A conferência conduzida pela investigadora da Universidade de Coimbra na área de Estudos Feministas nos Media, Rita Basílio Simões, decorreu num ambiente reflexivo e adaptou as questões que acompanharam a história do papel da mulher na sociedade ao longo dos anos, às práticas jornalísticas do momento.
A “transmissão por parte dos meios de comunicação de estereótipos de género”, e o poder influente quer da parte das organizações legislativas, quer das instituições como grande peso social, como é o caso das empresas mediáticas, foram as razões apontadas pela investigadora para justificar o atual papel de subalternidade das mulheres.
Rita Simões dividiu a sua apresentação em três sectores de análise à problemática e afirmou ter importância não só saber quem redige as notícias mas também analisar quem são os protagonistas, e quem são as fontes de informação. A oradora chamou a atenção para alguns exemplos de notícias desportivas protagonizadas por figuras femininas. “O problema é a utilização do corpo das mulheres como objeto sexual, é isso que as afasta da condição de sujeitos ativos da vida social ”, afirmou. Foi ainda abordado o tema da invisibilidade das mulheres que as faz adquirir junto dos cargos mais importantes, o estatuto de não-mulheres, mas pessoas do género feminino que se dedicam a assuntos maioritariamente masculinos.
A oradora comparouos resultados dos últimos dois estudos do Global Media Monitoring Project, a organização base de investigação das mulheres nas notícias em geral, referentes aos anos de 2005 e 2010, onde apesar da invisibilidade, se constata que a presença das mulheres nas notícias tem vindo a crescer ligeiramente. Verifica-se ainda que por cada notícia protagonizada por uma mulher, cinco são protagonizadas por homens, correspondendo maioritariamente a eles as ocupações e profissões importantes. Já 43 por cento dos trabalhos sobre personagens femininas correspondem a celebridades. Apesar de se falar numa feminização do jornalismo, o conteúdo das notícias continua a ser preferencialmente masculino, e foi nesse âmbito que surgiu como benesse uma possível análise sobre quem comanda as redações e se haveriam diferenças na produção noticiosa consoante o género de quem exerce essa função.
Como solução para este problema, Rita Basílio, propôs a prática de um “Jornalismo Inclusivo, estreitamente ligado a preocupações editoriais com a invisibilidade e aniquilação simbólica das mulheres e que passe pela alteração da linguagem e pela diversidade temática.” O projeto foi fruto de uma parceria do UBIgual (Plano de Igualdade de Género da UBI), da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) e do Departamento de Comunicação e Artes da universidade, e foi destinado preferencialmente a estudantes de Ciências da Comunicação da UBI, bem como jornalistas.