Urbi@Orbi – O período de acesso à universidade, para novos alunos, está a decorrer. Como está a ser preparado todo esse processo?
Ana Carreira Lopes – Essa divulgação tem sido feita ao longo do ano, tal como é nosso hábito, um pouco por todas as escolas da região. De ressalvar que este foi o Ano Internacional da química e ao longo de todo este tempo desenvolvemos um conjunto de atividades, por vários pontos e escolas da cidade, que serviram também para dar a conhecer os nossos cursos. Destaque para a realização da Noite da Química, da Tabela Periódica Humana, e outros eventos em escolas onde vamos com muita frequência. Este tipo de visitas, para além de mostrar as potencialidades que temos na academia, servem de divulgação da oferta formativa que temos na UBI.
U@O – São estratégias que têm resultado, em seu entender?
A.C.L. – Penso que sim, sobretudo agora nestes tempos de forte restrição financeira, temos apostado nos alunos daqui da zona, porque é natural que recorram mais à nossa universidade.
U@O – Grande parte dos cursos da faculdade pertencem a áreas que os alunos do secundário têm vindo a descartar. Pensa que esse é um cenário que se está a alterar?
A.C.L. – A Química, a Física e a Matemática nunca foram disciplinas fáceis. Se os alunos já não estão muito motivados com o estudo destas áreas, pior ficam se depois o mercado de trabalho não responder da forma pretendida. Daí que os alunos tenham começado a desistir destas áreas.
Contudo, estamos num ponto de viragem e penso que a partir de agora só podemos melhorar. O mercado de trabalho está a solicitar recursos humanos nestas áreas e os cursos começam agora a voltar a ter mais candidatos. Os nossos cursos de Química, mais virados para trabalho laboratorial, pretendem também dar resposta às solicitações externas numa indústria que faz cada vez mais investigação dentro de portas e também o seu próprio controlo de qualidade de produção e portanto precisam de profissionais desta área.
U@O – Mas pensa que se poderiam abrir mais vagas nestas formações?
A.C.L. – Não sou muito apologista de exageros. Isto porque, o aumento do número de vagas pode levar a um crescente de recursos humanos formados que depois não têm colocação no mercado de trabalho. Isso é mau para as instituições e para os alunos. Em relação à Matemática, foi recentemente aprovado pela A3ES o Mestrado em Matemática para Professores, em que todas as unidades curriculares foram acreditadas como ações de formação, e que deve entrar em funcionamento no ano letivo 2013-2014. Estamos convencidos que este mestrado nos trará alunos do Ensino Secundário e que lhes será útil para sua formação e para a progressão na carreira.
U@O – Uma das áreas que mais importância tem assumido no seio da academia é a da investigação. Que principais iniciativas destaca na sua faculdade?
A.C.L. – É um trabalho muito importante e o número de publicações tem vindo a aumentar nos últimos anos. Este tipo de publicações reflete o nosso trabalho e tem interesse para todos. Isto porque, anteriormente o processo de publicação era mais demorado, mas atualmente, assim que temos alguns resultados de uma investigação, estes são publicados, uma forma de precaver que outros o façam primeiro que nós.
De uma maneira geral, é também importante para os alunos conhecerem os trabalhos de investigação dos seus docentes e vê-los publicados.
Como forma de incentivar a investigação, a faculdade tem oferecido bolsas a alunos de doutoramento, financiadas pelo Banco Santander Totta, em conjunto com o Instituto Coordenador da Investigação. Os alunos que receberam estas bolsas, após um ano de investigação, conseguiram bolsas de doutoramento da FCT, o que permitiu canalizar a verba prevista para a continuação dos seus estudos para outros alunos de doutoramento.
U@O – Passado algum tempo após as alterações introduzidas nos cursos pelo Processo de Bolonha, qual a sua opinião sobre este tema, e mais especificamente, sobre os cursos da sua faculdade?
A.C.L. – Acredito no Processo de Bolonha e acredito que o facto de dar mais autonomia aos alunos os faz crescer mais em termos pessoais e académicos. O problema é o excesso de informação fácil e pouco credível a que eles têm acesso com as novas ferramentas de informação e por vezes acabam por recorrer ao facilitismo e tentam encontrar trabalhos já feitos em vez de pesquisarem a sério e de se preocuparem em estudar.
Há também uma grande pressão a que os alunos estão submetidos e por isso, Bolonha não é a culpa de tudo o que de menos bom está a acontecer nas academias. Hoje temos os pais a indicar aos seus filhos os cursos que lhes parecem ter maiores taxas de empregabilidade e depois temos pessoas em cursos para os quais não estavam motivados. Isso leva também a que tentem resolver os seus problemas não da melhor maneira, tentado passar apenas e não se motivando inteiramente para o saber e o conhecimento.
É um facto que passamos a registar pessoas com três anos de formação como licenciados, mas que não têm a mesma formação que anteriormente se tinha com cinco anos, mas isso não é o único mal.
U@O – Nessa matéria, foram alterados os cursos registando-se o aumento do número de pós-graduações. Como está a oferta formativa da faculdade nesta área?
A.C.L. – Esta mais alargada, já com formações na área da Matemática e da Química, no que diz respeito a segundo e terceiro ciclos e um doutoramento em Física. Mas ainda assim, os docentes de Física estão ligados a mestrados mais na área das Ciências da Saúde.
Temos uma boa oferta formativa e aqui, um outro ponto importante, que é das potencialidades de desenvolver trabalhos de investigação, com o muito material presente na academia e com os vários laboratórios instituídos para esse efeito.
U@O – Quais têm sido as repercussões, por parte das entidades empregadoras e parceiras da academia, relativamente os alunos que aqui se formam?
A.C.L. – Mantemos um contacto muito direto com os antigos alunos e vamos tendo muitas notícias. Estes acabam também por nos dar algumas indicações, apresentar algumas críticas construtivas para que a formação seja dinâmica e se vá ajustando às necessidades de mercado. Temos uma grande ligação entre docentes e alunos e isso acaba por fazer diferença. Até mesmo em termos de emprego, se sabemos que alguém vai a uma entrevista, tentamos contactar algum antigo aluno que possa estar nessa empresa para saber o perfil dos candidatos, o que é pedido, entre outras indicações.
Em termos de estágios, por exemplo, em Química Industrial, houve um ano em que dos vinte e tal alunos que tínhamos conseguimos colocar 17 em estágios em empresas e outras entidades.
U@O – Os cortes em verbas que suportam o funcionamento das universidades são transversais. Salários, investigação, ação social, são apenas alguns exemplos desse decréscimo. Como tem isso afectado o normal funcionamento da faculdade?
A.C.L. – Afeta sempre o funcionamento que estava previsto. Para fazer face aos cortes registados temos recorrido mais a projetos da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e outros. O dinheiro que vem do ministério passou a ser destinado ao funcionamento das aulas, mais para as do primeiro ciclo e para o resto temos então recorrido a estas alternativas, mas o resultado está a ser positivo e tudo isto acaba por nos tornar algo mais proactivos.