O “Alfabeto do Desenvolvimento” é uma simbiose entre textos jornalísticos, académicos e fotografias com o intuito de “desconstruir a imagem que temos do outro e a cruzar elementos”, refere Liliana Azevedo, da Associação para a Cooperação Entre os Povos (ACEP).
“Chama-se alfabeto porque pegámos nas 26 letras que o constituem e atribuímos um conceito a cada uma para promover a discussão”, adianta a mesma responsável. O objetivo, sustenta, é debater e levar os estudantes universitários a apropriar este alfabeto e a divulgá-lo, desafiando-os a propor outros conceitos, promovendo uma interatividade. A representante da ACEP reitera a ambição de levar o alfabeto a outras geografias, como Moçambique, Guiné-Bissau, Espanha, Haiti e Togo.
A mesma responsável afirma ainda que “as pessoas estão na base de tudo, fazem a sociedade descer da estratosfera social e política”, focando-se “em si mesmas e na sociedade.” A finalidade é que este abecedário “possa servir para informar, comunicar, refletir e debater o que é possível mudar numa altura em que há uma crise do modelo de desenvolvimento. Devemos assumir que temos influência de outros, ir buscar contributos de outros e que o objetivo é dar o mote para que sociedade continue este desenvolvimento multidimensional”, complementa.
Alcides Monteiro, autor do texto subordinado à letra ‘R’, intitulado ‘Rede’, ficou surpreso e agradado com a seleção da fotografia do jornalista Paulo Pimenta que representa um jovem com trissomia 21 a andar de metro, mostrando assim como este cruzamento de perspetivas “convoca a atenção para o inesperado e para um olhar que potencia várias leituras”. Segundo refere, a surpresa deve-se ao “modo como ele explora de forma inesperada a metáfora da ‘rede’, sendo que a leitura da mesma não é imediata e, depois, se revela numa amplitude de significados possíveis, mas onde o conceito de ‘rede’ está sempre presente”. Considera ser este um fator de alavanca para o desenvolvimento, pois “integra na ‘rede’ um sujeito em representação das minorias e dos grupos mais desfavorecidos, normalmente arredados das redes e parcerias, onde as decisões, inclusive sobre a sua vida e destino, são tomadas e protagonizadas”.
O “Alfabeto do Desenvolvimento” é o resultado de uma parceria ente a ACEP, o Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento (CEsA) e a Associação In Loco.
O início da itinerância, após a apresentação em Lisboa, deu-se na Universidade da Beira Interior. A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas recebeu entre os dias 23 e 26 de outubro a exposição composta por 26 painéis com fotografias e excertos de dois textos, um de origem académica, outro de natureza jornalística, acompanhados de uma fotografia. Cada tela tem uma letra do alfabeto, a partir da qual foi desenvolvido um conceito. O objetivo é que seja apenas um ponto de partida para a formulação de novas conceções, através de uma interatividade entre estudantes nas áreas da Cooperação Internacional, Relações Internacionais e Comunicação Social, investigadores e jornalistas.
A exposição foi aberta com um debate que contou com a participação de Liliana Azevedo da organização, de Alcides Monteiro, docente da UBI e colaborador do livro, de Graça Rojão, responsável pela CooLabora e de Fernando Paulouro, diretor do Jornal do Fundão.