na conferência que marcou o quarto de século do curso de Sociologia na Universidade da Beira Interior, os papéis das diferentes vivências e modos de encarar a sexualidade nos percursos dos casais coabitantes, o controlo parental sobre o comportamento sexual das mulheres e a maior ou menor privatização dos casais e da família foram as temáticas debatidas por Filomena Santos, docente na UBI, concentrando-se, assim, na sociologia da família.
“Iniciar o relacionamento sexual antes da entrada da conjugalidade é hoje um fenómeno transversal na sociedade portuguesa que ultrapassa as fronteiras da idade, género, pertença social, região ou crenças religiosas”, afirmando também que “o elemento religiosidade não impede hoje a entrada informal na conjugalidade nem o relacionamento sexual do casal antes de ir viver sob o mesmo teto” Quanto ao contexto familiar, Filomena Santos reforçou que continua a revelar-se determinante na decisão de casar ou coabitar e ter filhos fora do casamento. Ainda relativamente ao género, a questão levou Johanna Schouten, docente na UBI, a reforçar que “as mulheres foram poucas vezes objeto de estudo” e que “a questão do género é fortemente influenciada por aspetos culturais”.
“Havia um distanciamento entre os homens e as mulheres e ser feminina no século XIX suscitou fantasias constituindo uma das razões para estudar as mulheres”.