A web 2.0 está a mudar a forma como os cidadãos se relacionam com a política. A possibilidade de partilhar conteúdos, de dinamizar um blogue ou de criar um perfil numa rede social, permitiu novas formas de acesso ao espaço público, mas abriu igualmente novos canais de comunicação entre políticos e eleitores. Dois exemplos desta nova forma de relacionamento são a campanha de Barack Obama, em 2008, ou a utilização que o atual Presidente da República, Cavaco Silva, faz das redes sociais.
Mas como aproveitam os políticos estas novas funcionalidades? Esta foi uma das várias questões colocadas num debate realizado na UBI no dia 12 de Outubro, no âmbito da conferência internacional “Political participation and Web 2.0”.
Rosália Rodrigues, coautora da apresentação “Comunicação Política 2.0: novos desafios para uma arte vetusta”, diz que a informação política transmitida nos sites dos partidos é, em grande parte, mais dirigida aos ativistas políticos que ao cidadão normal. Acrescenta ainda que na maior parte dos sites, os espaços de comunicação destinados aos cidadãos não são utilizados. Esta afirmação é confirmada por Paulo Serra, que relata como enviou um e-mail igual aos cinco partidos políticos principais, em época de campanha, e somente de um deles recebeu resposta, e apenas três meses depois.
Apesar disso, na Web há bons exemplos de real abertura ao público, como se verifica no Portal do Governo, onde todos podem sugerir um tema para debate: posteriormente, a proposta mais votada pelos visitantes da página ganha espaço de discussão na Assembleia da República, acrescenta Rosália Rodrigues.
Outra das questões abordadas foi a da intencionalidade na utilização do meio, visando passar a imagem pretendida. Rosália Rodrigues salienta que Cavaco Silva utiliza as redes sociais, porque na televisão as suas declarações são habitualmente mal recebidas pela opinião pública.
Na comunicação “Soundbite: a política em frames” Nuno Francisco realça a importância que a imagem e o meio têm na era da televisão. A incidência da iluminação, a expressão corporal adotada, as indumentárias escolhidas e as palavras usadas procuram criar uma imagem positiva no público e, principalmente, de captar tempo de antena nos restantes meios de comunicação. Afinal, foi já o pormenor da imagem transmitida que, em 1960, fez com que Nixon perdesse o debate com Kennedy. A vitória do debate foi marcada mais pela imagem transmitida do que propriamente pelo que foi dito, conta Nuno Francisco, no decorrer da comunicação “Soundbite: a política em frames”. Quem ouviu o debate na rádio descreveu-o como equilibrado ou chegou a atribuir a vitória a Nixon, mas os telespectadores não tiveram dúvidas em eleger Kennedy como o vencedor, acrescenta. Na verdade é fácil verificar a diferença, remata Nuno Francisco: Nixon tinha estado doente, encontrava-se pálido, mancava ligeiramente, não se preocupou com o vestuário e recusou-se a usar maquilhagem. Já Kennedy estava bronzeado, bem apresentado e maquilhado. No decorrer do debate, Nixon suou muito devido ao calor do estúdio e à ausência de maquilhagem, ao passo que Kennedy manteve-se sempre bem.
Esta discussão acerca da comunicação política através da web 2.0 aconteceu associada à apresentação da investigação “New media and politics: citizen participation in the websites of portuguese political parties”, um projecto do Labcom com financiamento da FCT que arrancou recentemente, sendo que entraram no debate alguns nomes sonantes da área, tais como Peter Dahlgren, da Suécia e Joaquín Lopez del Ramo, de Espanha.