Queda do Muro de Berlim assinalada com conferência
O passado e a actualidade europeia estiveram em debate. História, segurança e política foram os grandes temas da tarde.
> Rui FerreiraComemorar os 20 anos da queda do Muro de Berlim, analisar as transformações internacionais que ocorreram nestas duas décadas e discutir os desafios que a União Europeia (UE) enfrenta, foram os principais objectivos da conferência que se realizou no passado dia 12 de Novembro na Universidade da Beira Interior (UBI). Ana Paula Brandão e Alena Vieira, da Universidade do Minho (UM), Maria Raquel Freire, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) e Teresa Cierco da UBI compunham o painel de docentes especialistas em Ciências Políticas e Relações Internacionais que falaram durante o evento.
Teresa Cierco, a organizadora do evento, foi a primeira a discursar. Na sua apresentação abordou o assunto de forma generalista enquadrando-o para as restantes conferencistas. Fim da guerra fria, reunificação alemã e desintegração da União Soviética foram os resultados da queda do muro, abrindo uma “década de 90 problemática para as relações internacionais, cheia de instabilidade e conflitos étnicos, um pouco como acontece hoje nos Balcãs Ocidentais que são uma ameaça à Europa e uma zona problemática por natureza”. A docente ubiana destacou a importância da UE na estabilidade destes países através das negociações internacionais e dos processos de adesão, considerando “a transição económica e política processos muito complicados, tendo que ser feitos de forma gradual” exigindo aos países sacrifícios, mas acabando eles por ganhar com isso. No final da sua intervenção falou das ameaças que a UE enfrenta, particularmente a nível de segurança, como o terrorismo e a imigração ilegal, destacando o crime organizado, em especial, a pirataria como o grande inimigo em ascensão.
Segurança foi justamente o tema de Ana Paula Brandão, que começou por mostrar ao auditório que “a UE não é exclusivamente um actor económico como se costuma pensar, sendo também um actor de segurança e este título tem vindo a ganhar força”. A conferencista disse que conflitos e guerras sempre houve, era um problema clássico, mas a Europa soube resolver esse problema através da integração, garantindo a paz permanente entre estados e revolucionando assim as relações internacionais. Com a queda do Muro de Berlim “abriu-se aquele espaço potentíssimo que é a Europa” e assistiu-se ao recuo dos americanos, contribuindo para a afirmação autónoma da UE em termos de segurança interna e externa. Hoje, a União Europeia é quem está melhor preparada para resolver questões internacionais pois tem uma dimensão exterior muito grande, considerou Ana Paula Brandão.
A questão da política externa continuou a ser abordada por Maria Raquel Freire, sendo a Federação Russa e a sua relação com a Europa o tema abordado. O “vizinho gigante e parceiro estratégico da União Europeia” como lhe chamou a professora da FEUC, após a sua desintegração deu origem a 15 novas repúblicas que têm tido uma aproximação à UE. A política externa russa está mais “acessível, pois como já é uma grande potência está à procura de reconhecimento e legitimação internacional” mas ainda muito centralizada nos antigos parceiros de União Soviética, querendo-os manter na sua área de influência. Isto está a criar uma “resistência” entre a Rússia e a UE, disse Maria Raquel Freire, pois “a União Europeia não apoia todas as iniciativas e aspirações democráticas para não estragar a sua relação com a Rússia”.
Não foi só a relação da Rússia que esteve em análise: a relação da Europa com os restantes países foi igualmente abordada. Alena Vieira na apresentação “Outra vez atrás do muro? A UE e os seus vizinhos”, deu destaque à Política Europeia de Vizinhança (PEV). “É uma política de alargamento que não necessita de proximidade imediata e é um plano a longo prazo, onde a ideia é ficarmos todos mais próximos”. Mas, como referiu a investigadora da UM, a Europa faz diferenciação na análise das adesões, dependendo por exemplo do princípio de democratização de cada país. A PEV tem limites na opção de adesão, mas “não é nenhum Muro de Berlim de certeza absoluta”.
O evento que comemorou os 20 anos da queda do Muro de Berlim contou ainda com a participação da professora ubiana Ana Paula Garcês, moderadora da conferência, para quem este evento “cumpriu todas as expectativas”, sobretudo pela presença de 150 pessoas no Anfiteatro Padre Videira Pires, local onde decorreu conferência.
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