Urbi@Orbi – Porquê e agora esta candidatura?
Luís Taborda Barata – Foi algo inesperada, mas houve essa necessidade com a saída do professor Miguel Castelo Branco. E havia a necessidade de dar continuidade ao nosso projeto, algo que é assinado por um núcleo mais central de docentes, mas que é partilhado por todos. Este grupo foi, de facto, o que elaborou a candidatura às anteriores eleições e, no fundo, há a necessidade de manter essa linha identitária. A candidatura tanto poderia ter sido minha como de qualquer outro desses docentes mais envolvidos na definição do projeto.
Achei que poderia, de alguma forma, contribuir para o projeto porque estou precisamente dentro dessa nossa grande linha geral, daquilo que queremos que seja o futuro desta casa e por outro lado estou na charneira entre a componente clínica e a componente básica que é a investigação e neste contexto decidimos que faria sentido continuar com o mesmo perfil de liderança. Vai haver uma linha de continuidade, mas certamente existem desafios que foram surgindo e portanto vão existir algumas alterações.
Urbi@Orbi – Esses desafios passam essencialmente por que áreas?
Luís Taborda Barata – Tendo sido o primeiro a ser implementado aqui, cabe-me falar no curso de medicina. Este, pela primeira vez, começa a apresentar um panorama mais complicado e o que é certo é que já há vagas inferiores ao número de candidatos, alguns dos atuais alunos já vão encontrar dificuldades no mercado de trabalho e isso já se começa a expressar nos recém-licenciados e nos jovens médicos que encaram a possibilidade de emigrar. Certamente que o mercado de trabalho vai ser diferente e vai ser mais difícil.
Mesmo em termos de Ciências Farmacêuticas o mercado mudou radicalmente. Penso que o futuro vai implicar um repensar do perfil e do que é ser farmacêutico. Esses são os grandes desafios que é o tentar apetrechar, de forma diferenciada, os nossos alunos para que eles possam vingar no mercado de trabalho. Depois também a questão da excelência da investigação. Nós temos um centro de investigação muito bem classificado e queremos aumentar o financiamento e isso só se consegue atraindo os melhores e internacionalizando a investigação. Queremos também dinamizar a investigação para que o próprio tecido social à nossa volta que passam pelos hospitais, centros de saúde e outros, participando como um todo.
Interessa-nos consolidar o processo de ensino/aprendizagem e também no aprofundar de uma certa preocupação social que a faculdade e a universidade devem ter. Neste momento de grande crise, devemos participar e estar alerta em relação às carências que existem no mundo à nossa volta.
Urbi@Orbi – A faculdade tem vindo a ser dirigida por docentes que estão profissionalmente ligados à prática médica. Acha que essa é uma condição substancial ou nem por isso?
Luís Taborda Barata – De uma certa forma, estar ligado à clínica e à prática médica implica já uma aprendizagem e um ensino, seja com colegas ou alunos a dar ou a receber formação e informação; isso implica sempre essa postura, geralmente a maior parte das profissões são assim. Obviamente que quem já tem uns anos nesta área poderá ter a vantagem de um discurso em que procura harmonizar as duas vertentes.
Aqui há também uma componente de ensino, de investigação e de atividade profissional, numa faculdade que é de Ciências da Saúde e portanto vale para diversas formações. Daí que o mesmo se pode passar se estiver à frente da faculdade, um farmacêutico ou outro qualquer profissional da área. O que importa ressalvar é esta visão mais integradora daquilo que é, obviamente, a área da saúde.
Urbi@Orbi – O professor está nesta faculdade desde o seu início, foi um dos fundadores. Como é que viu todo o crescimento da faculdade?
Luís Taborda Barata – Este é um regresso às origens. Fui o primeiro presidente do Departamento de Ciências da Saúde, quando não existia um número considerável de docentes. Estive assim à frente do processo de construção do modelo de ensino e investigação desta casa. Esse foi um processo de criação de uma identidade que envolvia os hospitais, os centros de saúde, a região, na clarificação do que era este novo projeto de uma faculdade, aqui no interior, até em relação a outras universidades portuguesas.
Fui substituído por uma pessoa de uma qualidade fantástica, e existiram também pessoas que mantiveram um papel intermédio de grande qualidade, mas o professor João Queiroz teve um papel crucial na afirmação de toda esta empreitada. Nessa altura acompanhei-o de perto em algumas comissões e tive sempre imenso gosto em verificar que aquilo que foi o início do projeto continuou, aumentou e se consolidou, dando voz a todos os intervenientes e constituindo uma espécie de família, no seio da comunidade.
O professor Miguel Castelo Branco continuou sempre com a grande preocupação de tentar obter o máximo de qualidade em todos os domínios e responder aos novos desafios criados. Uma vez mais, também fui acompanhando algumas comissões e atividades.
Agora à frente da faculdade sinto que existe uma equipa forte que me acompanha, mas sinto que independentemente das dificuldades iremos encontrar as melhores soluções.
Urbi@Orbi – O impacto da academia no meio exterior tem sido enorme e esta faculdade apresenta alguns dos recursos e projetos que mais têm contribuído para isso. Como vai ser ela ligação e aos parceiros estratégicos da faculdade?
Luís Taborda Barata – Desde o primeiro minuto em que foi contextualizada a articulação com os três hospitais da região e os cinco centros de saúde, nucleares neste processo, nós tivemos uma grande adesão. Aquilo que cabe agora fazer é conseguir manter essa ligação e tenho a certeza de que há vontade de todas as instituições para isso mesmo. Todos têm mostrado que este é um desafio regional e todos os envolvidos têm trabalhado para isso.
Esse desafio passa então por manter esta relação e alargá-la a outros parceiros. Gostaria também que todas as instituições que estão connosco se sintam ainda mais integradas neste grande projeto, isso com mais propostas e mais decisões conjuntas.