Covilhã. Situada no sopé da Serra da Estrela, acolhe a Universidade da Beira Interior (UBI), que recebe todos os anos alunos ao abrigo dos programas ERASMUS e Bolsas Luso Brasileiras Santander Universidades. Simona Țuțu, jovem romena de 21 anos, esteve na Covilhã no primeiro semestre do ano letivo 2011/2012. Confessa que Portugal não estava inicialmente nos seus planos. Queria ir para Espanha, mas a falta de bolsas de estudo para esse país trocou-lhe as voltas. Depois pensou em França, mas Portugal pareceu-lhe a melhor alternativa. “Era uma oportunidade para aprender uma nova língua e também estava perto de Espanha, onde sempre quis ir”, conta.
Depois de escolher o país, surgiu a dúvida entre a Universidade do Algarve e a UBI, mas rapidamente se desfez. “Não pensei muito para escolher a UBI. Foi suficiente ver as disciplinas que podia lá fazer, para decidir”, acrescenta. Simona revela que decidiu vir de ERASMUS pois não estava muito satisfeita com o ensino no seu país. Assim, esta aventura pareceu-lhe perfeita para aprender coisas novas, viajar, fazer amigos e aprender algo mais sobre si própria. Falando em viagens, a jovem aproveitou para conhecer mais do que a Covilhã. Em Portugal, rumou a Lisboa, ao Porto, Sintra e Cascais. Antes de regressar de vez à Roménia, visitou Espanha, país que sempre estimou conhecer. Hoje, Simona faz um balanço positivo da sua passagem pela UBI. “Num semestre lá aprendi mais coisas do que aqui em dois anos. Foi uma experiência muito boa e sinto que ganhei muito por estar aqui e conhecer todas as pessoas que conheci”, explica. Recorda a Covilhã com saudade. Relembra que a maior dificuldade que sentiu quando cá chegou, foi a língua. Atualmente pensa em regressar a Portugal num futuro próximo, para prosseguir para um mestrado, mas as condições económicas trocam-lhe as voltas. “Estive a procurar alguns mestrados em Portugal que gostaria de frequentar, mas infelizmente não tenho os recursos financeiros necessários e as universidades não oferecem bolsas para estudantes estrangeiros”, conta Simona.
Mafalda Duarte tem 22 anos e está inscrita no terceiro ano do curso de Design e Multimédia, na UBI. No entanto, a vontade de experienciar a vida académica fora de Portugal, de conhecer outras realidades, pessoas e culturas, levaram-na a optar por estudar um ano fora do país. No primeiro semestre, esteve em Cracóvia, na Polónia, mas não esperou muito para enveredar por uma nova aventura. Aterrou em Portugal em fevereiro, e por cá permaneceu, apenas, por duas semanas. Desta vez, voou até São Paulo, no Brasil. Hoje recorda a Polónia com saudade. Explica que escolheu este destino devido às diferenças climatéricas e pelo baixo custo de vida. A necessidade de aperfeiçoar o seu inglês, uma vez que seria a única língua que teria para comunicar, a localização da Polónia no centro da Europa, e toda a história que a envolve, foram as razões que levaram a Mafalda a escolher este destino. Quando chegou ao país, a maior dificuldade que encontrou foi encontrar a casa em que iria passar os cinco meses que se avizinhavam. Rapidamente contornou esse problema, com a ajuda de outros ERASMUS e da universidade de acolhimento. Durante o tempo passado na Polónia, Mafalda aproveitou para viajar por aquele e por países vizinhos, e para conhecer novas pessoas. Hoje, lembra-os nostalgicamente e espera revê-los em breve. Também tem saudades do frio que arrebatava a histórica cidade de Cracóvia pois, “consegue-me recordar tudo o que eu vivi e todos os locais por onde passei”, comenta. Por isso, não coloca de parte a ideia de voltar ao local onde passou o primeiro semestre do seu último ano universitário. “Gostaria de lá voltar e encontrar as pessoas que me marcaram no ERASMUS”, remata. “Adorei, simplesmente, a experiência e aconselho toda a gente a passar por ela”, foi a frase que a jovem de 22 anos utilizou para resumir a sua aventura polaca. Atualmente Mafalda está em terras de Vera de Cruz. A Universidade de São Paulo foi a escolhida, de entre várias opções. Ao falar sobre a sua experiência no Brasil, revela que foi um processo anterior à sua ida para a Polónia. Concorreu a uma bolsa Santander Universidades, e foi contemplada com mais uma aventura. “Assim surgiu mais uma oportunidade de conhecer outro “mundo” e outra maneira de viver”, explica. Refere que a fase que está a viver no Brasil está a ser bastante positiva, e está a gostar do estilo de vida diferente do europeu. Também já aproveitou para viajar pelo Brasil mas, menciona que há uma maior necessidade de controlo, uma vez que o custo de vida é mais elevado do que na Europa. Em breve, regressará a Portugal, e apenas espera reencontrar o seu país como sempre o conheceu, a família, os amigos e os pertences que não puderem sobrevoar o Atlântico com ela. “Identifico-me e gosto bastante da minha origem portuguesa, apesar de Portugal não estar a passar bons tempos”.
André Guerra, ou Guerra, como é vulgarmente apelidado pelos amigos e colegas de faculdade, partirá no próximo ano letivo ruma a Gdańsk, na Polónia. Aos 25 anos vai embarcar, pela primeira vez, numa aventura académica fora do país, para conhecer novas pessoas e novas maneiras de lidar com a arquitetura e conhecer o método utilizado no país. Enquanto refletia sobre o assunto, não resistiu a pegar na sua guitarra e fazer soar alguns acordes. Escolheu a Polónia, muito por influência de colegas que por lá estudaram. Sentiu-se, então, mais seguro para enveredar por este destino. “Tinha referências e assim se tiver dúvidas, posso sempre perguntar aos meus colegas que já lá estiveram”, argumenta. Explica que a aventura é a sua grande motivação. Além das aprendizagens ao nível da arquitetura, também espera aprender algo de polaco e, “desenferrujar” o seu inglês. A nível pessoal, espera tornar-se mais sociável com pessoas de outros países, que comunicam numa língua diferente e que provêm de uma cultura diferente. Imaginando a sua vivência no local, supõe ter saudades dos amigos, dos pais e de alguns momentos vividos na Covilhã. Desvalorizando o assunto, refere: “também não é muito tempo!”. Estar longe da família durante um ano letivo fá-lo-á crescer e tronar-se mais autónomo. O teste a que Guerra se irá submeter, poderá trazer-lhe vantagens curriculares, uma vez que demonstra capacidade de integração e autonomia, se for necessário ir trabalhar para o estrangeiro. Vai tentar integrar-se ao máximo na cultura polaca e interagir com os nativos, para que o possam levar a conhecer os lugares mais marcantes do país. “Se não viajar para mais nenhum sítio, quero ir a Auschwitz, pelo marco que representa”, remata. Para se lembrar de Portugal, utilizará a internet para falar com os amigos e família que cá ficam. “Se calhar ainda vou dar por mim a ver no youtube vídeos de coisas portuguesas”, alude em tom de brincadeira. Depois desta conversa, decidiu refletir sobre a gastronomia polaca, “será que é muito diferente de cá?”. Ao ultimar os preparativos, o futuro arquiteto tem pena de não poder levar a guitarra que tanto estima mas, mune-se de material necessário para a conclusão da sua licenciatura. Antes da partida, conta que não tem medo de ir de ERASMUS, o maior receio do momento é o aparecimento de um contratempo nas vésperas da partida.
Milão. É nesta cidade transalpina que Carolina Freitas vai passar o primeiro semestre do próximo ano letivo. A terminar a licenciatura em Design de Moda na Universidade da Beira Interior, a jovem de 21 anos deseja aprender mais sobre a sua área de eleição. “Vou para fora à procura de novas experiências, de conhecimentos, conhecer novas pessoas ligadas à área e para ter a perceção do mercado lá fora”, esclarece Carolina. Confessou estar ansiosa por esta nova etapa. Apesar de não saber falar italiano, refere que se irá “desenrascar” como, geralmente, fazem os portugueses. Aguarda pela oportunidade de trabalhar com novos materiais, mas salienta que passará por dias mais complicados a nível emocional. Enquanto olha orgulhosamente para os vestidos que já criou, explica que escolheu Milão por ter uma das melhores escolas da indústria da moda a nível mundial. “Quando me apercebi que a UBI abriu uma parceria com o politécnico de Milão, decidi logo ir para lá”, revela. A família, os amigos, o namorado, são o que mais lhe fará falta em Itália. No entanto, mostra-se contente com esta oportunidade. Está feliz com as aprendizagens que poderá trazer, pois para o seu currículo será uma mais-valia. Crê que após esta oportunidade, será capaz de desenvencilhar melhor. “A minha área envolve muitas viagens, muitas conversas com outras pessoas e vou desenvolver o meu lado mais social”, acrescenta. Durante o seu percurso vai tentar integrar-se nos costumes milaneses, todavia não vai prescindir da gastronomia portuguesa, e garante que vai cozinhar pratos portugueses durante a sua estadia. Antes da partida, vai certificar-se se tem consigo a câmara fotográfica para captar todos os momentos, para mais tarde recordar.
António Gomes, carinhosamente apelidado de Tó, esteve também na Polónia, no instituto politécnico de Białystok. “Era o meu quinto ano na Covilhã, queria muito ir para fora, queria conhecer pessoas, ter um ambiente diferente, queria aprender, ir para uma universidade conceituada, porque tive muitos professores polacos até então”. Estes foram os motivos que levaram Tó, atualmente com 25 anos, a enveredar por uma experiência académica no estrangeiro. Considera que estava a precisar de praticar a língua inglesa e que esta experiência o poderia enriquecer, não só em termos académicos, mas também ao nível humano. Poderia ter escolhido ir para Itália, Espanha ou Ucrânia. Contudo, preferiu Białystok, pois tinha boas referências de colegas que por lá passaram. “Ainda bem que fui”, revelou, lembrando-se das muitas pessoas que conheceu de outras nacionalidades. “Em termos técnicos, a universidade é muito boa. Tem laboratórios muito bons, professores conceituados na Polónia, e como tinha que entregar relatórios técnicos em inglês, desenvolvi bastante a língua”, argumenta. Como frequentava as aulas apenas com mais um aluno português, os professores disponibilizaram-lhe um acompanhamento quase individual. “Marcava as aulas com os professores e tinha-as na secretária deles, portanto ao falar diretamente com eles, havia tempo para eles me explicarem a matéria”, acrescenta.
Para trás, embora não esquecidas, ficaram as amizades que cultivou e o espírito de camaradagem que foi desenvolvendo na residência onde se hospedou. Considera engraçada a convivência que manteve com os colegas turcos. “Os turcos têm uma mentalidade um pouco diferente, em termos políticos e de religião, mas foi bom falar com eles, perceber até que ponto estão mais pró Europa ou Ásia, e gostei de saber a opinião deles relativamente à adesão da Turquia à União Europeia”, alega. Um idioma totalmente diferente do português e o Zloty como moeda oficial foram as maiores dificuldades iniciais mas, após duas semanas de adaptação, tudo se tornou natural. Não perdeu a oportunidade para viajar pelo leste europeu. Dentro da Polónia esteve em Gdańsk, Wrocław e Varsóvia. Depois, deslocou-se para a República Checa, Áustria, Eslováquia, Letónia, Estónia, Lituânia e Hungria. Queria conhecer melhor o leste europeu, lembrando que, tradicionalmente, os portugueses ao escolherem um destino para férias, optam sempre por praia. Assim, decidiu ser diferente e descobrir locais não tão turísticos. Mais descontraído, António Gomes, olha nostalgicamente para o computador, onde tem bem guardadas as fotografias dos bons tempos passados no centro da Europa. No final, confessou-se um dos impulsionadores do programa no curso de engenharia civil da UBI.
Jonathan Antolin tem 27 anos e, em setembro, trocou a Universidade de Valladolid, em Espanha, pela UBI, para completar os seus estudos na área de informática. A necessidade de ter um bom projeto para trabalhar trouxe-o, durante um ano letivo inteiro, até à UBI. Como maior dificuldade, apontou a realização do mesmo projeto. “Em Espanha tinha mais ajuda do orientador e aqui tenho que fazer as coisas por mim mesmo”, explica. Antolin confessa que tem saudades de Espanha e da família que por lá permanece. No entanto, a estadia em Portugal mostrou-lhe que pode ser mais autossuficiente do que alguma vez pensou. Sabe que é capaz de cozinhar e de realizar outras tarefas domésticas sozinho. Mostra-se satisfeito com a Covilhã e respetivos residentes. Sempre que sai à rua sente que há sempre alguém disponível para o ajudar. Além de referir que gosta muito da cidade, define-a como: “uma cidade muito tranquila mas, com muitas festas”. Saboreia agora os últimos momentos na cidade serrana, salientando a boa relação que tem criado com as pessoas com quem convive. “Gosto muito das pessoas, porque conhecemos muita gente de lugares diferentes, com costumes e refeições diferentes”, menciona. Conta que inicialmente, teve dificuldade na adaptação ao horário das refeições mas, hoje já se habitou ao horário português. “Dizem que falo tão bem de Portugal que já não vou voltar”, é o que os pais e amigos do jovem espanhol relatam, quando comunica com eles ao fim do dia. Na bagagem, apenas carregou a sua almofada, admitindo que não se conseguiu habituar às portuguesas. Fora isso, integrou-se facilmente na cultura portuguesa. “Quando vou para Espanha, não consigo comer uma refeição sem sopa. Tenho de ter sempre a minha sopa para almoçar e para jantar. Agora também almoço e janto mais cedo do que antes”, acrescenta. “Vou ter uma depressão muito grande”, é o que diz sentir quando voltar a Espanha e se lembrar dos bons momentos vividos na Covilhã. Passou cá um ano inteiro, viu amigos a regressar ao país de origem após o final do primeiro semestre, portanto não consegue imaginar a sua situação final. Apenas responde: “Não quero sequer pensar nisso. Com o final do semestre à porta, terá mesmo que regressar a Valladolid para se sagrar, oficialmente, engenheiro. Contudo, não exclui a hipótese de voltar proximamente a Portugal para uma nova experiência. Desta vez, laboral. “Agora termino o curso mas não descarto a hipótese de vir trabalhar para Portugal”, garante.
Santa Rostoka tem 21 anos e em fevereiro último trocou a Letónia por Portugal. A estudar Sociologia, recorreu frequentemente à boa disposição para relatar a sua vinda para a Covilhã. Optou pela UBI pois era o local mais longínquo que tinha para escolher. Durante a sua experiência ao abrigo do programa ERASMUS, tem desenvolvido algumas competências individuais. “Estou a aprender que sou mais comunicativa do que pensava. Aqui é muito fácil fazer bons amigos. Tenho conhecido muito boas pessoas aqui”, conta. Diz que por enquanto não tem saudades da família que ficou na Letónia. “A minha família pergunta-me se tenho saudades deles e eu respondo que não. Sei que vou voltar e agora estou a viver uma experiência única na minha vida”, recorda. Quando chegou à Covilhã, sentiu-se apoquentada com a paisagem. Uma cidade rodeada por montanhas. Como o seu país é plano, não estava habituada ao relevo serrano. O facto de não conhecer ninguém também se tornou complicado inicialmente, mas hoje mostra-se feliz e bastante conversadora com quem passa por ela nos corredores da residência onde mora. Porto, Lisboa e Coimbra foram as cidades portuguesas que escolheu visitar. Porém, durante a interrupção letiva da Páscoa não hesitou em visitar o país vizinho. Salamanca, Madrid e Valladolid foram os destinos. Salienta a simpatia e cortesia das pessoas com quem se tem cruzado na Covilhã. Todos estão dispostos a ajudar quando necessita. Santa pondera voltar a Portugal depois do término de ERASMUS. Considera que Portugal é um país bonito e gostaria de regressar a terras lusas por um máximo de um ano. “Do que tenho experienciado, é a melhor coisa do mundo e estou a gostar muito. Não quero ir para casa. Estão a ser os melhores seis meses da minha vida”, são as palavras que Santa Rostoka usa para resumir a sua permanência em Portugal. A mobilidade estudantil permite que cada estudante se aperceba dos seus limites e viva intensamente o momento. Para quem foi, é uma experiência a não esquecer e aconselham todos a seguir o seu destino. Quem está prestes a partir, mostra-se reticente mas não esconde a vontade de correr em busca do desconhecido.