Em Paredes não existe qualquer local na passagem de ano. Os hábitos nortenhos prevalecem tanto no que diz respeito às superstições que caracterizam a chegada de um novo ano, como à gastronomia da época, a qual consiste nas batatas cozidas com bacalhau na noite de 31 de Dezembro, o assado do almoço de dia 1 de Janeiro, seguido de “roupa-velha” ao jantar.
A família Pacheco, residente no centro da cidade, passou esta noite de Ano Novo reunida em casa da matriarca de 80 anos, Maria Moura, que continua a prezar este convívio. Filhas, genros a netos ajudaram para que nada faltasse e a noite corresse como planeado.
Maria Moura referiu que “não tem sentido tratar esta noite como mais uma, em que cada um come em sua casa” e explicou que foi com grande alegria que preparou a ceia e posterior almoço e jantar do primeiro dia do ano para 13 pessoas.
As faixas etárias que se reuniram em torno desta mesa de “réveillon” traziam expectativas diferentes para a noite e, enquanto uns esperavam as doze badaladas para brindar por um novo ano e seguir para o aconchego da cama, outros tinham como destino rumar a uma festa que se prolongasse até de madrugada. Porém, o curso natural previsto pelos elementos desta família mudou quando descobriram que iriam ter presente ao jantar mais um elemento.
A caminho de casa, Aurora Garrido encontrou um homem a vasculhar no lixo e abordou-o, tendo enfrentado, segundo ela, a triste realidade de que o homem estava perdido há já quatro dias, com fome e frio. “Onde comem dez, comem onze”, pensou Maria Moura, que acolheu o senhor e lhe proporcionou a entrada no ano 2013 em família.
Há meia-noite, com os mais supersticiosos em cima de bancos comendo as doze passas à medida que iam pedindo desejos para o ano que se aproximava, os copos ergueram-se e a família Pacheco brindou, repetindo o gesto de anos anteriores.
O homem, que na realidade tinha escapado da Casa do Gaiato de Beire (freguesia do concelho de Paredes), conseguiu satisfazer antecipadamente, segundo Sérgio Machado, “os seus desejos para 2013: saciar a fome e escapar do frio”. Para Sérgio, “as pessoas necessitam de deixar de pensar no próprio umbigo e olhar para o mundo que as rodeia com olhos de ver”.
Para o próximo ano todos contam estar presentes à mesma mesa para recordar façanhas e perspetivar novos objetivos.