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Crise: lugar para a Utopia
João Gaspar de Gonçalves · quinta, 27 de dezembro de 2012 · @@y8Xxv Numa conjuntura de crise, o Grupo de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UBI trouxe a docente Fátima Vieira como oradora convidada para a conferência Utopia e Sociedade. A desconstrução desta temática impulsionou uma reflexão sobre a existência de outros caminhos para sociedade. A utopia não nos apresenta um projeto a ser realizado. A utopia aponta-nos diferentes caminhos, sublinhou. |
Fátima Vieira e Tiago Ramalho, representante do Grupo de Estudos Políticos, durante a conferência Utopia e Sociedade. |
21998 visitas O colóquio realizado na terça-feira, dia 18, passou por uma viagem literária sobre os vários autores que problematizaram esta temática, dando especial enfoque a Thomas More que a fundou enquanto género literário em 1516. Fátima Vieira, professora da Faculdades de Letras da Universidade do Porto ,partiu da crise instalada para caraterizá-la como um momento fulcral em que “ou ficamos no mesmo sítio, ou tentamos caminhar”, destacou. Ao definir as lógicas de intervenção da utopia, a docente elencou três funções a ter em conta no que toca a este tema. Crítica, compensatória e catalisadora. Crítica porque, como salienta, o importante “é questionar e indicarem-nos possíveis alternativas, dizendo-nos que não nos podemos resignar com aquilo que temos”. Compensatória, porque se estabelece de forma a alcançar o que procuramos. E catalisadora pelo seu apelo à mudança. Para Fátima Vieira, a sociedade vai-se modificando aos poucos, incorporando estes ideais utópicos. Partindo do exemplo do Bispo de Michoacán, Vasco de Quiroga, que impôs os seus ideais utópicos aos índios colombianos, mostra que a utopia pode desencadear em “princípios dos totalitarismos, a visão de um sobreposta aos outros”. Desenvolvendo que a “utopia é um ideal que nos pode fornecer, por um lado, a ideia de que aquele caminho pode conduzir-nos a algum lugar e, por outro, através da distopia, dizer-nos que aquele não é um caminho a seguir”, sustenta. À medida que vários indivíduos vão estabelecendo a utopia, o público vai-se envolvendo também nesse trajeto, desencadeando num avanço. A oradora realçou a importância da ideia de reforma, desde que seja com vista à utopia. Neste terreno, o pensamento utópico mostrará a sua verdadeira missão, isto é, de que forma as reformas poderão tornar-se produtivas, “em vez de taparem meros buracos”, aponta. O grande problema da política reformadora, segundo a conferencista, é exatamente esse: “Tapamos buracos, mas ficamos no mesmo sítio”. A ideia é aplicar medidas reformadoras com o objetivo de ter uma sociedade mais justa, defender o desenvolvimento sustentável, promover a solidariedade e a entreajuda. O caminho a seguir, na sua ótica, especialmente numa altura de crise, é recuperar a utopia filosófica que alimenta a ideia de uma sociedade mais justa. Sustentabilidade económica e social que acaba por implicar uma sociedade inclusiva. Assim, as utopias são uma reflexão sobre o presente, identificando aquilo que está mal e debatendo sobre os possíveis caminhos para superar os problemas. Numa altura em que muitas pessoas só pensam em sobreviver, a docente alerta que o mote está em “sobreviver e fazer a diferença”. E que há muita gente a fazer utopia sem o saber. Há muitas pessoas que contribuem diariamente para uma sociedade sustentável em todos os seus aspetos, ambiente económico e social, incrementando uma sociedade inclusiva, protegida e onde todos têm a oportunidade de ser mais do que meros sobreviventes. A convidada do Grupo de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UBI para esta conferência, Fátima Vieira, é a presidente da Utopian Studies Society Europe, desde 2006.
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