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Ainda que não estivesse em risco eminente, Saffana Sadieh sabia que continuar a estudar num país em conflito tornaria o futuro incerto para a jovem ambiciona uma vida melhor. A guerra tem sido o motivo que conduz os jovens sírios a procurarem mais segurança e melhores perspetivas noutros países.  Saffana, que já era estudante universitária na Síria, veio para Portugal há cerca de três anos.

Hoje, a jovem síria está a terminar a licenciatura em Engenharia Civil e prosseguirá estudos na UBI, uma vez que o mestrado é integrado. 
Além de fugir à guerra, o desejo de conhecer outros países e estar em contacto com culturas diferentes também motivou esta jovem a sair do seu país. No segundo ano de faculdade que frequentava na Síria, Saffana viu a oportunidade de mudar, depois de ter ganho uma bolsa através da Global Platform for Syrian Students. Deixando a família para trás, fez as malas e rumou à cidade da Covilhã.

A viagem foi complicada e demorada, por questões de logística, uma vez que Saffana teve que cruzar a fronteira com o Líbano
para poder viajar de avião. A viagem desde a Síria durou 40 horas e a estudante ainda se deparou com
percalços no controlo de fronteiras à chegada a Portugal.  


"Quero ajudar a reconstuir a Síria, trabalhando no terreno"

Julie C.

Saffana

Mente mais aberta


Desde que está na UBI, Saffana já regressou à Síria de férias e vai voltar a fazê-lo neste verão. Mas hoje acha que mudou a sua forma de pensar, tendo-se tornado numa pessoa com uma “mente mais aberta”, uma vez que o contacto com as pessoas que a rodeiam a tem enriquecido com ideias e culturas diferentes.  Na Síria, “a vida era normal” e Saffana até considera que portugueses e sírios são muito parecidos, o que não significa que se sinta completamente encaixada. 

Ao contrário do que a maioria das pessoas especula, o clima na Síria é muito semelhante ao de Portugal. Esse é um dos aspetos sobre o qual Saffana é mais questionada, ficando surpreendida por tantas pessoas acharem que a Síria é um deserto e por não estarem à espera quando lhes diz que por vezes neva no inverno. “Todas as pessoas me perguntam se sinto muita diferença em relação ao clima mas na verdade é muito semelhante. No inverno temos dias muito frios e no verão temos dias muito quentes”.  A jovem síria aprecia a culinária portuguesa, sendo o seu prato preferido o tradicional bacalhau com natas. Ainda assim, sente muita falta da comida síria. O que conquistou de imediato a estudante de Engenharia Civil foi a natureza em Portugal.  

A língua foi a maior dificuldade


A grande dificuldade que Saffana enfrentou quando chegou foi, “sem dúvida, a língua”, confessa a estudante: “Nunca na minha vida tinha ouvido ninguém falar português”. Apesar da dificuldade, Saffana esforçou-se continuamente em aprender e aperfeiçoar a língua portuguesa, auxiliando-se dos cursos de português para estudantes estrangeiros que a universidade promove e que foram uma mais-valia para a jovem. Relativamente às aulas, Saffana tem alguns professores que dão as aulas em inglês e os que não dão mostram-se prontos a ajudá-la no com o que não consegue acompanhar.

Saffana considera que os portugueses são “muito amigáveis”, dentro e fora da universidade, e que é sempre bem recebida nos espaços públicos. Os sírios são mais conservadores nas relações interpessoais, explica a jovem.  “Estou a gostar muito da minha experiência cá e, se pudesse voltar atrás no tempo, definitivamente voltava”. Depois de concluir os estudos, a jovem síria imagina-se a trabalhar em Portugal durante três ou quatro anos para adquirir novas experiências. No entanto, o objetivo de Saffana é voltar para a sua terra natal. O seu grande sonho é “trabalhar numa grande companhia, ser uma excelente profissional e ajudar a reconstruir a Síria trabalhando no terreno”. 

Ramadão

Como muçulmana, Saffana tem de cumprir o Ramadão, um ritual de jejum praticado no nono mês do calendário islâmico. A data de celebração varia todos os anos, uma vez que o calendário é lunar, mas tem sempre a duração de 29 ou 30 dias. Durante este período, os muçulmanos abstêm-se de comer, beber, fumar ou ter relações sexuais desde que o sol nasce até que o sol se põe.

O jejum obrigatório aparece assim como uma forma de disciplina espiritual e de autocontrolo profundo, que prova aos crentes que podem mandar nas suas próprias paixões e desejos e alcançar grandes feitos se resistirem aos desejos mundanos e superficiais.

O Ramadão é também a altura para reconciliações antigas, independentemente das suas religiões e crenças. É entendido pelos crentes muçulmanos como um tempo de renovação da fé, de caridade, de fraternidade e de valorização da família.