Um novo Irão na Covilhã

Yaser Tavakoli é um jovem iraniano que está na Universidade da Beira Interior para realizar um doutoramento na área da Cosmologia. Há cinco meses em Portugal tem acompanhado a milhares de quilómetros todo o processo eleitoral e os momentos que, segundo ele, “são decisivos para dar origem a um novo Irão”. É disso que fala ao Urbi

Os olhos escuros de Yaser afundam-se no chão cor de tijolo da sala onde discute as matérias da sua tese de doutoramento com o orientador. Encontrar palavras em inglês para se conseguir comunicar com os portugueses “não tem sido fácil”. Mas acaba por explicar que foi através de alguns artigos científicos publicados por Paulo Moniz, presidente da Faculdade de Ciências, que conheceu o trabalho que se desenvolvia na Covilhã, “sobretudo na área da Cosmologia e da Física Quântica, que eram aquelas que me interessavam”.
Depois de alguns contactos, acabou por apresentar uma candidatura à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), que lhe concedeu uma bolsa de doutoramento. Nos próximos três anos vai ficar na Covilhã a redigir a sua tese. Depois, espera voltar “a um Irão diferente, a um país que está agora a começar um processo de mudança profundo, do qual, as últimas eleições foram apenas um dos pontos iniciais”. As questões sobre o seu país, Irão, fazem-no recordar a sua terra natal, a cidade de Nour, no norte do Irão. Mesmo assim, quando veio para a Covilhã, uma pequena cidade perdida no mapa da Europa, trazia na sua mente a convicção que estava a nascer um novo país.
Sabia-o e parece agora ter cada vez mais certezas “por tudo aquilo que vi acontecer e que me os meus colegas me vão contando, por tudo aquilo que se passa no país e que o povo espera vir a conseguir”. Das recentes eleições, Yaser lembra que, sobretudo no Ocidente existe uma leitura um pouco deturpada”. Isto porque, “no Irão vivemos sob uma ditadura religiosa que escolhe os seus representantes”. O aluno de cosmologia lembra que Mahmoud Ahmadinejad e Hossein Moussavi “foram indicados pelos líderes religiosos ao povo, contudo, o que reuniu maior consenso foi precisamente aquele que os líderes não queriam no poder”. Um facto que tem vindo a originar incidentes na capital “e a ser visto como o início de ponto de mudança”.
Há cinco meses em Portugal, Yaser Tavakoli destaca principalmente “a sociedade democrática, onde pelo menos todos podem dizer o que lhes apetece”. Algo diferente do seu país “onde, mesmo assim, as coisas parecem estar a mudar”. Uma mudança que passa também pela Internet. As redes sociais e as novas plataformas de comunicação “permitiram que os mais jovens, sobretudo os universitários, conseguissem criar um espírito mais reivindicativo e disposto à mudança”. A experiência que espera levar de Portugal, daqui a três anos, passa precisamente por isso, “pelas ideias e práticas democráticas que estão implantadas na Europa”. O aluno de doutoramento da UBI garante que também está a tentar “aprender o mais possível, neste aspecto para conseguir, com o meu contributo, ajudar a mudar o meu país”.
Um país quer nem sempre foi assim, governado por um regime religioso. Yaser faz questão também de lembrar “o antigo Irão, anterior à revolução que fez regressar os aiatolas ao poder”. Um país democrático, “mas que acabou por cair nesta situação”. Contudo, o jovem aluno da Shahid Beheshti University, em Teerão, sublinha que “esta experiência vai servir para muita coisa, em termos políticos, sociais e culturais, no meu país”. Um tempo, que na sua perspectiva, irá ajudar a mudar as consciências dos iranianos e levá-los a optar por um regime democrático.