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Arte urbana recupera passado.
Edgar Félix e Laura Falcão Freire · quarta, 6 de fevereiro de 2013 · A indústria dos lanifícios é um dos símbolos da cidade da Covilhã. Esta marca é lembrada e homenageada com intervenções de Arte Urbana. |
A indústria dos lanifícios é um dos símbolos da cidade da Covilhã. Esta marca é lembrada e homenageada com intervenções de Arte Urbana. |
21952 visitas A Covilhã tem como característica diferenciadora a sua ligação à indústria dos lanifícios. A localização, flora e clima permitem desde há 800 anos o pastoreio e, consequente, a produção da matéria-prima base desta indústria. Por toda a cidade vislumbram-se vestígios de um passado ligado à indústria dos lanifícios, desde ruínas de fábricas a edifícios reabilitados, muitos dos quais pela ação da Universidade da Beira Interior. Grande parte da história da indústria lanifícios na Covilhã está hoje guardada no Museu dos Lanifícios da Universidade da Beira Interior. Mas fora dos edifícios também há marcas desse passado. Novos projetos fazem com que a história e a cultura da Covilhã sejam relembradas e revividas e o WOOL é um exemplo deste tipo de iniciativas. Este projeto de arte urbana tem vindo a reabilitar as fachadas antigas da Covilhã e a relembrar os costumes e tradições dos lanifícios, através de uma ligação temática em cada intervenção artística. A arte urbana surge quando vários artistas de rua colocam os seus desenhos no espaço público, mostrando as suas perspetivas sobre problemas comuns na sociedade, estados de espírito, ou ainda, apenas com a intenção de embelezar uma parede e, assim, surgir uma cidade desenhada. Esta forma de arte tem vários formatos de apresentação. Na Covilhã surge em paredes, portas e outras superfícies. O projeto WOOL, que tem como objetivo fazer da Covilhã “um polo de arte urbana a nível nacional”, como é frisado na página oficial do projeto, deu início ao primeiro Festival de Arte Urbana na Covilhã, que decorreu no final do ano de 2011.Para Pedro Rodrigues, um dos representantes do projeto WOOL, as definições do conceito de Arte Urbana são muito diversas, podendo ou não considerar o graffiti como uma forma deste tipo de arte. Pedro Rodrigues afirma que “arte urbana acaba por ser algo que está ligado às obras de arte mais bonitas”, revelando que são os movimentos artísticos mais trabalhados e demorados, e com maior dedicação que representam melhor a street art – arte de rua, em português. O projeto WOOL pretende concentrar as suas intervenções, maioritariamente, na zona histórica da cidade da Covilhã, para apoiar o turismo cultural na cidade. Pedro Rodrigues diz que existe o objetivo de “criar um roteiro turístico, para que as pessoas, além de verem as intervenções dos artistas, fiquem a conhecer melhor a Covilhã”. O festival de Arte Urbana, organizado pelo WOOL na Covilhã, teve o intuito de requalificar o espaço coletivo que estava mais degradado. “Esta intervenção acaba por vir mexer na forma como as pessoas acabam por percorrer o espaço urbano da nossa cidade”, afirma um dos organizadores do festival. Atualmente, a Covilhã tem obras de arte que são o reflexo da transformação de uma parede degradada, numa fachada apreciada por muitos, pelos seus vários significados. Para Luís Ferreira, um artista de rua, este projeto conseguiu “dar vida a paredes que já estavam mortas há muito tempo”, daí que não se associe este tipo de arte ao vandalismo, como, tantas vezes é classificado o graffiti. O projeto WOOL trouxe, à Covilhã, artistas profissionais que trabalharam nas paredes disponíveis. Alexandre Farto, também conhecido por Vhils, fez a sua maior obra em Portugal. Um rosto esculpido numa parede, que simboliza um antigo operário das fábricas dos lanifícios. Este é um exemplo, das várias intervenções sobre o passado industrial da Covilhã, realizado tanto por artistas portugueses, Vhils e ARM Collective, tanto pelos internacionais, JR e BTOY. Após o primeiro festival WOOL, a população da Covilhã aceitou as representações artísticas que requalificaram as paredes degradadas. Pedro Rodrigues, representante do WOOL, afirma que “inicialmente, a organização estava com receio da reação das pessoas”, porém, depois percebeu que “houve maior recetividade das pessoas mais idosas do que das pessoas mais jovens.” A candidatura aos apoios para este festival, realizar-se no ano 2013, já foi apresentada e “se tudo correr bem existirá o WOOL Fest, novamente”, garante Pedro Rodrigues. Este responsável pelo projeto considera que tanto o trabalho da lã, como uma intervenção artística devem ser considerados arte. O intuito dos artistas convidados basearem os seus trabalhos na indústria característica da Covilhã foi, desde logo, o primeiro objetivo. JR, artista francês, aplicou retratos de operários e empresários desta indústria e aplicou-os numa fábrica da cidade. JR, BTOY, Vhils e ARM Collective são nomes adotados pelos artistas para assinarem as suas obras. Por vezes considerada ilegal, esta forma de arte obriga os seus criadores a esconderem-se atrás destas "tags". Pedro Rodrigues diz que é difícil viver profissionalmente desta prática em Portugal, mas que noutros países existem muitas intervenções em espaços públicos e privados, que permitem a independência económica dos artistas que se dedicam à Arte Urbana. |