Os fundos comunitários e os restantes dinheiros públicos têm sido aplicados ao sabor do momento. Por todo o território nacional são visíveis estruturas desportivas e de outra natureza, cujo enquadramento social, qualidade de utilização e necessidade de construção são fatores inexistentes na hora da decisão.
É precisamente para dar um fim a este tipo de situações que Miguel Relvas, ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, que tem também tutelado o desporto, nomeou uma comissão composto por individualidades de vários quadrantes, com o instituto de produzir uma carta desportiva nacional. Entre os membros convidados a integrar este grupo de trabalho está João Leitão, da Universidade da Beira Interior, que se junta a José Vicente Moura, do Comité Olímpico, João Paulo Bessa, do Instituto de Desporto de Portugal e Fernando Seara, em representação dos municípios portugueses, entre outros. Para além do administrador da UBI, as instituições de ensino superior estão também representadas por Luís da Cunha, professor da Faculdade de Motricidade Humana. Leitão começa por explicar que “este grupo de trabalho, o que vai fazer é desenvolver uma metodologia que sirva de base à nova carta desportiva nacional”.
As primeiras reuniões de trabalho decorreram já nas últimas três semanas na capital e o grupo tem agora 45 dias para apresentar um documento final. “Até ao momento temos desenvolvido trabalhos na Secretaria de Estado do Desporto. Agora vão ser auscultadas outras entidades que direta ou indiretamente vão estar ligadas à aplicação da nova carta. Estamos a apontar para um cuidado relevante na questão da certificação dos equipamentos e das tipologias das infraestruturas desportivas”. No entender deste responsável académico, a presença de um represente da UBI é de extrema importância para a instituição. Isto porque, “se tem esta representação é porque esteve associada a uma rede e essa reconheceu na instituição a existência de uma experiência e também de trabalho feito que pode trazer um aporte nomeadamente aquilo que é a inclusão, em termos sérios da articulação entre o desporto escolar e o desporto universitário. E também a ligação das estruturas desportivas às estruturas de investigação”.
João Leitão esclarece, todavia, que o está a ser feito é um trabalho técnico de proposta de metodologia, não se trata, por isso, “de definir investimentos”. “Evidentemente que há determinadas realidades para as quais nós somos sensíveis e ao participar numa comissão tão eclética como este existe sempre a possibilidade de trazer vantagens e refletir realidades que hoje não estão vistas”. Nesse ponto, o administrador adianta que “a instituição Universidade da Beira Interior vai ter um papel importante naquilo que é a futura implementação desta metodologia”. Numa das grandes linhas de aplicação desta nova carta estará a relação entre a prática desportiva e as academias. “Diversificar as modalidades e alargar a prática desportiva, em diferentes localizações são objetivos deste plano. É também importante reavivar o desporto escolar e fazer a ligação com o desporto universitário. Dar continuidade ao trabalho que é feito no ensino preparatório, na universidade, e criar uma “espinha dorsal” comum”, atesta João Leitão. Objetivo alargados que passam a dar uma nova visão das estruturas desportivas, da oferta e da coordenação de todas as práticas. As academias devem ser incorporadas numa vasta rede de estruturas desportivas que devem servir os cidadãos. Estruturas essas, que no entender deste grupo de trabalho, devem apresentar critérios de qualidade e de oferta de práticas desportivas como até aqui não possuem. Uma meta que deverá ser atingida “com propostas de alterações legislativas em sede daquilo que é o quadro regulamentar das estruturas desportivas e do seu licenciamento”. A comissão trabalha também “na ligação entre o mapa de estruturas municipais e os estabelecimentos de ensino superior, nomeadamente com valências na área das Ciências do Desporto, é um aspeto que vai ser também incorporado. E a definição de um conjunto exaustivo de indicadores que vão permitir otimizar a decisão de localização das novas infra-estruturas, mas também dar prioridade a essas intervenções”.
A calendarização das medidas previstas neste documento diretivo ficará a cargo do Governo. Mas, para os membros da equipa, a elaboração do mesmo configura um importante ponto de viragem, nomeadamente na integração das academias na rede de estruturas desportivas nacionais. A UBI poderá assim vir a ser um dos polos de excelência neste domínio. Neste contexto, a nova carta funcionará ainda como documento orientador para a aplicação das futuras verbas europeias destinadas a este setor.