Urbi@Orbi – Numa altura de crise como a que a Europa está a viver, é fundamental reforçar a aposta na cooperação interparlamentar para que os países da UE possam delinear estratégias comuns?

João Soares - Não falaria em reforçar, porque tem havido uma cooperação interparlamentar muito intensa. O parlamento português tem tido um papel muito ativo nas várias organizações internacionais onde está representado. Isso resulta da abertura de todos os presidentes da Assembleia da República, tanto anteriores como da atual. Assunção Esteves tem aberto as portas para que essa cooperação interparlamentar continue.

Urbi@Orbi – De que forma é que esta pode ajudar no combate à crise?

João Soares - Pode ajudar abrindo portas no plano internacional para uma cooperação de outro tipo, nomeadamente no plano económico. Os portugueses tiveram e continuam a ter uma presença muito significativa nas organizações internacionais. O deputado José Lelo presidiu até há dois anos à Assembleia Parlamentar da NATO, onde estão representados muitos países e países importantes. Eu também tive a presidência da Assembleia Parlamentar da OSCE - Organização para a Segurança e Cooperaçao na Europa, onde houve uma série de contactos que foram feitos através dessas organizações que se traduzirem em oportunidades de negócio para empresas portuguesas. É nesse plano que vamos continuar a trabalhar.

Urbi@Orbi – Na sua opinião, quais as correções a fazer nesta governação global para poder inverter o ciclo de crise?

João Soares - Há coisas com que me debato pessoalmente há muitos anos enquanto socialista: Tem de haver uma regulamentação dos mercados e sobretudo dos mercados financeiros, que nos levaram a esta crise na lógica liberal que tem dominado a política no plano internacional. É preciso tomar medidas concretas que de uma vez por todas reduzam a margem de manobra dos especuladores: acabar com os off-shores, aplicar a taxa Tobin. Tenho defendido isso há muitos anos, praticamente isolado, às vezes mesmo dentro do próprio PS. Hoje tenho a satisfação de dizer que já muita gente está a falar dessas coisas.

Urbi@Orbi – Preocupa-o esta possível desintegração, caso a Grécia abandone o projeto europeu?

João Soares - Isso seria qualquer coisa de absolutamente dramático e impensável. Seria impensável que a Europa abandonasse a Grécia, e seria impensável que a Alemanha, em nome de uma visão contabilista, estrita e estreita, deitasse por terra o projeto mais fascinante, mais revolucionário e mais progressista que se fez no mundo no último século. Que nasceu, e é bom que os alemães não se esqueçam, depois da II Guerra Mundial, do estado em que uma certa Alemanha deixou a Europa e o mundo.