A Arte, a Ciência e o desperdício
A instalação interactiva Corpo, Memória e Desperdício é um teatro de objectos com pequenas narrativas que as pessoas têm de descobrir para criar a sua história individual por entre o caos de cabos, objectos e mapas.
> Andreia MartinsO projecto “Corpo, Memória e Desperdício” foi apresentado no passado dia 17 de Dezembro no Laboratório de Instalações Multimédia Interactivas da UBI. Este trabalho é o resultado da parceria estabelecida entre a Quarta Parede – Associação de Artes Performativas da Covilhã e o departamento de Comunicação e Artes da UBI, e o objectivo é criar uma equipa interdisciplinar que estabeleça uma relação entre os alunos do Mestrado de Design Multimédia e os artistas e profissionais da multimédia, do teatro, da informática e da electrónica.
No "Corpo, Memória e Desperdício", os objectos funcionam como paisagens pequenas, grandes ou secretas, dependendo sempre do que o olhar quer alcançar. As pequenas paisagens representadas neste espaço têm ligações, através de sensores, de onde emergem narrativas que se espalham pelo espaço, pelo chão, pela parede e por todos os objectos suspensos por cima das cabeças dos visitantes. “Esta micropaisagem leva-nos para a macropaisagem, a narrativa de memória, da mente, do desperdício que produz, hoje, a nossa sociedade”, disse Sílvia Ferreira, uma das criadoras. Este projecto da Quarta Parede e da Universidade teve a intenção de fazer uma ligação entre a arte e a ciência através da utilização de objectos considerados lixo. “A arte embelezou os objectos e concebeu a sua disposição e a ciência deu-lhes vida ao colocar os sensores”, disse Sílvia Ferreira.
Este projecto partiu da reflexão sobre “as relações que o indivíduo estabelece com os objectos e a forma como estes se traduzem em desperdício e memória”. Para isso foram utilizados vários objectos de uso quotidiano, objectos de consumo rápido e fácil, objectos de que se costumam guardar apenas pelo seu valor afectivo e objectos infantis. Pretende-se trabalhar o desperdício no sentido do consumo e da acumulação, a que a maioria dos objectos estão sujeitos. Com a presença física de objectos como sanitas, sapatos, bonecas e utensílios de cozinha, todos adaptados com sensores que os fazem transmitir uma animação de imagens e sons, estes artistas pretendem também mostrar como é que os objectos constroem uma memória de consumo em massa. “ E como ao exibirem o consumo, os objectos acabam por representar memorias e vivências que são particulares de cada indivíduo”, acrescentou Sílvia Ferreira.
Esta instalação interactiva é um projecto dedicado à população em geral. Apesar de a maioria dos presentes serem alunos envolvidos no processo, “pretendemos que as pessoas vejam, interajam e desfrutem”, disse o criador Rui Sena. “ Queremos que as pessoas criem as suas próprias histórias e se revejam nos objectos”, acrescentou.
Multimédia