Urbi@Orbi – Promovem um debate profundo sobre o jornalismo e o impacto das novas tecnologias nesta área. Apostam também em novas regras para a atividade, como estão a concretizar isso?
Adelino Gomes – Este é um profundo projeto que analisa o jornalismo. Apresentamos dez princípios que esperemos, resolvem coisas mais profundas do que uma possível crise no jornalismo. Mas, o não cumprimento de princípios e as reflexões importantes sobre as baias do jornalismo evidentemente que podem agravar as situações.
O jornalismo português está em crise, está a atravessar o mesmo tipo de problema que atravessa a sociedade portuguesa. Ainda por cima, o jornalismo português vive a transição para o digital e coloca problemas profundos, que nos desorientam. Os jornalistas estiveram no palco da comunicação durante muitos anos, sozinhos, e esse lugar hoje é disputado por novos atores, nomeadamente aqueles a quem nós dirigíamos as nossas mensagens e que só tinham um pequeno eco que deixávamos no nosso jornal ou num programa escondido na grelha de rádio.
Agora, esses ouvintes, espetadores, leitores, bloggers, fazem parte do processo informativo. Nós até os acolhemos e mais, até fazemos primeiras páginas e aberturas de notícias com os seus trabalhos.
Urbi@Orbi – Apontar novos trilhos para o jornalismo é então a principal meta deste projeto?
Adelino Gomes – Encontrar o caminho para a reconversão do jornalismo é aqui a principal questão. O jornalismo tem de se reconfigurar, reinventar? São interrogações sem resposta, questões essenciais que continuam sem resposta. Este projeto pretende, não responder a essas questões, mas problematizar estas questões e chamar essas pessoas para a universidade. À academia, neste caso, não cabe apenas fazer mais um estudo e dizer, as respostas são estas, a universidade lança o desafio para tentar encontrar resposta a estas questões.
Neste aspeto, aquilo que pretendemos poderá até passar por alterar os dez princípios que foram considerados nos Estados Unidos da América.
Urbi@Orbi – Tem incluído neste debate alunos de jornalismo e também membros da comunidade. Como tem sido a interação com estes elementos?
Adelino Gomes – No caso da UBI, por exemplo, tivemos aqui um conjunto de perguntas considerável, feitas por jovens estudantes de jornalismo. No arranque deste projeto, em Coimbra, houve também muitas perguntas e respostas. Isto mostra como os jovens estão alertas para esta temática. Gostei muito desta iniciativa de colocar os estudantes a trabalhar sobre o tema, a estudar e debater os princípios e tentar responder às perguntas. Isso significa um envolvimento deveras interessante.
Urbi@Orbi – O conceito de jornalismo está então a mudar?
Adelino Gomes – A avaliar pelas intervenções que aqui foram colocadas isso é um facto. Ninguém tem ainda respostas definitivas para este problema, ninguém sabe resolvê-lo, mas estamos a tentar. Tendo em conta o que aqui foi avançado, a dinâmica do fórum veio dar uma nova vida ao jornalismo. Os estudantes são os primeiros a dizer que estão a estudar jornalismo e querem ser jornalistas.
Urbi@Orbi – E a implementação das conclusões a que possam chegar?
Adelino Gomes – O código mais antigo que conheço, o “Código de Hamurabi”, tal como os Dez Mandamentos, estão sempre a ser postos em causa. O nosso código deontológico, por vezes sofre o mesmo. Fazer os princípios, torná-los públicos, não quer dizer que sejam aceites por todos. Estes só serão postos em causa se colocarem em causa alguns aspetos que de outra forma devem ser seguidos. Estes princípios passam a existir para que os bons profissionais sintam um caminho, um guia, alguma coisa que os junte aos outros e que lhes mostre que há uma forma de fazer jornalismo, como há uma forma de fazer engenharia.
Urbi@Orbi – Muito se fala de jornalismo, mas há poucos debates. É difícil debater o jornalismo?
Adelino Gomes – O debate sobre o jornalismo é muito questionador, tem de se pensar sobre as coisas e há que se expor e por isso sentimos que estamos sempre a ser examinados.