José Pires Manso, catedrático em Economia da Universidade da Beira Interior, analisou os montantes das remessas dos emigrantes. Segundo o responsável pelo Observatório Económico e Social da academia beirã, o dinheiro que os emigrantes fazem chegar diariamente a Portugal atinge montantes mais elevados que os fundos da Comunidade Europeia.
Este tipo de indicador serve para apresentar algumas considerações sobre a importância que a emigração continua a ter para a economia nacional, “e também para toda a região interior”, acrescenta Pires Manso, “um território de onde saíram nas últimas décadas do século passado, grande parte da população emigrante”. Desde esse tempo que a importância dos fundos estrangeiros é sentida na economia regional. “Para que as pessoas tenham uma forma de comparação, ainda hoje, o dinheiro que os emigrantes fazem entrar em Portugal é superior ao que entra no País através de fundos comunitários. Por dia, os valores que recebemos são superiores aos da União Europeia. No ano 2000 até 2011, os valores oscilaram entre seis e 10 milhões por dia. Mas são valores muito menores do que nas décadas mais fortes da emigração”, diz o catedrático.
Em período de férias, o regresso dos emigrantes às suas terras de origem “acaba por trazer um novo impulso”. Contudo, Pires Manso lembra que o cenário está a registar fortes mudanças. Isto porque, “se a vaga de emigração resolveu vários problemas económicos e sociais nas últimas décadas do século passado, atualmente tal fenómeno não pode sequer se considerado”. No entender do responsável pelo observatório, os jovens portugueses estão hoje “muito mais formados do que noutras alturas”. Formação essa custeada pelo País “e que deverá servir para ajudar Portugal a sair da situação em que se encontra”.
Ainda assim, e face ao cenário de desemprego e baixos salários, “é muito provável que as taxas de emigração, que têm vindo a aumentar, continuem a crescer”. Mas desta vez, com uma segunda diferença. Isto porque, “se a vaga de emigrantes do século passado tem ainda em Portugal as suas referencias e como podemos constatar, aplica as suas poupanças aqui, o mesmo não se deverá passar com os jovens que hoje parte para outros países”. Pires Manso é categórico relativamente “a esta nova política governamental de ‘fuga de cérebros’”. Isto porque, “para além da diminuição de receitas internas, não deverá ocorrer como em outros tempos, o envio de remessas financeiras”. A isto junta-se um forte impacto social com a saída de população jovem, o que poderá tornar o País “e sobretudo as regiões do interior, como é o caso da Cova da Beira, em áreas geográficas moribundas”, alerta o catedrático.