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Guia hospitalar desenvolvido na academia
Eduardo Alves · quarta, 5 de dezembro de 2012 · @@y8Xxv Um manual de atuação em caso de aplicações problemáticas de alguns fármacos hospitalares foi desenvolvido por dois investigadores da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior. Esta ferramenta, pioneira em Portugal, foi distinguida com o primeiro prémio da Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares (APFH). |
Marta Mendes e Manuel Morgado conseguiram o primeiro prémio da APFH |
21984 visitas Denomina-se “Manual de atuação em caso de extravasão de citotóxicos injetáveis. Medidas de prevenção, de atuação em caso de extravasão e de follow-up” e alcançou o primeiro prémio da APFH para 2012. Trata-se da primeira ferramenta de apoio à atividade hospitalar dedicada a este tema e escrita em português. Manuel Morgado, especialista em farmácia hospitalar no Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB) e professor auxiliar convidado da UBI e Marta Mendes, aluna finalista do mestrado integrado de Ciências Farmacêuticas, também da UBI, partilham a autoria desta investigação. Uma obra que “pretende ser um instrumento útil tendo em vista a prevenção, detecção e atuação padronizada, segundo linhas orientadoras atualizadas e recentes, dos profissionais de saúde quando se deparam com esta incomum mas crítica consequência da administração de antineoplásicos”, começam por explicar os dois investigadores. O especialista em farmácia hospitalar descreve os citotóxicos como “medicamentos utilizados no tratamento do cancro”. Manuel Morgado explica que “geralmente estes medicamentos são bastante mais agressivos para o organismo e o seu nível de toxicidade é também mais elevado que o comum dos fármacos”, daí a sua utilização ser feita em exclusivo, em ambiente hospitalar. Apesar de episódios problemáticos na administração destas drogas, como é o caso da extravasão, serem muito raros, “eles existem, daí a necessidade de um manual de procedimentos”. O projeto agora distinguido com um prémio de cinco mil euros surgiu na sequência de uma ideia para uma tese de mestrado de Marta Mendes. “A ideia inicial foi a de trabalhar um tema que estivesse ligado com o ambiente hospitalar. Ora sempre senti a necessidade de termos uma manual de atuação em caso de extravasão de citotóxicos”, acrescenta o docente da UBI. Dar forma ao primeiro manual hospitalar parece não ter sido tarefa fácil. A aluna da UBI aponta como principal problema, “a muita informação e, por vezes, contraditória”. A título de exemplo, “na maior parte das vezes, quando ocorre extravasão de citotóxicos tende-se a atuar com antídotos, isto para tentar travar os efeitos indesejáveis. A nível da literatura da área, os antídotos são muito contraditórios dizendo que para um determinado citotóxico se deve atuar com um antídoto, mas noutra literatura, para o mesmo caso apontava um antídoto completamente diferente. Foi muito complicado construir algo abrangente e cientificamente fiável”, atesta. Outro dos desafios está agora a ser ultrapassado. A divulgação do manual e a sua implementação como método de trabalho geral nas unidades hospitalares nacionais é a meta dos dois autores. Para tal esperam ter como parceiros, os laboratórios que fornecem os hospitais e a partir daí generalizar esta nova ferramenta. Uma forma de “colocar os hospitais a trabalhar de forma igual”, vai dizendo Marta Mendes. Num questionário feito pelos investigadores, a mais de quatro dezenas de unidades hospitalares, “verificou-se que muitos deles têm procedimentos diferentes, daí que se espere a adoção deste documento e assim termos as unidades a atuarem da mesma maneira”. Os dois autores deste trabalho garantem que a administração de fármacos antineoplásicos “desempenha um papel chave nos tratamentos adjuvantes e neoadjuvantes do cancro. Nos últimos anos, devido à crescente utilização de protocolos de quimioterapia e de administrações intravenosas de citotóxicos, tem-se verificado um aumento na incidência de fenómenos de extravasão”. Daí que o manual venha a constituir-se como uma ferramenta mais completa que colmata uma falha. O Prémio APFH consagra a prática profissional e a investigação dos farmacêuticos hospitalares portugueses e este ano, o nome do trabalho vencedor foi anunciado no decorrer do 15º simpósio nacional desta associação. |