Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Mudam-se os tempos, mudam-se os lugares
Margarida Serra Carvalho e Ana Isabel Silva · quarta, 21 de agosto de 2013 · Todos os dias se percorrem locais que contam histórias. O que começou por ser o largo Dona Maria Pia, há mais de uma centena de anos, transformou-se, após várias remodelações, no Jardim Público da Covilhã. Este é um local histórico considerado por jovens e idosos um espaço importante no diz que respeito à ocupação dos tempos de lazer. |
O Jardim Público da Covilhã é um lugar de destaque na cidade |
21951 visitas No interior do País, na encosta sudeste da Serra da Estrela, situa-se a Covilhã. Nesta cidade são várias as histórias de vida que se cruzam nos diversos jardins. Pessoas que ali passam, ali se sentam, ali conversam. Mas, o que representam estes espaços? Para os mais idosos, estes jardins permitem o contacto com outras pessoas, uma forma de ocupar o tempo e a possibilidade de reviver “velhos tempos”. Os provérbios e as canções populares continuam a ser temas bem presentes nas suas conversas. Ao longo da Avenida Frei Heitor Pinto, encontra-se o jardim público. Este foi projetado por João Ascensão Loriga e construído em 1908, em terras onde outrora se encontrava o convento de São Francisco. A ida à missa na igreja que dá pelo mesmo nome é também pretexto para o passeio dominical de Ermelinda Teixeira que considera muito importante o facto da urbe ter espaços verdes, para deixar “a cidade mais alegre”. Para ela “recordar é viver”, e por isso, nos dias solarengos volta ao jardim que frequenta desde menina. “O jardim já não é o mesmo” e ela reforça a “importância da preservação deste espaço”. Opinião partilhada por José António Viegas, que refere que a juventude “nunca trabalhou a sério, não sabem o que custa ganhar a vida, não dão valor às coisas”. Diz ainda que “noutros tempos trabalhava dia e noite, até à exaustão”. E por isso, gosta de ali ir para ler o jornal e encontrar as “moças” da sua infância. Deste espaço também fazia parte o coreto projetado pelo mesmo paisagista. Mesmo ao lado estava um pequeno lago, com uma estatueta central, onde corria água límpida e fresca da serra. Ambos os elementos foram demolidos na década de 50, passando a ter, na seguinte, um jardim mais moderno, que muitos consideraram menos atrativo. José Fernando Barata, de 77 anos, afirma que a ausência do coreto deixou o jardim mais triste e pobre recordando, com saudade, os tempos de adolescência a ouvir a música da banda do “21”. “Agora, o jardim, já não tem o aconchego de antigamente”, relembra Ana Maria Lourenço, que lá saltitava na sua meninice. Apesar do descontentamento da população com algumas das alterações paisagísticas, todos os dias o jardim continuava a ser frequentado por adultos que nele passeiam e crianças que nele brincam. No entanto, a sua utilidade ia muito para além disso. Desde sempre acolheu várias iniciativas como as festas complementares das feiras de São Tiago e alguns espetáculos de beneficência, que tinham como palco o famoso coreto: era aqui que, todos os domingos e quintas-feiras da quadra estival, tocava a banda dirigida por Costa Lança, na remota década de 30. Em 2001, o arquiteto e paisagista Luís Cabral reconstituiu este espaço agora mais diversificado: novas alamedas, uma ponte sobre o lago e um espaço infantil. Para Maria dos Anjos Dias, de 68 anos, o jardim público, é hoje um jardim sem flores e por isso mais tristonho, não deixando de ser o ponto de encontro com amigos e conhecidos. Falam sobre o quotidiano, recordam histórias passadas e o tempo da mocidade. Passados 122 anos, o gradeamento e fachada da antiga "Pensão Avenida" ainda resistem. Os únicos elementos que prevalecem do jardim primitivo passam, hoje, despercebidos aos mais jovens, mas perduram na memória dos mais velhos. |