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Entrevista com Alice Vieira
Nicolas Reis · quarta, 9 de janeiro de 2013 · Alice de Jesus Vieira Vassalo Pereira da Fonseca, nascida em Lisboa a 20 de Março de 1943, é uma escritora e jornalista portuguesa. Licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Dedicou-se desde cedo ao jornalismo, tendo trabalhado nos jornais Diário de Lisboa , Diário Popular e Diário de Notícias. Tendo já várias obras publicadas, é uma artista bastante conceituada a nível nacional mas não só pois, as suas obras foram traduzidas para várias línguas, como o alemão, o búlgaro, o basco, o castelhano, o galego, o catalão, o francês, o húngaro, o holandês, o russo, o italiano, o chinês, o servo-croata. Aproveitando a sua visita na Covilhã, o Urbi et Orbi aproveitou para fazer algumas perguntas à escritora. |
Alice Vieira e Manuel Ramos |
21965 visitas Urbi: O que a levou a aceitar o convite da Câmara Municipal da Covilhã? Alice Vieira: Sempre que possa gosto de vir aos sítios onde sou solicitada, e quando o Manuel da Silva Ramos me falou nisso, pois somos amigos há muitos anos, e também já não vinha à Covilhã há bastante tempo, e como tudo se conjugou para a minha vinda achei que era uma boa altura para vir até à Covilhã falar do meu trabalho. Urbi: Para uma pessoa que escreve há tantos anos, o que significa a escrita para si? A V: A escrita para mim é o meu trabalho, implica ter horários de trabalho, que não posso só escrever quando me apetece ou quando estou inspirada. Desde o jornalismo que escrevo. Basicamente a escrita é o meu trabalho, e eu tenho a grande sorte de adorar o meu trabalho. Urbi: O que a inspira para escrever as suas obras, principalmente as infantis? A V: Agora tenho escrito pouco para os infantis, tenho escrito mais para adultos e jovens. Inspira-me quase sempre a realidade, que eu acho que é onde vamos buscar tudo. A realidade dá-nos quase tudo o que queremos, até mesmo aquilo que não nos atreveríamos a inventar, portanto é sempre aí que vou buscar os temas, as personagens sobre as quais escrevo. Para os pequeninos tenho de ter outras preocupações didáticas, e trabalho frequentemente com professores. Urbi: Como escritora, tem alguma das suas obras que seja a sua preferida ou que lhe tenha dado mais gosto em escrever? A V: Não. Eu acho que para os artistas a melhor é sempre a última, pois temos de acreditar que seremos capazes de fazer sempre melhor com a velhice, por isso para mim a melhor é sempre a última. Urbi: Sendo uma artista distinguida com vários prémios e tendo obras traduzidas em várias línguas, como se sente com esse reconhecimento do seu trabalho? A V: Claro que eu gosto, é muito bom e é ótimo colocar no nosso currículo obras traduzidas em vários países, claro que gosto, mas realmente aquilo que me interessa mais é ser editada em Portugal, é ser lida em Portugal, que os meus leitores sejam os leitores portugueses, e como estou nisto há muitos anos existe muita gente que vem ter comigo para me dizer que adorou os meus livros e a minha escrita, e é esse reconhecimento que principalmente me interessa, mas é óbvio que gosto de ter os meus livros no estrangeiro. Urbi: Acha que a literatura é reconhecida em Portugal ou tem existido um desligar cada vez mais acentuado da literatura? AV: Para mim o reconhecimento é saber que as pessoas lêem. Não posso ter razões de queixas pois as pessoas lêem o que eu escrevo, e perceber que podemos adicionar algo de novo na vida dos leitores e que não trabalhamos em vão é muito bom, por isso ainda, e falando por mim, posso dizer que existe algum reconhecimento do nosso trabalho. Urbi: Se os novos escritores lhe perguntassem sobre as dificuldades que se encontram neste caminho até ao reconhecimento, que lhes diria? AV: Diria que isto não é fácil, que não se vai lá à primeira, que não se pode desistir, e isto é fruto de muito trabalho, por isso, o que terão de fazer é fazer melhor, fazer mais e lutar muito por eles, não esperando que as oportunidades apareçam: é preciso fazer por elas, e aproveitar muitos prémios literários que existem oferecidos pelas câmaras, jornais e associações de escritores, e concorrer com o seu livro, pois pode ser aí o inicio. Urbi: Fugindo agora ao tema da literatura, com os seus anos de experiência qual a sua visão sobre o estado atual do jornalismo? AV: Está como o país, está tudo mal, acho que o jornalismo não está numa boa fase, mas também acho que ninguém está numa boa fase. Mas eu sou muito otimista e espero que as coisas tenham outro rumo, espero que tudo volte a uma boa fase, pois é muito complicado escrever para um jornal, é muito complicado ter coragem para comprar um jornal, portanto isto tem tudo de levar uma volta, como tudo neste País. |