Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
A crise tem vindo a influenciar muito a quantidade de alimentos doados
Joana Patrocínia · quinta, 3 de janeiro de 2013 · O Banco Alimentar Contra a Fome da Cova da Beira assinala uma década de atividade. Esta instituição que vive do trabalho solidário de várias centenas de voluntários apoia atualmente 43 instituições com bens alimentares. O Urbi dá-lhe a conhecer o trabalho desta organização através da entrevista a Paulo Pinheiro, diretor do BACB. |
"Ajudamos 43 instituições, uma muito recente trata de crianças que foram abandonadas pelos pais no dia de nascimento" |
21958 visitas Urbi - Como surgiu a ideia de introduzir o banco alimentar na Cova da Beira? Confesso que a ideia desde sempre me pareceu um pouco ingénua, porque ninguém sabia as exigências que um projeto destes iria implicar. Fui a primeira pessoa a ser abordada por ele para o ajudar nesta iniciativa, e também com muita ingenuidade aceitei o desafio. O projeto seguiu em frente em março de 2002 e a primeira campanha foi efetuada com muito amadorismo em maio desse mesmo ano. Nesta primeira campanha foram recolhidos alimentos da Covilhã, Fundão e Belmonte. Como eramos desconhecidos e queríamos a aceitação por parte da sociedade pedimos a padres que falassem sobre nós na missa, utilizamos tudo o que possa imaginar para divulgar a nossa existência. Ajudamos 43 instituições, uma muito recente trata de crianças que foram abandonadas pelos pais no dia de nascimento. Nós nem sempre conseguimos ter elevados números de bens em armazém e em dada altura esta instituição chegou a ligar-nos a pedir alimentos e devido a escassez em armazém não sabíamos se poderíamos ou não fornecer-lhes, no entanto quando ouço do outro lado da linha, a responsável a pedir-me apenas arroz para poder alimentar as crianças, tocou-me imenso. Muitas vezes o banco alimentar tem necessidade de escrever cartas pedindo que nos enviem leite. Recordo-me de uma situação em que o proprietário de uma pequena superfície resolveu iniciar a nossa campanha oferecendo mil litros de leite, que desembolsou do seu próprio “bolso”. Algumas “más-línguas” ainda afirmaram que o leite que nos foi oferecido era o que ele tinha lá guardado, mas a situação foi acompanhada por um voluntário nosso e a verdade é que o senhor encomendou de propósito o leite para a nossa instituição. Confesso que por vezes não somos mais ajudados, porque é muito difícil montar equipas que se desloquem até às empresas de forma independente. Muitas vezes desloco-me até Lisboa, ou a outros pontos do País e pago todas as despesas. Costumo dizer que os voluntários não são pagos, mas sim pagam para ser voluntários. |