Chama-se Gabriel Marques, tem 25 anos de idade, é natural de Seia (distrito da Guarda) e estuda Criação e Composição Musical. Este jovem viu a sua vida por um fio ao deparar-se com um problema de saúde à nascença. Foi-lhe diagnosticado um problema cardíaco chamado “Estenose Aórtica”, uma doença que leva a uma vida com cirurgias e constantes idas ao médico para controlo. A primeira cirurgia foi feita aos 3 anos de idade, e a partir daí foi-lhe explicado que demasiado esforço físico e o desporto estavam fora de questão. Um dos sonhos do Gabriel foi logo destruído: ser futebolista. Sentia-se inferior às outras crianças, todas podiam jogar à bola, participar em actividades desportivas mas o Gabriel não, e era algo que ele não conseguia aceitar. Afinal de contas era ainda uma criança e queria brincar com os seus amigos. Não tinha consciência do que a sua doença implicava, e pela revolta que sentia continuou a jogar à bola, mas às escondidas dos pais. O pior aconteceu no dia em que o Gabriel, com 8 anos de idade, teve o primeiro ataque cardíaco consequência de demasiado esforço físico, que felizmente não foi fatal.  

Aos 9 anos de idade, o Gabriel foi submetido a uma operação para alargar uma válvula do coração e assim conseguir uma melhor qualidade de vida. O jovem passou dez anos a controlar o estado da doença com a máxima consciência de que numa idade mais adulta iria ter mais uma cirurgia decisiva novamente de peito aberto.

Foi em Agosto de 2005, que lhe foram substituídas duas válvulas no órgão vital, uma cirurgia complicada e de alto risco. Foi prometido ao Gabriel e a todos os seus familiares  que o jovem podia ter uma vida saudável mas controlada para mais 10\\15 anos, tudo isto dependendo da evolução do problema. O jovem confessa ter-se sentido "aliviado por ter acordado após a cirurgia", pelas muitas  complicações.

O Gabriel “foi obrigado” a interessar-te por algo que não exigisse demasiado do seu físico, e começou a sentir-se fascinado pela tecnologia. Entre consolas, computadores e internet, começa o interesse mas ao mesmo tempo o isolamento, e passa a ser uma criança com uma personalidade fechada e muito reservada. No dia que os pais do jovem lhe ofereceram uma guitarra, ele passou a ter outra alma, outra vocação. Gabriel admite que a música o ajudou muito a aceitar a sua doença. A angústia que vivia relativamente ao seu problema de saúde e às constantes operações, foi sendo superada à medida que se envolvia com a guitarra.

A música teve um papel fundamental para superar as alturas menos boas que lhe foram surgindo. Para ele a música é “uma forma de estar, de me isolar de problemas”, e em relação ao seu problema de saúde, Gabriel afirma que foi a música que o ajudou a curar-se psicologica e fisicamente. Existem estudos que provam que o contacto com a música ajuda a atender as necessidades emocionais, mentais, físicas e sociais. A musicoterapia é o nome do processo que o Gabriel, de maneira autónoma, resolveu adoptar para o ajudar no grave problema de saúde que tem.Entre recuperações dolorosas, angústias, medos de todas as cirurgias que fez, o jovem sempre teve algo que nunca deixou fugir: a esperança no dia de amanhã.

Hoje com 25 anos, o Gabriel vive uma vida normal de um jovem da sua idade: saí à noite, joga futebol com os amigos (de uma maneira controlada), é um apaixonado pela música e tem um projecto musical com um amigo, percorrem norte a sul do país para dar concertos.O LOGM Acústico - projecto musical é onde o Gabriel  se sente feliz e realizado, apesar de querer saber sempre mais com tudo relacionado com a música, ou não tivesse sido ela a grande ajuda do Gabriel em alturas complicadas, “é a menina dos meus olhos”, diz.

Um jovem cheio de sonhos e com uma enorme vontade de viver, tem como objectivos ter um estúdio de áudio profissional, colaborar com artistas de vários géneros musicais e produzir as próprias músicas. Acredita que são necessários quatro aspectos muito importantes: o empenho,a aprendizagem,a humildade e a persistência.

“Aprendi que na vida basta ter saúde para se poder apreciar tudo o que há de belo”. É assim que Gabriel resume esta sua história, aconselhando todas as pessoas que possam passar por algo parecido a não perder a vontade de lutar. O jovem defende a ideia de que as pessoas com problemas de saúde deviam aprender a tocar um instrumento musical ou a envolver-se com a música de outra maneira. Gabriel conseguiu abstrair-se de muitos problemas com a ajuda da música e acredita que "qualquer pessoa pode conseguir independetemente do problema que tiver, nem que seja para se sentir mais alegre e confiante", diz.

Servirá de exemplo a história de Gabriel, ele que aprendeu a aceitar a vida como ela é, conseguindo superar as etapas mais difíceis, tendo sempre no pensamento algo muito importante: ACREDITAR. O jovem afirma que será uma palavra que "fará sempre parte do meu dia-a-dia, em todas as possiveis e imaginárias situações da minha vida".