Urbi@Orbi - Como é que começou este gosto pela música?
Francisco Franco - Tenho um primo que estudou saxofone e de vez em quando tocava em jantares de família ou em atividades desse género e talvez tenha sido por aí que me comecei a interessar pela música. Depois passei a estudar no Conservatório da Covilhã. Como de início não tinha escolhido qualquer instrumento, por pouco não fui parar ao piano. Foi dos instrumentos que mais me despertou a atenção. Mas depois acabei por conhecer o professor Dejan Ivanovic, professor de guitarra que me acompanhou até ao ensino superior, daí este instrumento.
U@O - A guitarra foi uma paixão?
F. F. - Ao início foi sugestão do professor e depois acabei por gostar do instrumento. Penso que aqui o papel dos professores também é muito importante, e talvez tenha sido essencialmente por isso.
U@O - A formação base foi feita em Portugal e agora estuda na Áustria. Quais as principais diferenças?
F. F. - Infelizmente, e digo isto com muita pena, é uma diferença brutal. Aqui não temos uma tradição cultural. Na Áustria têm toda uma linhagem que já vem de Mozart, Beethoven, Schubert, todos esses compositores passaram por lá. Aqui na escolha falamos de Camões, Eça e Fernando Pessoa e eles também falam dos sues escritores, mas também dos seus músicos.
Foi surpreendente verificar que todos sabem interpretar uma música destes compositores, há uma prática de ir a concerto e de apoiar a música. Ainda assim, o exemplo mais contrastante é o apoio às pessoas e instituições, que aqui em Portugal quase não existe.
U@O - É assim mais difícil conseguir atingir um prémio internacional, como tem sido o seu caso, ou pensa que esses são pontos secundários?
F. F. - Aqui também temos bons professores e isso faz a diferença. Dou o exemplo de um professor croata, que acabou por também representar muito na minha formação. A nível técnico têm as suas indicações estruturadas e sabem o que fazer para atingir os objetivos determinados. E mesmos os professores portugueses também têm uma boa formação. O grande problema está no apoio a estas atividades. Para que se tenha um exemplo, na Croácia, um aluno que vá para um concurso, a escola financia-lhe os custos, aqui isso é impensável.
U@O - O que fazer para rever este tipo de situação?
F. F. - Passa essencialmente pela educação. Há que fazer uma reforma e estavam a ser dados alguns passos há uns três ou quatro anos, quando decidiram incluir o estudo de um instrumento no terceiro ciclo; ou seja, as crianças agora têm a possibilidade de começar a estudar um instrumento. Isto é bom, não só a nível musical, porque favorece a formação de um individuo. Na música, para além do talento é preciso ter método e isso ajuda bastante para todas as restantes áreas da vida. Falo da minha experiência e dos métodos que apliquei a estudar guitarra que depois utilizei para muitas outras disciplinas.
U@O - Mas a música continua a ser um parente pobre relativamente a outras disciplinas ou áreas mais clássicas?
F. F. - Muitas vezes, quando estou num grupo de amigos ou conhecidos, alguém pergunta ou que é que estudo. Quando a resposta é a música segue-se sempre nova pergunta, que vai no sentido de saber se tenho algum curso, para além deste, se toco numa banda, enfim, coisas desse género.
O grande problema está no facto das pessoas não terem ainda o conhecimento necessário do que é um músico enquanto um profissional. Isto também pode ser culpa dos músicos, mas é um problema que vai demorar algum tempo.
U@O - Como foi ganhar estes prémios, nomeadamente o de Londres e o de Belgrado?
F. F. - Foi algo fantástico. Estou nestes concursos há algum tempo, tenho primeiros prémios noutros concursos, mas também tenho alguns segundos prémios, precisamente nestes desafios. O mais fácil aqui é mesmo perder. No ano passado, na Sérvia, no mesmo concurso que ganhei este ano, tinha passado à final em primeiro lugar, e nos últimos três minutos da prova tive dois lapsos de memória que me levaram a perder um ponto percentual e a ficar em segundo no concurso. Mas este ano acabei por conseguir vencer os dois desafios.
U@O - E para o futuro?
F. F. - Por agora estou a fazer o mestrado. No próximo ano quero concluir esta fase que pede alguns programas específico. Devido aos primeiros prémios nos concursos consegui também vários concertos, nomeadamente na Itália, Grécia, Roménia, Sérvia, Reino Unido e em Portugal. Pendente está também uma gravação de um novo trabalho.