Urbi@Orbi - O que é ser nacionalista?
Tiago Ferreira Lopes - O nacionalista é acima de tudo aquele que defende a sua Nação. E a defesa da Nação é a defesa de um projeto cultural partilhado por todos, um projeto de identidade. Portanto as pessoas que conhecem a bandeira e os seus símbolos, conhecem o hino, ou as lendas e que as respeitam e transmitem, do ponto de vista real são nacionalistas, não são é nacionais extremistas.
Urbi@Orbi - Ser nacionalista não implica necessariamente que a pessoa esteja ligada a algo negativo?
Tiago Ferreira Lopes - O nacionalismo tem um espaço positivo de nos posicionar, de nos identificar e de nos permitir perceber quem é o outro que é semelhante a nós. E nós precisamos disso enquanto comunidade Humana.
Urbi@Orbi - Será devido a experiências do passado que a utilização do termo tende a estar aliada a violência ou atitudes indevidas?
Tiago Ferreira Lopes - É porque o nacionalismo normalmente só é estudado pelas suas manifestações mais violentas. Por exemplo uma guerra entre os Estados Unidos e Canada seria mais uma guerra entre elites, agora no caso de uma guerra entre a Macedónia e a Grécia seria uma guerra pelo Ser em que quem perdesse, perderia a sua identidade. Portanto uma questão à volta do nacionalismo é muito mais violenta, as pessoas lutam para se preservarem na sua totalidade. Já não é perder o espaço político que está em causa, é perder o seu “Eu”. É por isso que o lado violento e negativo do nacionalismo é o mais explorado, pois estamos a falar de lutas pela existência.
Urbi@Orbi - O aumento da onda de nacionalismo que se tem feito sentir nos Balças principalmente com a crise, deve ser encarado como um repetir da história ou como uma ameaça que poderá conduzir a uma 3ª Guerra Mundial? Afinal 1914 começou precisamente nessa região.
Tiago Ferreira Lopes - Estamos a repetir a história. Eu vou ser sincero, sou uma pessoa que vive muitas vezes no país dos Teletubbies (risos), mas não acho de todo que vá existir uma 3ª Guerra Mundial, por uma razão chamada política de Terror, que realmente funciona! Nós estamos numa fase em que há tanto poder destrutivo que não se destrói.
Mas os Balcãs são uma vez mais um potencial espaço de conflito, muito porque a Europa não só não soube resolver, como depois de 2007 não quis olhar o problema pois estava tão preocupada em crescer em tamanho, em crescer como comunidade mostrando que eramos um projeto viável que esquecemos de olhar para os problemas reais.
Temos por exemplo a Sérvia, que nas últimas eleições presidenciais passou a ter um presidente nacionalista. Temos a Macedónia, que tem endurecido muito o seu discurso nacionalista, construiu uma estátua de Alexandre, entre outros símbolos que tem disputado com a Grécia; e temos a própria Grécia, que por causa da crise económica está muito mais nacionalista.
Esse nacionalismo é perigoso se não soubermos olhar para ele. Os Balcãs uma vez mais podem voltar a 1914. Com muita facilidade degenera ali um conflito, e vimos que as guerras quando a Jugoslávia se desintegra foram duríssimas e violentíssimas, foi novamente um genocídio em plena Europa. Sim, os Balcãs podem incendiar um novo conflito, pelo menos na região, que por sinal é uma região muito complexa.
Urbi@Orbi - A resolução da crise económica representa a resposta ao problema?
Tiago Ferreira Lopes - Eu acho que não vai resolver tudo, a resolução da crise o que faz é aliviar as coisas, outra vez. O problema é que durante esses anos de boa fortuna económica, como não havia manifestações negativas a questão do nacionalismo nos Balcãs não despertou interesse. Então o que a economia faz, sobretudo, é aliviar as dores, pois o nacionalismo tende a acentuar-se quando não há dinheiro.
Urbi@Orbi - O caso espanhol, nomeadamente da Catalunha, em que difere dos Balcãs?
Tiago Ferreira Lopes - O problema com o País Basco já vinha de há muitos anos; agora de repente a Catalunha parece que se juntou à festa, isso porque é a região espanhola com mais dinheiro e neste momento sentem que o seu esforço é enorme, visto que são chamados a contribuir mais. Numa altura de escassez económica, em que há muitas incertezas, a Nação serve como forma de defesa com a ideia de criação de um espaço político “nosso”, que não nos roube dinheiro.
Urbi@Orbi - Ate que ponto pode representar uma preocupação para a UE? E que papel esta última pode e deve ter?
Tiago Ferreira Lopes - A Europa não está a saber lidar com a situação, não está a saber dialogar, está a agir como um agente incendiário devido a determinadas declarações proferidas, nomeadamente da expulsão da Catalunha da EU caso seja independentizada. Ora isso é ameaçar uma Nação, quando na verdade as Nações existem para serem protegidas.