Mobirise

A viver numa das cidades mais movimentadas do mundo, Sara Natsumi Barros estudava marketing na universidade de Tóquio. Mas, em
2014, veio viver para Portugal com os pais, por motivos familiares. Depois de 30 horas de viagem, chegou pela primeira vez ao país do seu pai.  Filha de um português e de uma japonesa, Sara tem outros familiares em Portugal, mas não tem muito contacto com eles, dado que viveu quase toda a sua vida no Japão. A irmã mais velha e os avós maternos continuam no extremo oriente, aonde regressa com alguma frequência para matar saudades dos amigos, a quem costuma levar produtos portugueses. A comunicação com os amigos que deixou no Japão não é fácil devido à diferença de horários, acabando por se basear na troca de mensagens e não tanto por videochamadas. 

Vida muito ocupada


Antes de vir para Portugal, Sara estudava e trabalhava em Tóquio, uma metrópole com milhões de habitantes. “A minha vida era muito ocupada, andava muito de um lado para o outro”.  O contraste entre Tóquio e a Covilhã é evidente para Sara. A jovem, que viveu quase 20 anos numa das cidades mais evoluídas do mundo, num primeiro momento sentiu muita falta de algumas coisas, nomeadamente no que diz respeito às tecnologias e cultura.

Agora que se adaptou à vida em Portugal, sente que se o que existe no Japão existisse na Covilhã tornaria as coisas muito confusas, tal como era a “confusão” da sua vida. Sara afirma que do que mais sente falta é das letras e da forma de escrever em japonês. Ainda que o pai seja português, Sara não foi ensinada a falar nem escrever nesta língua, algo que lhe trouxe bastantes dificuldades no momento de se instalar. Também o inglês não era uma língua muito praticada por Sara, o que tornou ainda mais difícil a comunicação com os portugueses na hora de fazer amizades. 

Barreira da língua


Já em Portugal, com a ajuda do pai e através de alguns cursos, Sara tem treinado arduamente a língua portuguesa e hoje já consegue falar, escrever e principalmente perceber o que é falado à sua volta. A barreira da língua foi um dos grandes obstáculos durante a licenciatura de Ciências da Comunicação na UBI, em que teve de repetir o primeiro ano, apesar dos esforços.
“Sinto muita falta de entender a cem por cento o que as pessoas estão a dizer”, confessa.

No que diz respeito à gastronomia, Sara aprecia bastante a culinária portuguesa, no entanto ressalta que os sabores são “bastante mais simples” do que no Japão. Até vir para Portugal, Sara não costumava comer muita fruta, porque no Japão é um dos produtos mais caros: “lá comer fruta é muito raro”.  Do ponto de vista de Sara, a integração foi difícil devido ao facto de os portugueses não facilitarem a entrada de novas pessoas em grupos que já estão formados: “Quando ficam em grupo a ligação é muito forte, eu já percebi isso. Mas quando entra uma pessoa nova eles não convidam à conversa e falam sempre do que é comum entre eles”. 

Quatro anos depois de se instalar na Covilhã, Sara tem agora três animais de estimação, um cão chamado Kuro, que adora passear no Jardim Público, e dois gatos, animais tradicionalmente adorados pelos japoneses.  Sente muita diferença nos costumes e hábitos dos portugueses. Por exemplo, o hábito de entrarem em casa e não tirarem os sapatos ou de não se sentarem no chão. Também acha que os portugueses são muito tranquilos e não têm muita pressa em fazer as coisas. 

Desde que está em Portugal, Sara já regressou várias vezes ao Japão e os seus amigos notaram que estava a ficar “mais portuguesa”.
Não foi apenas a sua forma de pensar que mudou, mas também a aparência física. Sara imagina-se a trabalhar na
embaixada juntando o melhor dos seus mundos: Japão e Portugal. “Se conseguir queria trabalhar na embaixada ou numa
empresa que faça a ligação com o Japão”.