Urbi@Orbi – O período de acesso à universidade, para novos alunos, já está a decorrer. Como está a ser preparado todo esse processo?
Mário Freire – A Faculdade já iniciou a preparação do próximo ano lectivo e estamos muito ansiosos tanto por receber novos alunos para os vários ciclos de estudo como em manter os actuais alunos que transitem para outros ciclos de estudo que sucedem aos ciclos de estudo que actualmente frequentam. Ao nível dos cursos de segundo ciclo, têm sido realizadas acções de divulgação dos cursos existentes para alunos do primeiro ciclo, que serão potenciais candidatos a esses cursos. Ao nível dos cursos de primeiro ciclo, têm sido realizadas acções de divulgação dos cursos normalmente através das comissões de curso junto do potencial público alvo na região.
U@O – Existem novas regras na distribuição de vagas e em algumas provas de ingresso. Na oferta formativa desta faculdade, quais as principais mudanças que se podem vir a sentir?
M. F. – A nossa oferta formativa e o respectivo número de vagas, em termos de primeiros ciclos e de mestrados integrados, são semelhantes às do ano anterior. Temos apenas algumas alterações pontuais em termos de terceiros ciclos. Em termos de provas de ingresso, houve alterações para alguns cursos de engenharia em que se passou de um elenco de provas constituído por Física e Química, ou Geometria Descritiva e Matemática, ou Matemática para um único conjunto de provas de ingresso constituído por Matemática e Física e Química. Esta alteração vem corrigir uma lacuna no conjunto das provas de acesso. Os cursos de engenharia, de uma forma geral, requerem uma forte formação de base em termos de Matemática e Física, sendo, por isso, difícil de perceber como é que se consegue formar engenheiros com lacunas a estes níveis. A consequência direta desta alteração é a potencial redução do número de candidatos aos cursos de engenharia já em setembro próximo.
U@O – Uma das áreas que mais importância tem assumido no seio da academia é a da investigação. Que principais iniciativas destaca na sua faculdade?
M. F. – A Faculdade tem estado a crescer em termos de produção científica e, em particular, em artigos em revistas listadas no ISI Science Citation Index, mas também estamos a aumentar o número de projectos de investigação científica com financiamento externo obtidos em concursos muito competitivos, merecendo particular realce a participação ou liderança de projectos europeus financiados pela União Europeia.
Outro parâmetro que também merece destaque é o aumento significativo do número de doutores que formamos por ano, existindo uma aposta estratégica em bolseiros de investigação e em estudantes de doutoramento. No entanto, ainda mais importante que o crescimento da produção científica, que resulta da concretização das actividades científicas, é a qualidade com que o estamos a fazer. Estamos a prestar particular atenção à qualidade da investigação e, por isso, não olhamos apenas para o número de artigos, mas passámos a preocuparmo-nos em publicar artigos em revistas com elevados factores de impacto, com especial enfase em revistas localizadas no primeiro ou no segundo quartil do ISI, assim como no número de citações aos artigos por outros investigadores.
U@O – Passado algum tempo após as alterações introduzidas nos cursos pelo Processo de Bolonha, qual a sua opinião sobre este tema, e mais especificamente, sobre os cursos da sua faculdade?
M. F. – As alterações resultantes do Processo de Bolonha representaram uma grande oportunidade para a mudança do sistema de ensino superior em Portugal. Contudo, parte do trabalho ainda está por fazer. Adequaram-se os planos de estudos dos cursos e alteraram-se os conteúdos das unidades curriculares, mas pouco se progrediu em termos de metodologias de aprendizagem e respectiva articulação com as competências a adquirir.
Na Faculdade, alguns cursos já foram objecto de aprofundamento no âmbito do processo de Bolonha, de que são exemplo a engenharia electromecânica e o design de moda, e outros departamentos já manifestaram interesse em aprofundar cursos no âmbito desta metodologia. Bolonha proporcionou uma nova dinâmica em termos de mobilidade de estudantes entre as universidades do sistema de ensino superior europeu, sendo este, a meu ver, um dos aspectos mais positivos resultantes das alterações decorrentes.
U@O – Alteraram-se licenciaturas e alargou-se o número de cursos de pós-graduação. A oferta formativa está agora mais ajustada às necessidades ou pensa que deveria sofrer algumas melhorias?
M. F. – A oferta formativa da Faculdade está estável, após a adequação dos cursos no âmbito do Processo de Bolonha realizada há cinco ou seis anos atrás. Actualmente, estamos empenhados em melhorar a qualidade dos cursos que oferecemos. Estamos a proceder ao registo dos nossos cursos de engenharia no FEANI Index, de modo a que seja possível obter o título e a cédula europeia de engenheiro e estamos a submeter alguns dos nossos cursos, por nossa iniciativa, ao exigente processo de avaliação da Ordem dos Engenheiros para atribuição da marca europeia de qualidade EUR-ACE. A marca EUR-ACE foi já atribuída aos cursos de mestrado em Engenharia Electromecânica e Engenharia Civil e esperamos que outros cursos da Faculdade se venham juntar brevemente a este conjunto.
U@O – Com o desemprego jovem a aumentar a atenção colocada nas taxas de empregabilidade das universidades tem sido cada vez maior. O que têm feito para dar a conhecer a faculdade neste domínio?
M. F. – De uma forma geral, as taxas de empregabilidade dos cursos da Faculdade são elevadas. No caso dos cursos de engenharia, a taxa de empregabilidade é, de uma forma geral, superior a 90 por cento e tem-se mantido neste patamar durante a última década. Trata-se de cursos exigentes, que formam profissionais competentes e com perfil adequado para o mercado de trabalho e isso tem merecido o reconhecimento por parte dos empregadores.
No passado, fizemos alguma divulgação dos cursos e das respectivas taxas de empregabilidade através de jornais em forma de papel, mas actualmente essa divulgação é feita através de meios digitais e através de acções específicas realizadas ao nível dos departamentos, quer pelas comissões de curso quer pelos directores de curso.
U@O – As ligações ao exterior, nomeadamente a empresas e entidades empregadoras é outro dos vetores chave apontados pelos académicos para o sucesso das universidades. De que forma têm desenvolvido esse tipo de relação?
M. F. – Os engenheiros representam hoje menos de 0,5 por cento da população portuguesa, mas são os grandes obreiros da transformação do mundo em que vivemos, no sentido de melhor servir a sociedade no século XXI. Por isso e de uma forma natural, a colaboração com empresas, a prestação de serviços, a realização de teses de doutoramento em ambiente empresarial, a transferência de tecnologia e conhecimento para a indústria e serviços assumem um papel preponderante não só para a Faculdade de Engenharia, mas também para a região em que se insere, para o País e, em alguns casos, para o mundo.
Na Faculdade existe uma grande diversidade de colaborações com empresas e de prestações de serviços que variam desde a direcção técnica de termas ou direcção técnica de águas de mesa, até peritagens técnicas de estrutura e motores de aeronaves acidentadas, estudos aerodinâmicos de modelos de dirigíveis, aplicação de novos materiais na indústria, colaboração com empresas têxteis, com empresas de electrónica ou de informática ou orientação de teses de doutoramento em empresas, por exemplo na Nokia Siemens Networks e na Siemens.
Outro exemplo recente é a colaboração com a Portugal Telecom no contexto da criação do novo Datacenter da PT na Covilhã, sendo esta colaboração particularmente relevante para as áreas de engenharia informática e de engenharia electrotécnica. Gostaria também de referir que na Faculdade existem outras áreas com ligação à engenharia, em particular a arquitectura e o design do produto, que são igualmente capazes de proporcionar a ligação às empresas e que estamos a estimular o fortalecimento dessa relação. Face à importância estratégica que atribuí a este sector, no início do meu mandato, designei um Vice-Presidente da Faculdade para a cooperação com as Ordens Profissionais, cooperação com a indústria e os serviços, ligação à Sociedade e internacionalização.
U@O – Os cortes em verbas que suportam o funcionamento das universidades são transversais. Salários, investigação, ação social, são apenas alguns exemplos desse decréscimo. Como tem isso afectado o normal funcionamento da faculdade?
M. F. – Em termos do orçamento da Faculdade, julgo que atingimos o limiar, abaixo do qual, qualquer corte terá impacto no funcionamento dos cursos e dos departamentos. Em termos de recursos humanos, a Faculdade conta com um corpo docente, cuja percentagem de doutores é já superior a 80 por cento. Pretendemos consolidar o corpo docente, nomeadamente em áreas específicas onde há falta de recursos humanos ou em casos pontuais onde pretendemos reduzir a dependência de professores convidados. Por outro lado, como reflexo do aumento significativo da produção científica nos últimos anos, que anteriormente mencionei, temos um conjunto de professores que já deveriam estar a ocupar uma categoria superior em relação à que ocupam actualmente. Por isso e face ao reduzido número de professores associados e catedráticos de carreira, pretendemos aumentar o número de professores associados e catedráticos, assim que seja possível.