“A tradição já não é o que era”
Esforça-se para continuar a lembrar o S.Martinho aos covilhanenses: chama-se José Pinto, mas é mais conhecido pelo "Zé das Castanhas".
> Pedro da CruzChama-se José Pinto e tem 47 anos. O Zé das castanhas, como é conhecido na Praça do Município, dá outro brilho, cor e cheiro à “cidade neve”. O dia já vai longo. O rosto cansado e as mãos negras do carvão comprovam isso mesmo, porém, quem corre por gosto não cansa. Quem o diz é o Zé: “ando nesta vida há 17 anos e faço-o por gosto. Contudo, isto é um simples part-time, tenho um emprego e vencimento certo”. O que o leva a andar na rua a vender castanhas, é uma paixão: “adoro comunicar, também já fiz grandes amigos na rua e, claro, um dinheirinho extra dá sempre jeito” diz Zé Pinto com um sorriso. Nesta época do ano, o Zé tira duas semanas de férias para se dedicar à venda de castanhas que, apesar da crise, ainda vai dando para viver. “Antes, vendiam-se mais castanhas, mas nestes últimos anos o negócio tem vindo a cair, porém, não me posso queixar…”
O vendedor ambulante de castanhas mostra-se orgulhoso no que faz e é bastante crítico em relação à juventude: “a malta nova não quer sujar as mãos, mas a água lava tudo. Não há que ter vergonha de ser vendedor ambulante, é uma profissão digna.” Na verdade, este é outro motivo que leva o Zé andar na rua. “Não quero que esta profissão acabe. Antigamente era os velhotes que o faziam, agora não se vê ninguém, gosto muito do que é popular, tradicional e típico”, afirma.
Apesar de se esforçar para manter a tradição nas ruas da cidade, o Zé está ciente que não é tarefa fácil: “ando nesta vida até me deixarem. Parece que andam aí uns indivíduos que gostam de acabar com as coisas típicas do país. Todavia, o homem das castanhas vai mais longe e dá conta das saudades que a ausência da mítica lista telefónica, que servia para embrulhar as castanhas: “a ASAE proibiu este ano o uso das folhas da lista telefónica. Era uma tradição com largas dezenas de anos, tenho pena, mas enfim…”, desabafa. Apesar de triste devido ao facto “da tradição já não ser o que era” o Zé das castanhas, esforça-se para mostrar ao mundo que ainda há vendedores ambulantes de castanha. E, já em jeito de despedida deixa a promessa: “para o ano cá estarei de novo nas ruas da Covilhã...”
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