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O ontem e hoje das promessas religiosas
Mauro Fernandes · quarta, 14 de novembro de 2012 · A Biblioteca Municipal convidou o antropólogo Alberto Correia para falar sobre o tema dos Ex-Votos, em mais uma troca de palavras. |
Quadros e Objectos em cera |
21949 visitas Em mais uma das habituais trocas de palavras levadas a cabo pela Biblioteca Municipal da Covilhã, o antropólogo Alberto Correia foi o convidado da última quinta-feira. A sua exposição debruçou-se sobre o tema “Ex-Votos - Ontem e Hoje”. Segundo o apresentador, o termo expresso no título refere-se às promessas de cariz religioso em que os pedidos são feitos de várias formas, e sempre direccionados a uma entidade superior. O evento começou com uma música do grupo de cantares grande roda, proveniente da freguesia do Teixoso. Após a actuação, foi a vez de Alberto Correia expor o seu trabalho. O cientista abordou o tema dos Ex-Votos para mostrar como eram feitas as promessas em tempos remotos, e como foram evoluindo até aos dias de hoje. Alberto Correia explicou na sua apresentação que o homem sempre teve a necessidade de sentir fé. É esta a razão pela qual “invoca entidades superiores, deuses ou santos, para se precaver das adversidades”. Recorrendo a tempos em que os Reis comandavam, esclareceu que já nessa altura os monarcas faziam juras. Estas promessas tinham como objectivo a sua proteção nas batalhas que travavam. Exemplo disso é o Mosteiro de Batalha, que foi resultado do compromisso feito por D. João I, como agradecimento à Virgem Maria pela vitória na Batalha de Aljubarrota. Era também vulgar uma mulher que se encontrava perante um filho ou marido doente doar parte do seu cabelo aos deuses. Nessa altura, o cabelo comprido tinha um grande simbolismo o que faria com que as mulheres se sentissem “despidas”. Oferecer ouro, objectos de cera como cabeças de crianças, pernas ou até animais, ou o peso de alguém em trigo eram atitudes habituais para aqueles que necessitavam de ajuda.Os animais eram parte integrante das famílias e por isso eram estimados, pois um animal lesionado comprometeria uma serie de tarefas. O voto comunitário era outra prática corrente. Tinha como objectivo garantir um bom período de lavoura, pois era daí que advinha o sustento dos agricultores. Os quadros eram também peças de Graça. Nas pinturas, os elementos era quase sempre os mesmos, uma pessoa debilitada deitada numa cama, a sua família que rezava e um anjo. Apesar da parecida composição dos quadros, estes tinham em si um grande simbolismo, ao ponto de indivíduos do Brasil virem entregar as suas telas a santuários portugueses. Nos dias de hoje ainda se continuam a fazer procissões, romarias a Fátima, e a cumprir as promessas à volta do Santuário de Fátima entre muitos outros actos. É de “Economia da Salvação” que o Antropólogo Alberto Correia conceptualiza este culto feito aos intermediários, entenda-se aos santos, de forma a conseguir alcançar a bondade de Deus. Tal como iniciou a troca de palavras, o grupo musical do Teixoso voltou, desta feita para encerrar o encontro, com a música “Teixoso das Tradições”. Para quem estiver interessado em assistir a estes palestras, de temas variados, basta estar atento ao programa que todas as segundas quintas-feiras de cada mês, a Biblioteca Municipal apresenta. |