Michael Mathias, docente do Departamento de Engenharia Civil e Arquitetura da Universidade da Beira Interior, apresentou uma comunicação sobre um dos vestígios históricos mais importantes da cidade da Covilhã. No âmbito da iniciativa do Museu dos Lanifícios “Tardes de Quinta”, o investigador teceu algumas ideias base sobre a importância destes elementos e lançou o desafio agora aceite pelo Urbi, visitar as muralhas.
Numa manhã de chuva em que o tempo parece não ajudar percorrem-se a pé as estreitas ruas da denominada zona histórica. Os públicos deste órgão de comunicação social vão, em poucos minutos, revisitar o passado.
Na passagem por diversos locais junto ao mercado municipal é possível identificar vários troços de muralhas ainda visíveis, apesar do seu estado de abandono. Entretanto, e para contextualizar historicamente esta visita, torna-se obrigatória uma passagem prévia pela Biblioteca Municipal da Covilhã. Luíz Fernando de Carvalho Dias em História dos Lanifícios (1750-1834) diz acerca das muralhas: “Tem muros (...) e tudo de pedra de cantaria lavrada neles se acham cinco portas grandes, com seus torreões; duas para nascente, chamadas da Vila e do Sol; a terceira para Sul, denominada de S. Vicente; a quarta para Norte, com o nome de Altravelho; a quinta para o poente, chamada de castelo, junto à qual em sítio mais superior, está uma eminente torre, chamada de a menagem, com cinco quinas (...) Nos mesmos muros existem ainda quatro postigos: o da Pouza, o do Rosário, o da Barbacã e o Terreiro de D. Teresa (...)”.
Os turistas perguntam onde estão as muralhas? Junto ao calvário, em frente à capela de Santa Cruz, situava-se o castelo com a sua torre de menagem de cinco quinas. O arco da Coarca, que dava acesso à Rua da Saudade, foi desmantelado. Algumas capelas também foram destruídas: a capela de S. Sebastião, de S. Vicente, de Santa Marinha, do Senhor Jesus, da Senhora do Rosário. Na Praça do Município (Pelourinho), foi destruído o antigo edifício filipino que servia simultaneamente de Câmara e Cadeia, bem como a Porta da Vila e a sua torre incrustada no edifício. Da velha praça, apenas resta a igreja da Misericórdia. “É um facto que as muralhas têm sido destruídas. Os troços de muralha são insuficientes para quem visita a Covilhã”, garante Bruno Ferreira, 24 anos, natural de Lisboa de passagem pela “Cidade 5 estrelas”. O jovem lamenta que sucessivos executivos camarários continuem “a olhar para as muralhas como o parente pobre da cultura”. O vereador da cultura Paulo Rosa contesta estas afirmações: “É uma prioridade para a Câmara proteger a muralha. Decorrem trabalhos na Porta de S.Vicente (junto ao mercado). Nesse local será feito um miradouro”. O responsável da autarquia refere ainda que existem planos para a zona do castelo.
A Porta da Vila ou Arco da Cadeia era a principal porta da muralha, ladeada por duas torres de que o antigo edifício filipino conservava apenas uma. Constituía um imponente baluarte defensivo.
Posteriormente, a muralha seguia para Sul em direção às Portas do Sol, ao longo da rua António Augusto Aguiar. Hoje, pouco resta das Portas do Sol, contudo mantém-se intacto o troço que une as muralhas às Portas de S. Vicente. Nas imediações da APPACDM, antiga PSP, situava-se o postigo da Barbacã.
Da já falada Porta de S. Vicente, as muralhas seguiam pela rua D. Cristóvão de Castro. Nas proximidades do Largo da Senhora do Rosário, situava-se o postigo do Rosário. As muralhas seguiam depois para Norte em direção ao castelo, pela rua Capitão João de Almeida. Chegados ao castelo, podemos constatar que a fábrica dos Pintassilgos veio destruir a antiga fortaleza. No cimo da rua Capitão João de Almeida, abria-se a Porta do castelo. Nesta zona, encontrava-se o postigo da Pouza. Do postigo da Pouza até às Portas do Altravelho não se sabe em rigor a localização exata das muralhas. Provavelmente, a muralha seguiria em direção à rua do Norte, onde ainda são visíveis vestígios.
No fundo da rua do Norte, integrando o antigo edifício do Bombeiros Voluntários da Covilhã, a muralha dirigia-se para Sul. Neste local, situava-se o postigo do Terreiro de D. Teresa. No séc. XXI, existe uma travessa com o nome de Postiguinho. O Teatro-Cine e o antigo café Montalto destruíram o troço de muralha que unia o postigo do Terreiro de D. Teresa à Porta da Vila.