Na produção de «EntreTecer», Maria Belo Costa, diretora do espetáculo, inspirou-se na pesquisa desenvolvida com os habitantes de São Torcato, Guimarães, Lentiscais e Taberna Seca. A atriz destaca no trabalho de investigação o caráter da capacidade de esquecimento. “As pessoas têm pouca consideração pelas suas próprias memórias (o que eu não me lembro não tem importância)”.Maria Belo explica que é mesmo este o ponto fulcral de «EntreTecer». “A teia é feita de coisas insignificantes que são importantes. Tudo se liga e tudo está ligado”.

Rui Sena, director artístico da Quarta Parede, sublinha também essa ideia, pois “pode ser interessante para mostrar que há certas situações que continuam na nossa memória apesar de já não serem utilizadas.”A concepção artística de «EntreTecer» - apelando à memória colectiva e identidade singulares – serve também, como refere Rui Sena, “para recordar que é um tempo demasiado curto que decorreu junto de nós”, mas, “parece um tempo tão longínquo que já nem nos lembramos de como a sociedade era”.

No cruzamento e contaminação de “artes indisciplinadas”, como caracteriza Rui Sena as artes performativas (teatro, música, dança e vídeo), surgem “novos olhares na arte contemporânea”. Esta tem, para o diretor artístico, essa capacidade de, a partir do passado, projetar e construir o futuro. Rui Sena descreve, o processo “passa por unir as linhas com a memória, as histórias, as vivências das pessoas”. É isso que define o caminho percorrido pela Quarta Parede, “é extremamente desafiante saber que a partir da memória podemos construir um espetáculo contemporâneo”, considera.

“Este espectáculo aconteceu a partir de muitos momentos fortes e especiais, de muitos encontros”, refere Maria Belo. Por isso mesmo, a atriz espera que o espetáculo multidisciplinar «EntreTecer» “seja um encontro entre nós e quem vê”. Motivo apontado por Rui Sena para o balanço de dez anos de atividade criativa da Quarta Parede. O diretor artístico da companhia exprime o desejo, “mais interessante do que dizer se são positivos é que continuem a acreditar no nosso trabalho para podermos continuar a estar perto das pessoas”.