Economia da cultura foi o tema abordado pelo Professor Catedrático do Departamento de Gestão e Economia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, José Pires Manso. O auditório de reuniões do núcleo da Real Fabrica Veiga do Museu de Lanifícios foi o palco escolhido para esta palestra, que decorreu no passado dia 27 de setembro.
Contando com a presença do reitor João Queiroz e do diretor do museu, António dos Santos Pereira, o professor catedrático da Universidade da Beira Interior focou a sua palestra em vários pontos essenciais. A economia da cultura no mundo, na Europa e em Portugal, a cultura como um sector estratégico e as vantagens competitivas que esta pode trazer para Portugal foram os principais pontos abordados.
«A economia da cultura é um ramo da economia que se importa com os aspetos económicos da criação, da distribuição e do consumo da cultura”, e estende-se a áreas como, o teatro, o cinema, a música, estando ligada a instituições como os museus ou salas de espectáculos. Devido à atual conjuntura, “seria importante saber se a cultura traz economia”, refere o diretor do museu, António Santos Pereira.
Durante a sua conferência, José Pires Manso mostrou que é importante interligar a economia e a cultura. Segundo dados do Banco Mundial, em 2003, a cultura representava sete por cento do PIB mundial. Nos Estados Unidos, a cultura é a principal fonte exportação, mostrando-se esta como um forte setor económico. Na União Europeia, em 2006, a cultura representava 2,6 por cento do PIB, chegando a gerar 652 biliões de euros em 2003, segundo dados da Economia da Cultura na Europa, publicados no ano de 2006.
Segundo José Pires Manso, a cultura poderá ser considerada um sector estratégico a nível financeiro, pelo seu dinamismo, pela geração de produtos com alto valor acrescentado, pela criação de emprego e pelo baixo impacto ambiental. A cultura tem um impacto positivo também noutros sectores, como no comércio, na venda de aparelhos eletrónicos, como computadores ou leitores mp3. Pires Manso defendeu que a cultura é também importante para a formação de modos de vida, de mentalidades e identidades, e para a promoção da inserção da cultura nacional em outras culturas.
Portugal, comparado com outros países da União Europeia, segundo os dados apresentados pelo professor José Pires Manso, ainda se encontra muito aquém das expectativas, apesar de nos últimos anos a cultura ter vindo a verificar um certo crescimento. Em Países como a Holanda, França, Espanha, Itália e Inglaterra, a cultura tem um enorme peso, chegando na Inglaterra a representar 8,2 por cento do PIB nacional, em 2004.
A aposta na cultura, do ponto de vista económico, pode trazer a Portugal uma série de vantagens competitivas. A cultura permite uma facilidade de absorção de novas tecnologias e permitirá que profissionais de alto nível de qualificação possam exercer as suas funções, gerando assim mais emprego e mais receitas. Sendo Portugal um país rico em património, permite a valorização deste, bem como a valorização da sua gastronomia e artesanato. Para além disso, Portugal, pela sua localização geográfica, pode ser o destino escolhido para competições de vela ou remo. Festivais internacionais de música também atraem diversos visitantes. Em suma, todo este conjunto de fatores “pode contribuir para a cultura ser um forte dinamizador da economia”.
Quando confrontado com o facto de a actual organização do Estado português não contemplar um ministério da cultura, o catedrático recorda que mesmo quando havia a existência de um ministério destinado à cultura, o orçamento reservado a este sempre foi diminuto, estando muito aquém daquele que é recomendado pela UNESCO. “Atualmente com a atual conjuntura de escassez, no que diz respeito à cultura, os governos retraem-se. Mas mesmo assim, sem esses apoios, imensas iniciativas culturais vão para a frente, como por exemplo os festivais internacionais de música que ajudam também a que nossa cultura seja reconhecida lá fora”, remata José Pires Manso.
A palestra Economia da Cultura está incluída no ciclo de conferências “Tardes de Quinta no Museu” que irá decorrer, todas as últimas quintas-feiras de cada mês, no Museu de Lanifícios. Esta iniciativa permite a investigadores darem voz às suas pesquisas relacionadas com cultura, e por outro lado complementar o ensino dos estudantes. Este ciclo de palestras poderá ainda ser acompanhado na revista Ubimuseum, revista do Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior.