Depois de várias décadas de exploração, as minas da Carrasca e de Vale d’Arca, onde se extraia urânio e rádio, foram abandonadas. Uma área significativa de terreno acabou por ser deixada em completo abandono, bem como parte dos resíduos que resultaram dessa mesma atividade.
Estes são apenas dois exemplos de um vasto conjunto de antigas minas portuguesas que se encontram encerradas, mas que deixaram perigosos focos de contaminação ambiental.
Fábio Pombar desenvolveu um conjunto de análises e testes a estas duas antigas minas, no âmbito de uma tese de mestrado orientada pelos docentes Pedro Almeida e Sandra Soares. Durante este trabalho “foram analisadas as escombreiras de duas antigas explorações mineiras de urânio da região de modo a determinar os níveis de radiação gama naquelas zonas, analisando também a mobilidade dos materiais e identificando os elementos radioactivos presentes”.
Para o responsável por esta atividade os resultados são preocupantes. Fábio Pombar atesta que “nalguns locais das escombreiras, os níveis de radiação gama são superiores a três microSievert/hora”. Em termos de comparação, a radiação gama na cidade da Covilhã, varia entre os 0,2 a 0,3 microSievert/hora. Esta radioactividade tem levantado grande preocupação a nível mundial, devido às consequências que pode causar para a saúde e para o ambiente. Os resultados obtidos neste trabalho científico de geotecnia e ambiente voltam a relançar a urgência de solucionar este tipo de situações. O autor do referido trabalho acrescenta ainda que “após o encerramento das explorações mineiras existentes na região as escombreiras permaneceram a céu aberto, existindo nas proximidades, terrenos agrícolas, cursos de água e populações. A proximidade desta região com a Covilhã pode indiciar uma possível contaminação ambiental”.
A situação atestada por esta análise científica está agora a ser minimizada. Neste momento foram iniciados trabalhos de reabilitação ambiental nas zonas das antigas minas, por parte da empresa EDM. “As escombreiras foram removidas, e os níveis de radiação estão a diminuir consideravelmente”, diz Fábio Pombar que salienta os muitos anos de “materiais radioativos presentes nas escombreiras instáveis e os possíveis danos ambientais que tal provocou”. Um solo contaminado pode ter efeitos negativos a grande escala, “uma vez que os contaminantes podem expandir-se para outros meios”. Quando ocorrem grandes precipitações, o solo pode movimentar-se por erosão e os contaminantes podem chegar aos aquíferos. As minas desta zona, que há largos anos se encontram nesta situação, resultam de “falta de legislação nos tempos em que laboravam”. Os planos de mitigação ambiental são, por agora, uma primeira forma de abordar este problema, refere o autor da análise. Uma solução implementada nas Minas da Urgeiriça, na zona de Nelas, com resultados positivos. Mas na Beira Interior, um pouco à semelhança de outros pontos do País, existem ainda locais onde as escombreiras destas minas antigas permanecem a céu aberto, com todos os perigos que tais situações representam.