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Os empresários abandonaram o Parque Tejo na tarde de quarta-feira

Empresários dos carrosséis de diversão em protesto: mais uma moeda, mais uma viagem

Durante semanas, centenas de empresários do sector da diversão concentraram-se em Lisboa. Houve protestos, violência, buzinas e negociações. Na hora da desmobilização ficou um pedido de desculpas aos lisboetas

> Igor Costa

Os empresários das diversões já deixaram Lisboa, onde se concentraram e manifestaram nas últimas semanas. Em causa está a nova legislação para o sector, publicada em Setembro pelo ministério da Economia, no seguimento de directivas europeias. O governador civil da capital impediu os empresários de fazerem novos desfiles com os camiões, e estes vão agora para o Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, sem muitas garantias.

O diploma aprovado pelo ministro Teixeira dos Santos, que então acumulava esta pasta com a das Finanças após a demissão de Manuel Pinho, vem regular o licenciamento dos recintos itinerantes e improvisados, bem como aspectos relacionados com a segurança dos equipamentos que aí funcionem.

Segundo a Associação Portuguesa de Empresários de Diversão (APED), os agentes económicos afectados não foram ouvidos e, por isso, criticam o preço das inspecções e a forma como o diploma entrou em vigor: 30 dias depois de promulgado, não possibilitando a adaptação. Em causa estava também o facto de essa regulamentação «não se aplicar a 90 por cento dos equipamentos existentes, às vezes por centímetros» o que, nas palavras do presidente deste organismo, obrigaria a enviá-los «para o lixo», por não poderem ser usados. «Não houve respeito pelos investimentos feitos. Pretendíamos um apoio à modernização, não nos foi concedido, vamo-nos desenrascar e dar formação às pessoas para que a partir de segunda-feira comecem a inspeccionar os equipamentos», resume Luís Paulo Fernandes, presidente da APED.

Na hora da partida, um empresário da Pampilhosa da Serra mostrava-se agradado com a forma como os manifestantes se foram reunindo: «No princípio éramos menos, mas os colegas foram aderindo à causa, foram-se apercebendo – porque andavam distraídos – da realidade e da complexidade da questão, e do que seria não poder funcionar com os nossos créditos, as nossas famílias». Segundo este feirante, «no resto da Europa também fizeram regulamentos para os que já estavam criados» e, se assim não suceder em Portugal, largas centenas de pessoas serão afectadas. «A nossa causa é o direito ao trabalho, um trabalho que é nosso e que estávamos impedidos de fazer», explica.

Marcelo Matias, natural de Torres Vedras, veio de Braga há vários dias, com uma dezena de colegas. «Não tínhamos mais nada a fazer. Foi o limite», assevera. Uma longa viagem e vários dias depois, o balanço resume-se facilmente: «As coisas podiam ter corrido de outra forma, mas valeu a pena». «Não conseguimos o que queríamos, mas já conseguimos muita coisa. Conseguimos trabalhar, que era coisa que não conseguíamos. Havia pessoas que achavam que nós estávamos aqui a pedir baixa de preços do Estado, mas o que nós queremos é trabalhar, é um prazo de adaptação a esta lei», concretiza.

Na manhã de quarta-feira, Luís Paulo Fernandes e outros dirigentes da APED circularam pelas ruas de Lisboa numa acção simbólica, onde pediram desculpas à população lisboeta pelos incómodos causados, apesar de dizerem que têm razão na sua luta. Cidadãos cuja segurança, reforça o dirigente associativo, nunca esteve em causa: «Em tantos milhões de pessoas que passam por tantas romarias, do Minho ao Algarve, não há 1 por cento de incidentes, quanto mais de acidentes».

Impedidos pelo governo civil de Lisboa de repetirem manifestações como a de domingo, em que mais de uma centena de veículos percorreram algumas das principais artérias de Lisboa, os empresários rumam agora a Norte e ponderam apresentar uma providência cautelar contra este organismo público. «Os factos ocorridos nos últimos dias, com o anúncio e concretização pelos promotores de situações caóticas no trânsito da cidade de Lisboa, determinaram a necessidade de compatibilizar o direito de manifestação, o livre exercício dos direitos das pessoas e o respeito pela ordem e tranquilidade públicas», justificou António Galamba, em comunicado. Segundo o representante do Governo no distrito de Lisboa, «a gravidade e extensão dos impactos dos desfiles destinados, não a afirmar uma ideia, um valor ou uma posição, mas a lançar o caos no trânsito, colocaram em causa a ordem e a tranquilidade públicas».

A opinião de Luís Paulo Fernandes é outra. «Não nos podem acusar de negligência», sentencia, à medida que dezenas de camiões vão deixando o Parque Tejo. «Consegui que concorrentes – cada camião era um concorrente, uma empresa – se juntassem, conseguimos provocar um tombo na opinião pública e principalmente no Governo», enaltece o dirigente da APED. Em cima da mesa está também a hipótese de ser entregue na Procuradoria-geral da República uma queixa contra a actuação policial durante estas semanas.


Os empresários abandonaram o Parque Tejo na tarde de quarta-feira
Os empresários abandonaram o Parque Tejo na tarde de quarta-feira


Data de publicação: 2010-02-04 09:55:36
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