ARMAMAR: As tradições do nascimento do menino Jesus
Ainda o mês de Novembro está a terminar e já os armamarenses começam com os preparativos de natal
> Cristina SoutoDe todas as cores, sempre a piscar, as luzes de Natal enfeitam as casas e as ruas da vila de Armamar. Por onde quer que se vá, há sempre o cheirinho da madeira a arder. Os dias são muito frios e nada melhor que uma lareira acesa para ambientar as casas. Um pouco por todo o concelho vive-se o espírito de Natal: nas varandas vê-se o Pai Natal pendurado, os jardins enchem-se de luzes e nas igrejas montam-se os presépios.
O Natal é a festa da família e nesse dia tudo tem de estar a rigor. As famílias tentam juntar o maior número de pessoas à mesa. Vindos da França, da Suíça e da Alemanha, são muitos os emigrantes que regressam à sua terra natal para estar com a família. As famílias são grandes, por isso a preparação das iguarias natalícias começa bem cedo. No dia 23 à tarde fazem-se as filhós pois este doce requer algum tempo para ficar pronto: tem de levedar e só quando a massa está no ponto certo é que vai para a frigideira. O tradicional bacalhau também é posto a demolhar com alguns dias de antecedência.
Embora o frio seja muito, manda a tradição que no dia 24 à tarde todos os homens da vila se organizem para ir à mata buscar lenha. É escolhido o maior “toco” para fazer uma enorme fogueira na praça. Como refere Manuel Mendes, “não se deve deixar apagar o lume porque o menino Jesus tem frio”.
Nas cozinhas são principalmente as mulheres a preparar as receitas de Natal, enquanto os homens preparam a lenha para que a lareira se mantenha acesa toda a noite, britam as nozes e as amêndoas, e escolhem um bom vinho. As mesas estão repletas de tudo um pouco: dos doces aos salgados, neste dia petisca-se um bocadinho de tudo. Pela casa é a correria das crianças que estão ansiosas pela chegada do Pai Natal.
Quando já tudo está pronto, a família senta-se finalmente à mesa para a noite de consoada. Come-se o tradicional bacalhau com batatas e legumes cozidos regados com um azeite da região. Para além do bacalhau, “em algumas casas também é tradição comer-se raia cozida” diz Ducelina Dias. No final do jantar vêm os doces: as rabanadas, as filhós, a aletria, os sonhos, o bolo-rei e o tronco de Natal são apenas algumas das iguarias.
A tradição já não é o que era, e talvez por isso, hoje em dia só praticamente os mais velhos vão à Missa do Galo. Como explica José Silva, “os filhos e os netos já não ligam a estas coisas”. A abertura dos presentes é o ponto alto da festa para as crianças. Depois de longas horas à espera, é chegado o momento. Nos coraçõezinhos dos mais pequenos cresce a dúvida: “será que o Pai Natal me trouxe a prenda que eu tanto quero?” O desembrulhar dos presentes é sempre um momento mágico para os mais jovens.
No dia 25 de manhã, os habitantes de Armamar assistem à missa do nascimento do menino Jesus. Ao almoço come-se o cabrito com arroz e batata assada e, nalgumas casas, é também tradição comer a “roupa velha”, especialidade confeccionada com o que sobrou da noite de consoada. Durante a tarde a família volta a reunir-se em frente à lareira e os mais novos deliciam-se em brincadeiras com os presentes que receberam.
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