A única solução para estes jovens em terras lusas é a resignação à realidade, ou por outro lado encherem-se de coragem, fazerem as malas e partirem para o estrangeiro em busca de novos horizontes, outras oportunidades e de um sonho que por lá pode ser alcançado. Maria Duarte, Lúcia Nunes, e Luís Campos são três exemplos de jovens licenciadas pela Universidade da Beira Interior que se aventuraram no estrangeiro e que hoje são casos de sucesso nos países onde se fixaram.
Lúcia terminou em 2008 a sua formação em Marketing e arranjou trabalho como produtora e assistente de comunicação no Festival Citemor em Montemor-o-Velho. “Este trabalho serviu basicamente para arranjar dinheiro para emigrar para o Reino Unido. Muitas vezes somos nós que temos que criar as oportunidades e ser persistentes. Quando uma porta se fecha, normalmente abre-se uma janela. É preciso ser-se perspicaz e ver as janelas que nos vão aparecendo ao longo da vida”. Lúcia foi em busca de um sonho e hoje está muito perto de o conseguir. O seu objetivo era fazer mestrado na área de Marketing Cultural para as Indústrias Criativas, uma vez que é a área em que a jovem deseja trabalhar e o mercado português para o ramo é muito restrito e encontra-se saturado. “Em Portugal existem poucos empregos na área e os trabalhadores são mal remunerados.”
Maria Duarte foi outra licenciada que viu na emigração a hipótese de realizar os seus sonhos e voar mais alto. Terminou a formação em Design de Moda no ano de 2009 na Universidade de Boras, na Suécia, através do programa Erasmus, e quando regressou a Portugal arranjou dois estágios não remunerados em ateliers. “Com esta experiência percebi como funcionava a indústria da moda nacional e fiquei a saber que não é de todo o círculo onde me quero movimentar, integrar e trabalhar.” Resolveu então entrar numa nova aventura e partiu para Inglaterra, onde fez mestrado em Têxteis Técnicos e Roupa de Performance na Universidade de Leeds.
Terminada a tese de mestrado partiu para Lausanne, Suíça, onde começou a trabalhar para a Mover Sportswear, empresa de skiwear de luxo. “A minha função é de assistente do chefe de produto. Estou também encarregue de controlar toda a produção que é feita em Portugal e fazer os devidos relatório da respetiva.” Luís Campos formou-se em Cinema em 2008 e tirou o curso que sempre quis. Os estudos na Beira Interior foram gratificantes, afirmando o jovem que se trata de “um curso de boa componente teórica e com bastante carácter de iniciativa e de auto-descoberta, fatores essenciais ao desenvolvimento conceptual da atividade cinematográfica”. Quando terminou o mestrado Luís não conseguiu arranjar nada na área e fez alguns trabalhos como freelancer. O dinheiro amealhado serviu para viajar e tentar a sua sorte em Espanha.
Partiu sem nenhum conhecimento da realidade do país vizinho, sem contactos, sem uma proposta de trabalho, apenas guiado por uma esperança. Em Barcelona andou três meses a entregar currículos, correu mais de cem produtoras e não conseguiu encontrar nada que lhe permitisse a sustentabilidade económica. Começou a procurar trabalho noutras áreas, mas as respostas positivas teimavam em não chegar. Eis que chegou 2009 e com ele o programa Inovart, que teve a sua primeira edição no início daquele ano. “Consegui um estágio de 9 meses em Barcelona e acabei por manter-me lá até finais de 2009. Durante o estágio acabei por participar na longa-metragem Um Funeral À Chuva.”
Posto isso, seguiu-se Londres, onde arranjou trabalho num restaurante conhecido de Mayfair, o Scott’s. O restaurante era frequentado por pessoas conhecidas do mundo cinematográfico e Luís teve a aproximação ao sonho que perseguia. Estava próximo das pessoas que poderiam mudar o seu futuro, mas nunca teve coragem de os interpelar. “Nunca estive tão perto do sonho que persegui como durante o mês que trabalhei no restaurante. Servi pão nas mesas de ilustres do formato cinematográfico como o Jeremy Irons, o Jude Law, o Harvey Weinstein, o Guy Ritchie, entre outros. Pensei mil vezes se havia de abordá-los com a típica lenga-lenga do “tenho um guião que gostava que lessem”, mas isto vindo de um rapaz com uniforme de empregado de mesa nunca me pareceu muito bem. E nunca tive a coragem de fazê-lo”.
Em Inglaterra, Luís esteve menos de um ano e regressou a Portugal. Por cá continuou a enviar currículos e surgiram as hipóteses de ir para a Holanda ou ir trabalhar para uma produtora no Porto, onde a precariedade dos recibos verdes e o baixo salário não o deixaram hesitar. Partiu novamente numa aventura no estrangeiro, onde está desde outubro passado, a trabalhar num call-center internacional. “O salário é bom, dá-me segurança e nos tempos livres vou escrevendo projetos. Tenho um livro que tem sido escrito nos breves períodos que tenho entre as chamadas que diariamente vou recebendo, literalmente entre o desligar de uma e o atender da próxima. Assim sigo, todos os dias enviando currículos para produtoras locais, espreitando uma possível oportunidade que até hoje ainda não surgiu.”
O jovem considera o estrangeiro uma oportunidade rentável do ponto de vista económico, mas lamenta nunca ter conseguido nada de sólido na área e do qual conseguisse viver, e lamenta também estar longe do seu país. “Não passa um dia que não pense em Portugal. Esse esquecido retângulo da ponta da Europa é a minha maior perdição. Adoro também a água portuguesa. E no estrangeiro sinto sempre sede. Todos os dias tenho sede”.
Quanto a Lúcia reside em Londres há quatro anos e já teve vários trabalhos. “Londres é uma cidade em que o mercado de trabalho é bastante elástico. Já tive todo o tipo de trabalhos, desde trabalhar em restaurantes, limpar hotéis, até dar aulas de português.” Neste momento continua com um ritmo de vida alucinante e consegue trabalhar em vários sítios ao mesmo tempo. “Trabalho como Media Analyst para uma empresa de PR (Publicidade e Relações Públicas), sou hospedeira em vários estádios de futebol, nomeadamente Arsenal, Tottenham e Wembley e outros eventos desportivos e sociais de Londres. E ainda trabalho como assistente de produção para Dakus Films.”
Lúcia é um caso de sucesso que perante as adversidades não baixou os braços, arriscou e hoje está a traçar um caminho que a deixa feliz e no qual espera conseguir alcançar todos os seus objetivos. “Considero-me uma pessoa bem-sucedida até hoje, que gosta de arriscar, mas que ainda não atingi aquilo que procuro a 100%. Acima de tudo vivo um dia de cada vez, com o futuro sempre em vista. Sem dúvida que o sucesso somos nós que o criamos, embora às vezes seja necessário um pouco de sorte e também loucura para explorar novas oportunidades”. Regressar a Portugal não faz parte dos seus planos a curto prazo, mas não é uma hipótese descartada para um dia mais tarde. “Não penso regressar a Portugal tão cedo. Acredito que é fundamental que as mentalidades mudem e isso ainda vai demorar muito tempo. Mas sem dúvida que quero regressar ao meu país e investir tudo o que aprendi com as minhas experiencias.” Lúcia deixa ainda um conselho aos jovens que estejam a pensar emigrar. “Abram os horizontes, procurem sempre o conhecimento, experiências únicas e enfrentem o desconhecido sem medo, mas com uma certa cautela. Vão preparados para tudo porque emigrar não é fácil, mas é um risco em que vale a pena investir em muitos dos casos.”
Tal com Lúcia, Maria ainda não se considera um caso de sucesso, porque ainda não se encontra totalmente satisfeita com o que faz, e quanto à hipótese de regressar a Portugal, por enquanto está fora de questão. Na Suíça, Maria trabalha há cerca de 7 meses. Entra às 8h30 no escritório, com pausas de 90 minutos para almoço, e o horário de saída varia consoante a altura do ano. Se está perto da entrega da coleção ou de feiras é comum ficar no escritório atá cerca das 21 horas. Para Maria, viver sozinha num país diferente do de origem tem coisas boas e coisas más, porque “há dias em que tudo é espetacular e outros que são demasiado solitários e tristes. É preciso ter muita força de vontade e ter apoio mesmo que esteja muito distante.” Da UBI, estes jovens guardam as recordações dos amigos, dos professores e dos bons momentos que contribuíram para o seu crescimento não só como profissionais, mas como pessoas.