A prototipagem é uma metodologia que de forma crescente tem vindo a ser utilizada para efeitos de planeamento do espaço, em especial, o ambiente urbano de conglomerados populacionais complexos. A falta de densidade produtiva e populacional do território da Cova da Beira obriga-nos a refletir sobre formas inovadoras de simular e planear o espaço, quer seja ele parcialmente urbano, quer seja predominantemente rural.
O objetivo da prototipagem do espaço é desenvolver uma plataforma integradora para o planeamento, a conce(p)ção e a gestão ambiental, no sentido de garantir a consecução de investimentos de forma sustentável, baseados na aplicação de tecnologias avançadas de prototipagem virtual, que permitam perspetivar, retificar e abordar de forma disruptiva a organização do espaço e das redes de pessoas, transportes, bens e serviços.
Nesta linha de pensamento, o misto de espaço urbano e rural que prevalece na organização territorial da Cova da Beira, carece de ser revisitado, sob uma lente evolucionária, por investigadores e outros profissionais ligados à gestão do território.
A recomendação pontua-se, em termos desejáveis, por abordar o espaço como um ser vivo, que ultrapassa várias fases de existência e desenvolvimento, nomeadamente, o nascimento, o crescimento, a maturidade, o declínio resiliente e a morte.
É de sublinhar que as instituições dedicadas à produção de conhecimento têm uma responsabilidade acrescida na produção e subsequente transferência de conhecimento, no que respeita a abordagens inovadoras de simulação virtual e organização do espaço, sob uma perspetiva de inovação e competitividade territorial.
Nos trilhos inexplorados da simulação e realidade virtual, será possível usar o grande poder computacional e as capacidades de rede, direcionáveis para a aplicação de algoritmos inteligentes de decisão, que incorporem critérios científicos de análise e mapeamento de fluxos de comunicação e mobilidade no espaço urbano e rural, no sentido de criar um ambiente propício à determinação da localização e também da dimensão óptima de investimentos públicos e privados.
A prototipagem do espaço permitirá identificar hubs de inovação e vasos comunicantes, que poderão irrigar o misto de território urbano e rural, de seiva rejuvenescedora. Essa seiva tem de ser salvaguarda por uma nova política territorial de ordenamento competitivo do território, a qual deverá estar baseada nas simulações e replicações proporcionadas pela realidade virtual e estar preferencialmente articulada com o mapeamento de clusters industriais que gerem postos de trabalho e riqueza para um território que sobrevive muito mal às agruras de uma crise económica e social completamente devastadora. Aos fazedores de políticas públicas recomendam-se doses reforçadas de ação e determinação na definição dos principais conglomerados de atividades produtivas. Sabe-se que não se fez o suficiente para atrair mais investimentos catalisadores do crescimento endógeno, não necessariamente à custa de capitais públicos, e reconhece-se também uma incapacidade negocial para prototipar de raiz novos clusters industriais com dimensão internacional, que vão nascendo em outras regiões deprimidas, como por exemplo, o Alentejo, e que lamentavelmente não foram acolhidos e dinamizados neste território.
Não se trata de preferir voos mais altos, mas sim de utilizar a capacidade humana e tecnológica instalada, a favor do bem-estar social e do interesse público dos cidadãos que povoam um território em declínio resiliente e que depende quase exclusivamente das transferências diretas do Estado. Essa dependência não nos proporcionará um futuro risonho, porque irá tolher definitivamente a fraca competitividade territorial, que não será revertida sem abordagens inovadoras em matéria de prototipagem do espaço e clusters industriais. Contudo, vários dilemas terão que ser superados, um dos quais (e ao qual voltarei oportunamente) corresponde ao velho dilema de causalidade do ovo e da galinha, primeiro surgem as incubadoras de negócios de base tecnológica ou os parques de ciência e tecnologia de perfil regional?
João Leitão
Universidade da Beira Interior e Centro de Estudos de Gestão do Instituto Superior Técnico