Urbi@Orbi - Qual a importância do terceiro lugar conquistado na final internacional do Imagine Cup 2012?
Luís de Matos - Ver Resposta - Primeiro, foi a primeira vez que Portugal conseguiu esta classificação a nível mundial, e depois é um prémio internacional que é algo que nos faltava, tínhamos muitos prémios nacionais mas em termos internacionais faltava-nos alguma coisa. Agora comprovou-se realmente que o projeto também tem viabilidade internacionalmente. E depois, a principal questão é que nós produzimos o nosso projeto com tecnologia Microsoft e foi ganhar precisamente na casa que desenvolve a nossa tecnologia. Portanto, é comprovar mais uma vez que nós estamos a trabalhar bem.
U@O - Até se conhecerem os vencedores, os projetos passaram por três fases, nas quais foram selecionados primeiro os vinte melhores, depois os seis finalistas e por fim os vencedores. Acreditou sempre que o wi-GO ia passar as várias etapas e atingir a final?
LM - Ver Resposta - O processo de seleção foi bastante duro porque nós chegámos a uma segunda-feira às cinco da manhã, não tínhamos quarto de hotel, não tínhamos absolutamente nada. Nós levámos dois protótipos e quando começámos a desmontar os protótipos, um deles estava completamente destruído e o segundo estava bastante danificado, ou seja, tivemos que durante aquele dia reaproveitar e montar os protótipos para realmente apresentarmos. Porque uma coisa era apresentarmos com vídeos, outra coisa era apresentarmos com o protótipo real para que o júri percebesse a ideia. Felizmente conseguimos aproveitar um protótipo, mas foi muito difícil. E depois desse processo, tendo chegando às cinco da manhã, nós só nos conseguimos deitar nesse mesmo dia por volta da meia-noite, uma da manhã, e já tínhamos vindo de uma viagem de mais de quarenta e oito horas, ou seja, nós não tivemos tempo para descansar. Para além disso, sempre que apresentávamos num dia, apresentávamos de manhã e às dez da noite anunciavam quem passava, anunciavam os finalistas. Quando chegávamos ao hotel à meia-noite já tínhamos um email com feedback daquilo que devíamos alterar para o outro dia na apresentação. Quem ficava eliminado não tinha que fazer mais nada, mas quem era selecionado tinha sempre que alterar a sua apresentação consoante o feedback do júri. Foi o nosso caso, ou seja, apresentamos para os vinte, fomos selecionados para os vinte, depois voltámos a apresentar, voltámos a receber feedback, passamos para os seis finalistas, depois dos seis finalistas voltámos a apresentar e aí já não nos deram feedback, mas desses seis finalistas escolheram os três vencedores. Desde o primeiro dia que chegamos até ao último dia, nós não tivemos um único dia de descanso.
U@O - Embora tenham conquistado um lugar no pódio entre os muitos projetos em competição, considera que o wi-GO poderia ter sido o grande vencedor?
LM - Ver Resposta - Acredito que o projeto podia ter alcançado uma classificação melhor para além do terceiro lugar, mas também acredito que era muito difícil, porque se pensarmos que competimos contra todos os países a nível mundial, percebemos que há países que investem milhares de euros. Nós vimos perfeitamente pelos stands e pelos protótipos que eles levavam, pelo trabalho, que tinham muito dinheiro envolvido. Por exemplo, as equipas americanas, eles começam a preparar o Imagine Cup logo desde o primeiro dia que acaba o Imagine Cup do ano anterior, ou seja, eles têm um ano para trabalhar e são pagos para isso por bancos americanos. Nós temos noção que em termos financeiros eles têm muito mais capacidade. Mas houve ali uma fase que nós acreditámos que podíamos ganhar, ou seja, o segundo lugar nós não percebemos, o primeiro lugar percebemos, mas é daqueles projetos que nós temos duvidas se serão aplicados, ou seja, tem viabilidade económica, é eficaz, mas muito dificilmente será aplicado e depois temos o nosso que ficou em terceiro lugar. Mas pronto, nós temos sempre aquela esperança de alcançar mais, não é?
U@O - Referiu o investimento que é feito por parte de algumas equipas que participam na competição. Considera que faltaram apoios à sua equipa e ao projeto?
LM - Ver Resposta - Faltou muito mais apoio. Quando tu tens só software é mais fácil porque tu não tens que comprar material, mas a partir do momento que nós temos que apresentar um protótipo é necessário comprar material. Se não fossem os prémios e a nossa capacidade de nos financiar não tínhamos conseguido levar o protótipo, porque nós estamos a falar de um protótipo que ainda custa algum dinheiro. Por exemplo, nós na última semana tivemos que comprar um kit, porque algumas experiências que nós fizemos não deram resultado. Nós estamos sempre limitados, porque se nós comprássemos logo o material todo, se tivéssemos muito dinheiro conseguíamos aplicar diretamente e conseguíamos ver logo resultados práticos. Mas como compramos uma solução para testar, só quando não funciona é que podemos comprar outra. Não vamos comprar várias coisas quando não temos capacidade financeira. E na última semana, por exemplo, só para comprarmos motores e sensores foram quinhentos euros só para aquele pack. Então foi muito complicado, essa capacidade financeira, para nós foi dos nossos bolsos e dos prémios. Basicamente se não fosse isso não tínhamos conseguido levar um protótipo.
U@O - Qual é a sensação de representar Portugal num evento desta dimensão com tantos países envolvidos?
LM - Ver Resposta - A sensação de representar o nosso país é brutal. Ficamos tristes porque o país depois não nos dá esse reconhecimento e não nos valoriza, e isso a nós custa-nos. Pensarmos que fomos os primeiros a conseguir o pódio na maior competição de tecnologia a nível mundial... Eu vou-te dar um exemplo, o pessoal que ganhou o ano passado, a Irlanda, depois de ter ganho foi recebido pelo Presidente da República. O que é que em Portugal, na comunicação social nacional, tu viste em termos de difusão? Não viste absolutamente nada. Não é que nós queiramos ser conhecidos, não é por nós, mas é pelo projeto e por aquilo que se desenvolve em Portugal, pelo fato de a tecnologia portuguesa ser reconhecida mundialmente. Eles não mostram isso, ou seja, Portugal não tem capacidade de se vender lá fora. Agora representar Portugal, ainda por cima a nossa Universidade, é fantástico para nós.
U@O - Quando teve a ideia e começou a desenvolver o projeto wi-GO, pensava que um dia viria a representar Portugal e a ser considerado um dos melhores projetos tecnológicos do mundo?
LM - Ver Resposta - Eu comecei o projeto no final de 2010, mas começou a ser desenvolvido realmente em meados de Fevereiro, Março de 2011. Concorri pela primeira vez a um concurso, tivemos sorte, ainda nem havia protótipo, ainda não havia nada, havia apenas uma ideia e ganhámos logo o primeiro concurso aqui na universidade. Portanto, logo a partir daí eu comecei a ver que o projeto podia ter pernas para andar e para ser muito mais do que um projeto universitário. Depois, com o passar do tempo, com os vários prémios que temos ganho...Mas sem dúvida alguma que eu nunca esperaria que isto tomasse as proporções que tomou. Atualmente nós temos uma empresa criada, temos uma equipa de trabalho e temos muitas pessoas interessadas no nosso trabalho. Isto tomou proporções realmente muito grandes, mas agora no futuro vamos ver.
U@O - Que portas se abrem ao projeto com mais esta vitória?
LM - Ver Resposta - Esta vitória permitiu-nos, basicamente, reconhecimento internacional, como eu já mencionei, mas abriu-nos muitas portas da Microsoft. Como nós utilizamos tecnologias deles, nós precisamos, para quando fomos produzir em massa, que vamos produzir, vamos prototipar o wi-GO em massa para vender, internacionalmente e nacionalmente, precisamos deles, nós precisamos do contato deles. Utilizamos as licenças, utilizamos a câmara deles, precisamos deles obrigatoriamente. Essas portas abriram-se agora. Nós agora não precisamos de contatar terceiros, nós podemos contatar os Vice-Presidentes da Microsoft Corporation em Redmond, ou seja, essas portas abriram-se. E houve também muito pessoal da área do retalho a quererem conversar connosco depois disso.
U@O - É no contexto desses contatos que surge a ida a Atlanta e a participação na Microsoft's Marketing Conference (MGX)?
LM - Ver Resposta - A ida a Atlanta surgiu ainda em Sidney. Ainda não sabíamos que éramos um dos três finalistas e a Microsoft convidou-nos para ir a Atlanta. Porquê? Porque eles fazem anualmente uma conferência interna, só para empregados da Microsoft, só para os diretores gerais da Microsoft em termos mundiais, ou seja, juntam ali quinze mil diretores, só em termos europeus. Basicamente é uma feira que eles fazem onde anunciam os resultados, onde anunciam as novidades para o próximo ano e a estratégia a seguir. Nós fomos convidados para ir lá e para apresentar aos diretores o nosso projeto. Foi daí que nós conseguimos os contatos e essa relação direta com os diretores superiores da própria Microsoft, que nos permitiram abrir essas portas.
U@O - E qual é o próximo passo no desenvolvimento do wi-GO?
LM - Ver Resposta - Sem dúvida alguma que o próximo passo é comercializar o wi-GO. Até ao final do ano nós queremos ter o wi-GO completamente desenhado, o produto final completamente prototipado. Já temos acordos para isso e vai acontecer com toda a certeza. Portanto até ao final do ano nós vamos ter um projeto piloto a decorrer em Portugal.
U@O - Entre prémios nacionais e internacionais, o projeto wi-GO já foi distinguido por seis vezes. Depois de tantos prémios, o que é que ainda falta ganhar?
LM - Ver Resposta - Falta ganhar dinheiro. É o que nos falta ganhar, é comercializar o produto e fazer dinheiro, porque nós ainda não fazemos dinheiro, ainda não somos auto-sustentáveis. O próximo objetivo é termos a equipa toda a receber salário, termos o pessoal que colabora connosco a receber salário e nós a fazermos dinheiro e realmente sermos uma Startup de sucesso. O nosso objetivo é mesmo esse. E eu tenho o objetivo de até ao final do ano estar a faturar um milhão de euros e é isso que eu quero fazer, é esse o meu objetivo.
U@O - Com esse objetivo de ser uma Startup de sucesso, que outros projetos estão já a ser desenvolvidos pela equipa?
LM - Ver Resposta - O wi-GO é o nosso principal projeto em termos de estratégia comercial, mas é um projeto a longo prazo, não é um projecto que dê dinheiro já. Portanto, a curto prazo nós já temos a publicidade interativa, que é algo em que queremos entrar, mais uma vez partindo do Kinect e da interaçao com o movimento, queremos entrar no mundo da publicidade interativa e no mundo das aplicações. É esse o nosso objetivo principal agora, a curto prazo.