Presenciar um acto de candidatura ao Ensino Superior permite verificar que algo está mal no sistema de ensino português. Ao contrário do que seria expectável, uma parte significativa dos candidatos chega ao momento da escolha sem saber exactamente em que curso pretende ingressar. Embora alguns casos se expliquem com a falta de média para o curso pretendido, os verdadeiros obstáculos são a organização curricular do Ensino Secundário, com o princípio da flexibilidade dos trajectos curriculares a ser pouco orientador para os estudantes, e a confusão em que se transformou a oferta do Superior, com 1098 cursos disponíveis.
Esperava-se que a implementação de Bolonha reorganizasse a oferta formativa, com primeiros ciclos de banda larga e segundos ciclos de especialização, mas aconteceu justamente o contrário. Por estranho que pareça, o número de designações de cursos de primeiro ciclo continuou a aumentar. Na área de engenharia, os nomes de curso ultrapassam uma centena, embora o número de colégios/especialidades da Ordem seja apenas de 12. Em termos de estudos empresarias, os três ou quatro cursos tradicionais deram igualmente origem a mais de cem designações, e até o campo da Comunicação, que há 30 anos se resumia a uma denominação, tem agora cerca de 25 diferentes nomes de curso.
Muito se falou em racionalização de meios e na criação de redes regionais, mas a verdade é que o sistema tem vindo a tornar-se cada vez mais complexo, com as escolas a inventarem designações apelativas com o único objectivo de atraírem novos alunos. Tudo isto com o beneplácito do ministério da tutela. De acordo com o artº 76º da nossa Constituição, “o regime de acesso à Universidade e às demais instituições do ensino superior garante a igualdade de oportunidades (…)”. Falta garantir aos candidatos a informação que lhes permita fazer a escolha mais adequada às suas expectativas. Talvez assim se evitem cenas de sofrimento como a da aluna que chorava copiosamente por não conseguir fazer uma escolha entre dois cursos com nomes semelhantes.
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