Bem no centro da capital angolana cresce uma torre de habitação com 26 pisos. Este edifício faz parte do complexo Sky Center que contempla outras estruturas. Na direção desta obra está Miguel Rogeiro, antigo aluno da Universidade da Beira Interior. A trabalhar em Luanda desde 2007, este quadro da Teixeira Duarte já esteve envolvido em várias obras de reconhecido valor como a construção de um entreposto alimentar com uma área de nove hectares e também o edifício sede do Instituto Nacional de Comunicações de Angola.
O jovem engenheiro é apenas um entre muitos recursos humanos qualificados na área da Engenharia Civil, pela UBI, que operam um pouco por todo o globo. Este antigo aluno, vencedor da edição de 2004 do Prémio Secil, com o então colega e agora docente da academia, Clemente Pinto, sempre mostrou grande interesse pela área. Antes mesmo de ingressar na instituição de ensino superior frequentou um curso técnico e desenvolveu ligações à empresa local António Ascensão Coelho & Filhos. Foi precisamente esta empresa local, onde trabalhou durante três anos, que o levou a iniciar carreira como diretor de obra. Um percurso que o torna capaz de avaliar o curso de Engenharia Civil, de várias vertentes. Para Miguel Rogeiro, “a formação na UBI é boa em toda a parte teórica do ensino e de todo o ambiente que circunda junto da maioria dos colegas e docentes, criando-se cordialidade nas pessoas e isso reflete-se nas relações e no desempenho do dia a dia”. Ainda assim, o jovem engenheiro aponta o facto de, numa forma geral, “em todas as universidades, as licenciaturas são menos boas na parte prática, ou seja, a componente de obra e de toda a sua gestão e controlo, dado que esta é á área para onde vêm a maioria dos licenciados em Engenharia Civil”. Rogeiro recorda que aquando dos seus estudos “existia apenas uma cadeira sobre este tema que é vital para a maioria dos licenciados deste ramo da engenharia. No meu caso tive vantagem pelo facto de vir do ensino técnico profissional, onde aí é ao contrário mais prática e menos teoria, com o objectivo de preparar técnicos para o mundo profissional.
Sandra Reis é outro dos exemplos do reconhecimento da formação ubiana. Atualmente a trabalhar no Reino Unido, esta engenheira aponta para a boa estruturação e reconhecimento nacional do curso de Civil, na Covilhã. “Em contacto profissional e pessoal com outros colegas da área, mas de outras universidades é notória a qualidade e conhecimento técnico dos nossos engenheiros, daí que a UBI tenha muitos casos de sucesso espalhados por todo o mundo”, sublinha. O ingresso no mercado de trabalho foi uma consequência disso mesmo, com o responsável pela empresa a ser também um antigo aluno da UBI, a qualidade da formação na academia beirã “foi logo reconhecida”. Também Miguel Rogeiro faz questão de referir esta tónica. Para o engenheiro a trabalhar em Angola, “a preparação adquirida ao longo do curso foi a suficiente, dado que nos transmitiu os conhecimentos necessários e nos ensinou a procurar soluções dependendo depois da dinâmica e análise de cada um. Nas universidades adquirem-se conhecimentos e aprende-se a pensar e a saber que os problemas têm sempre uma solução”.
Gabriel Travasso é um dos mais recentes engenheiros formados nas salas da academia. Com o curso terminado em 2009 foi tempo de procurar trabalho num sector que já então mostrava sinais de crise. Contudo, a referência da Universidade da Beira Interior acabou por se tornar uma mais valia para conseguir um lugar numa empresa de construção. Da formação, este engenheiro partilha das opiniões dos colegas e lembra também que “o curso conta com variados laboratórios de pesquisa e investigação, os quais são, sem dúvida, bastante úteis para a nossa formação enquanto engenheiros.
O corpo docente é bastante heterogéneo e existem grandes especialistas, nacionais e estrangeiros, que vieram ajudar na criação do curso, dando nome e qualidade ao mesmo, como conta também com professores mais jovens, alguns formados na casa, e que são o futuro do curso. Desta forma não penso que um engenheiro formado noutra instituição tenha mais capacidades, ao sair do ensino superior, que um formado pela UBI”.
Estes três exemplos de recursos humanos mostram a qualidade de formação que tem vindo a ser promovida. Os responsáveis acreditam que esta é uma das principais marcas da universidade e pesou, com toda a certeza, na mais recente atribuição da Marca Europeia de Qualidade EUR-ACE. Um reconhecimento dado pela Associação Europeia de Acreditação em Engenharia e que vai permitir a todos os diplomados pela academia o reconhecimento profissional legitimado com a garantia de qualidade de formação, em todo o espaço europeu. Mas, para os responsáveis por este mestrado integrado, acaba por ser mais um indicador a juntar-se a outros tantos, como o elevado grau de empregabilidade e o reconhecimento deste tipo de curso, no quadro nacional. Para além disso é também uma forte ajuda a todos quantos queiram enveredar por uma carreira internacional. Sandra Reis recorda que nunca sentiu necessidade de sair de Portugal, mas apesar de ter emprego, a proposta de trabalho do marido acabou por levá-la também para o Reino Unido. “Um mercado bastante diferente do português”, como a própria indica. “A entrada para o mercado do trabalho não foi tão rápida quanto desejada, cheia de burocracias e com requisitos em formação obrigatórios, nomeadamente em Higiene e Segurança no Trabalho. Não que a nossa formação como engenheiros civis ou experiência não seja reconhecida, mas porque o mercado de trabalho é de difícil entrada, principalmente para uma mulher a concorrer para obra. Ao contrário da imagem que os Ingleses passam para fora, não e normal terem mulheres com cargos de gestão de obra”. Ultrapassadas as primeiras dificuldades, “é notória a nossa qualidade técnica como engenheiros”.
Miguel Rogeiro abraçou o trabalho em Angola “como um desafio pessoal e profissional”. Passados alguns anos, feito o balanço de prós e contras, este engenheiro civil lembra que tomou a sua decisão “numa altura em que não se falava tanto em emigração como hoje se fala, antes era um desafio, hoje é uma necessidade e uma solução para a maioria dos licenciados. No entanto, custa muito largarmos quem mais gostamos quer a nível pessoal quer também a nível profissional quando estamos bem, dado os riscos associados a uma mudança. Nestes momentos temos de pensar menos com o coração e mais com a realidade e sentido prático das decisões para o nosso futuro. Um cenário que Gabriel Travasso acabou por encontrar de forma diferente. Depois de ter enviado cerca de uma centena de currículos para empresas de várias áreas acabou por começar a trabalhar na única que lhe respondeu. Na entidade, com sede em Sintra, “a instituição de ensino onde me formei pesou na decisão final de me terem aceite”, recorda. “Um dos pontos que era exigido era o facto de ser um curso com acreditação na Ordem dos Engenheiros, o que era o caso, e o que mostra ser uma grande mais valia do curso”, lembra o engenheiro atualmente a trabalhar na Argélia, como diretor de projeto, opção tomada depois de um ano de trabalho em Portugal. “A empresa tinha acabado de ganhar uma obra num mercado novo, a Argélia, e decidiu convidar-me, e apostar em mim para ajudar na gestão da obra e ao mesmo tempo montar a empresa neste país, que há data ainda não existia. Foi uma oportunidade que não podia deixar escapar, pois já naquele tempo havia uma crise na construção e previa-se, tal como está a acontecer, que se viesse a agravar”.
O negro cenário que se regista em Portugal é assunto abordado também por Rogeiro. Desde Luanda, um dos locais em maior expansão atualmente no mundo, o engenheiro covilhanense vê o estado da área, em Portugal, “muito mau, dado que com o agravar da crise existe sempre a tendência para o aproveitamento por parte da grande maioria das entidades para o trabalho muitas vezes precário e sem nenhum reconhecimento e sem qualquer tipo de preocupação na aposta e na construção de uma sociedade melhor, sendo a única preocupação o seu ganho próprio, muitas vezes com os atropelos a tudo e a todos”.
Mesmo neste cenário, estes embaixadores da academia continuam a apoiar os futuros alunos, com alguns conselhos como o “aprender a saber fazer e ter a máxima responsabilidade no desempenho das suas funções e não se cansem de procurar uma oportunidade para consolidarem estes factores. Se para isso tiverem de emigrar arranquem de forma destemida e não pensem muito para que não se interroguem de tudo e de todos, pois assim vão ficar a vida toda em interrogações, dúvidas e receios”, diz Miguel Rogeiro. A emigração parece ser uma das notas mais sonantes no discurso destes três antigos alunos que agora desenvolvem trabalho em vários pontos do globo. No caso angolano, em 2007, “que eu conhecesse existiam dois ou três antigos alunos da UBI, atualmente posso afirmar que estão 20 a 30 licenciados em engenharia na UBI, na sua maioria engenheiros civis colocados nas grandes empresas de construção portuguesas. Este facto demonstra a importância cada vez maior que a UBI ganha na colocação de licenciados em grandes empresas e a sua internacionalização associada”, aponta. Gabriel Travasso partilha algumas das opiniões do antigo colega e lembra que “há cada vez mais empresas a sair do País e a apostar em mercados em grande expansão, como é o caso da Argélia, Angola, Brasil, Moçambique, entre outros. Isto faz com que as empresas necessitem de recrutar gente e mesmo jovens recém licenciados”.
Com o cenário profissional em baixa, os responsáveis pelo departamento acreditam que a procura por este tipo de formação não vai diminuir na instituição. Sobretudo, “porque os estudantes começam agora a procurar com mais atenção as instituição mais fiáveis”. Há algum tempo que tem vindo a ser construída uma base de dados com todos os contactos e passos profissionais dados pelos alunos que se formam na UBI. Para além das taxas de empregabilidade, acima dos 95 por cento, “os alunos tem conseguido colocações nas melhores empresas e acabam também por ter uma colocação estável”. Neste momento, a partilha de informações entre os novos alunos e os engenheiros formados na Covilhã é mais uma forma encontrada pelos orientadores desta formação para dará conhecer melhor as potencialidades do curso.