Carpinteira já tem ponte

Está inaugurada a Ponte da Carpinteira. Uma passagem junto ao Bairro dos Penedos Altos, desenhada pelo arquitecto João Luís Carrilho da Graça, que vem já desde os planos do Programa Polis.

[Entrevista com arquitecto Carrilho da Graça]

No ponto mais alto da estrutura que agora une as margens da Ribeira da Carpinteira, a paisagem é marcante. Os 50 metros de altura que distam o tabuleiro da nova ponte pedonal, do leito da ribeira proporcionam uma vista singular para o vale da Serra da Estrela e também para a Cova da Beira. Mas colocam também em grande relevo a degradação de toda a zona. Cá em baixo, a Carpinteira não passa de fraco fio de água que vai percorrendo as curvas do leito, em seu redor, as ruínas de uma outra Covilhã. Fábricas que outrora laboravam e produziam são agora um amontoado de escombros e silvados. Nada que fizesse parar os populares que no passado domingo, 6 de Setembro, a pouco mais de um mês para as eleições autárquicas, estiveram na inauguração da Ponte da Carpinteira.
Foram gastos três milhões de euros numa obra que servirá para ligar o Bairro do Penedos Altos à Rua Marquês D'Ávila e Bolama. A pé, em marcha normal, o percurso pela nova ponte poupa cerca de cinco minutos, se tanto, pela alternativa de quem circula no traçado da Estrada Nacional 230, que liga a Covilhã ao Canhoso. Neste ponto estão baseadas muitas das críticas da oposição, mas o actual presidente da Câmara da Covilhã, novamente candidato à autarquia serrana, diz que “esta é uma obra emblemática e que marcará o futuro da cidade”. Para além disso, o social-democrata Carlos Pinto, que ontem inaugurou a passagem, confessa também que um dos grandes objectivos deste mandato passou por “encontrar soluções inovadoras de mobilidade pedonal urbana”. Talvez por isso já estejam projectados mais alguns elevadores similares ao de Santo André e outras tantas pontes pedonais.
O edil sublinha também que “a cidade está dotada de uma política de grande incidência ambiental, facilitadora da circulação de pessoas”. Mas talvez o que exista na política não se aplique depois no terreno. Basta, para tal, fazer o percurso, também pedonal, entre os Penedos Altos e a Rua da Indústria, seguindo a estrada de ligação ao Canhoso, que também foi intervencionada, para notar a falta de passeios neste troço. A festa continua, a política também e por isso mesmo estão já pensadas “as obras para os elevadores do Jardim Público e Goldra/Biblioteca da UBI, mas também um funicular de São João de Malta e uma ponte pedonal na Ribeira da Goldra que unirá o bairro de Santo António à UBI”.
Mas no passado domingo, à política e aos políticos juntou-se a Igreja, na bênção da nova estrutura e o povo. Balões, música, diplomas para quem atravessava pela primeira vez esta ligação, livros sobre a obra e comes e bebes completaram a festa. A festa de quem finalmente pôde atravessar “uma estrutura de grande racionalidade, mas também a bem sensual”, descrevia-a o seu mentor, Carrilho da Graça. O mesmo que falou ao Urbi sobre a sua obra, à qual se junta agora a Ponte da Carpinteira. Três milhões de euros, que Carlos Pinto garantiu não serem possíveis dedicar a qualquer outra “política”, deram origem, na óptica de Carrilho da Graça, “a uma ponte económica e dotada de uma sensação de protecção e segurança”.
O arquitecto diz também que “a ponte foi pensada como elemento leve e suspenso, que estabelece uma forte relação com a profundidade e a largura do vale da Carpinteira, permitindo um outro modo de reconhecer a estrutura do território”.
Adão da Fonseca, engenheiro civil responsável pela obra, também lembra que esta ponte “significa um pouco os trilhos da serra, pelas suas formas curvilíneas, que trouxeram grandes problemas em termos de engenharia”. Contudo, o responsável pela construção confessa que “a solução dos pilares acabou por dotar a ponte de uma leveza assinalável”.