“Vive-se um clima de intriga onde, a ambição e interesses pessoais imperam sobre o mais sagrado valor que tem que nortear o trabalho autárquico: a defesa intransigente do interesse público. Há uma conduta de liderança prepotente e despótica e a imagem de desnorte impera no executivo municipal”. Palavras que o vereador João Esgalhado, utiliza para descrever a vivência no seio da Câmara da Covilhã.
O até aqui responsável pela desmaterialização administrativa do departamento de urbanismo da autarquia, pela gestão de projetos como o do aeroporto regional, da mobilidade urbana, da zona histórica, da revisão do PDM da Covilhã, do parque de esqui urbano e do teatro municipal, votou contra a proposta de extinção da empresa municipal Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU). Um voto negativo que se juntou aos três dos socialistas e ao do também vereador social-democrata Pedro Silva, levou a que a proposta não tivesse a maioria e fosse recusada. Em pouco mais de duas semanas, a estabilidade da maioria social-democrata na edilidade serrana desmoronou e instala-se agora uma situação em que presidente e vereadores com pelouros não têm a maioria no órgão.
Esgalhado, que assume como um “divórcio nada amigável” o fim da ligação política a Carlos Pinto, diz que a extinção da SRU foi a gota de água que fez transbordar um copo que se vinha enchendo ao longo dos últimos anos. O vereador, sempre eleito pelo partido “laranja”, diz que neste último mandato já não detinha qualquer ligação ao urbanismo. A sua principal atividade centrava-se na SRU. Com a possibilidade do fim desta empresa municipal, o vereador sentiu “uma expressa desistência do projeto de reabilitação urbana”. A medida “tem na sua génese motivações encapotadas, que o presidente não quis assumir publicamente. Ambos sabemos claramente quais”. As críticas a Pinto continuam e levam mesmo o vereador, agora sem pelouros, a dizer que “hoje não existe uma equipa autárquica coesa, um projeto vivido e convivido dentro do executivo”. Mas esclarece também que “desde há anos que há uma ausência quase permanente do presidente na cidade, que se vem acentuando desde há muito. Sem que se prestem contas das razões, fundamentos, objetivos, custos e benefícios”. Considerando a conflitualidade real, inaceitável e insuportável, de âmbito pessoal, político e institucional, “que apenas pela rama identifiquei, e, considerando o ponto de situação atual de cada uma das missões que me estavam confiadas, não poderia estar disponível para assumir o sacrifício de manter por mais tempo esta ‘fachada’ de casamento de conveniência com a atual sombra daquilo que já foi uma brilhante equipa autárquica”, Esgalhado bate com a porta. Garante por isso que o despacho assinado no sábado passado pelo punho de Carlos Pinto, documento que lhe retira todos os pelouros, resultado do facto de Esgalhado não aceitar “mais deselegâncias, faltas de consideração e desrespeito pessoal ou político, prepotências ou abusos, sob a capa dos direitos de decisão inerentes ao exercício da presidência.”
Carlos Pinto reagiu à posição e declarações de Esgalhado através de um comunicado onde apresenta “públicas desculpas aos covilhanenses, por ter proposto este individuo para vereador, nas últimas eleições”. No documento, o social-democrata diz que levou, deste modo, “os cidadãos que em mim confiaram, a saber, agora, tratar-se de alguém que revela visível falta de qualidade pública, imaturidade política e inconsciência da responsabilidade da função. As declarações que proferiu em conferência de imprensa, são reveladoras de quem, há muito, se limitava a andar pela câmara, como mero funcionário, não se apercebendo da realidade atual e do muito que mudou no municipalismo em Portugal”. O presidente da autarquia serrana continua e descreve a intervenção do vereador como uma “ignorância, de quem nunca participou do centro nevrálgico da câmara” e que “está na origem dos maiores e mais desbocados dislates e ataques pessoais que me dirigiu. Acresce, a desilusão por não lhe ter reconhecido categoria para ser vice-presidente permanente e, ainda, lhe ter recusado apoio ou tolerar pelo silêncio, como desejava, uma sua candidatura às próximas eleições autárquicas, dada a sua notória impreparação política e falta de estatura para o cargo”, reitera.