Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
À sombra da competição
Raquel Machado e Fernando Cardoso · quarta, 21 de agosto de 2013 · A ideia de Corpo são em mente sã foi semeada pela civilização grega. Até à actualidade, o desporto constitui um dos pilares fulcrais para uma vida saudável, sendo capaz de cativar todo o tipo de pessoas pelo seu cariz multifacetado e pelo seu lado lúdico ligado à competição. Mas será que tudo se resume ao momento em que o confronto se inicia? |
Campeonato Nacional de Karate Cadetes, Juniores e Sub21 (Loulé, 2011) |
21987 visitas A chegada ao local marcado para a concretização da prova desportiva, não faz adivinhar o trabalho desenvolvido para lá do único cenário conhecido por atletas e espectadores. Na verdade, existe uma realidade algo desconhecida sem a qual era impossível conceber-se qualquer tipo de competição: para lá do visível no imediato, é necessária uma intensa preparação prévia por parte de uma equipa, que engloba staff e direcção de provas federativa. Assumindo-se como mais do que um desporto de combate, para muitos compreendido como uma filosofia de vida alicerçada em cinco máximas, o karate tem vindo a conquistar adeptos por todo o mundo a uma velocidade considerável. Integrado no rol de desportos não-reconhecidos, o karate é uma arte marcial praticada por milhares de pessoas, sendo considerado uma modalidade de inclusão social. Enquanto competição, esta arte pode ser definida como um “jogo”, “luta”, “encontro”, “combate”, entre dois atletas ou entre duas equipas e até que se passe ao confronto, muito há a fazer para que sejam fornecidas todas as ferramentas indispensáveis a uma prova bem-sucedida. Requisitado o pavilhão e promovido o evento são abertas as inscrições, cerca de 21 dias antes da data prevista para a realização do evento desportivo. Cada clube pode inscrever os respectivos atletas através do site da Federação Nacional de Karate-Portugal (FNK-P), onde será posteriormente (sensivelmente oito dias antes da competição) colocado o ficheiro respeitante ao sorteio de Karate. Sendo um desporto que abraça a vertente competitiva, esta arte marcial tem por base alguns aspectos universais pelos quais se regem todas as restantes modalidades: requisição de equipa médica, bombeiros e convocatória de árbitros. Pouco menos de 24 horas antes do pavilhão acolher o evento, a equipa do staff supervisionada pelo director de provas da FNK-P, João Garcês, inicia a minuciosa tarefa de preparação do recinto. A montagem do tapete competitivo, conhecido no meio como tatami, é o ponto de partida para o processo. A colocação do revestimento feito em borracha, assume extrema importância devido ao facto de proteger o atleta que compete descalço e no decorrer de um combate pode sofrer uma queda. Seguidamente, a equipa de staff procede à colocação de mesas e cadeiras, para árbitros, oficiais de mesa, equipa médica e equipamento de som. A disposição dos prémios num espaço reservado junto ao pódio, bem como a distribuição das bandeiras que ajudarão os árbitros a atribuir vitória e pontuação aos competidores, são também da responsabilidade da mesma equipa. Erguem-se as bandeiras (nacional, federativa e da respectiva cidade onde terá lugar a prova) que geralmente são posicionadas atrás do pódio, são distribuídas as baias separadoras que limitam o acesso à área competitiva e procede-se à montagem da área de aquecimento, destinada a atletas e treinadores. Tratando-se de uma instituição de utilidade pública, imprescindível revela-se a existência de um gabinete de controlo antidopagem nas provas oficias da FNK-P. Tal como o próprio nome indica, este destina-se a realização de recolha de amostras dos competidores sorteados para o efeito e realiza-se no final do “jogo”. Chegada a data do espectáculo e de acordo com uma programação disposta antecipadamente, o dia inicia-se com um primeiro instante destinado às pesagens dos atletas, caso se trate um campeonato oficial por categorias de pesos. O segundo passo abrangido pelo programa aponta para a habitual reunião de árbitros que, dada por encerrada dá lugar a uma série de etapas que compõem o momento aguardado por centenas de pessoas: o início das provas de Kata e Kumite. As medalhas são atribuídas e a prova finda, ainda que o trabalho não fique por aqui. O processo decorre no sentido inverso e tudo tem de ser arrumado nos respectivos locais, carregado em camiões e guardado até à próxima competição. A família Garcês, natural da cidade de Paredes, há muitos anos que é fiel à prática do Karate. João Paulo, o mais velho de dois filhos, afirma que o esforço desenvolvido pelos intervenientes na organização da prova “é invisível e pouco reconhecido” e acredita que sem esta dedicação a essência deste espectáculo desportivo dissipar-se-ia. Nas mãos do director de provas da federação está colocado o cerne de todas as pressões. A mínima falha pode impedir o sucesso da prova e o evento poderá sair prejudicado. Fora do tatami trava-se uma luta contra o tempo e independentemente de saírem vitoriosos, estes “atletas de bastidores” não poderão disfrutar de um lugar no pódio. |
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