Dar cor ao mundo dos cegos
Um trabalho desenvolvido na Universidade da Beira Interior, no âmbito de um mestrado em Design de Moda, ramo vestuário, levou à criação de uma etiqueta para vestuário, com a designação das sete cores do arco-íris, escritas com alfabeto Braille. Desta forma, os invisuais podem, a partir de agora, saber as cores que estão a utilizar nas suas roupas.
> Eduardo AlvesA naturalidade com que vemos o mundo pintado pelas 350 mil cores que o olho humano consegue distinguir faz com que, na maior parte dos casos, afastemos para o esquecimento a incapacidade de outras pessoas, como por exemplo, os invisuais. Foi precisamente a pensar nestas pessoas, que “têm os mesmos direitos que todas as outras”, que Madalena Sena desenvolveu o seu trabalho de mestrado.
O trabalho consistiu em criar uma solução capaz de preencher esta lacuna “por demais evidente na área do vestuário e de muitos outros objectos” começa por explicar. Madalena Sena criou “uma etiqueta escrita com alfabeto Braille, que permite a qualquer pessoa invisual, deslocar-se a uma loja de roupa e escolher a cor da roupa que lhe interessa, através desta informação”.
Até hoje, não existe este tipo de designação disponível no vestuário, “e nem sei porquê, acho que é uma coisa tão simples, que não encontro explicação plausível para este facto”, diz Madalena Sena. Por isso desenvolveu uma etiqueta que é produzida “através um conjunto de tarjas metálicas termocoláveis em tiras de algodão, para que possam resistir à lavagem, tal como a peça de roupa”. Esta etiqueta tem o nome da cor da peça de roupa em causa escrito em Braille e faz parte integrante dessa mesma peça, tal como as habituais etiquetas de aviso.
Por agora estão disponíveis as sete cores do arco-íris “por serem aquelas que as pessoas mais conhecem, mas todas as outras podem ser também colocadas”. A aplicação destas novas peças está facilitada “e vai permitir às entidades produtoras, lojas e cadeias de distribuição, colocá-las de forma a que os invisuais possam tirar partido desta informação”, acrescenta Madalena Sena. Esta etiqueta fica com a peça de roupa, e por isso mesmo as pessoas sempre que querem vestir essa roupa sabem qual a sua cor.
Madalena Sena, que se confessa apaixonada pela cor “desde sempre”, começou por notar que “nenhum tipo de vestuário apresentava qualquer informação sobre a sua cores destinada a invisuais”. Quando lhe foi lançado o desafio de realizar um trabalho final para a sua tese de mestrado em Design de Moda, Madalena optou por operar nesta área.
Uma actividade que começou “por saber se as pessoas invisuais tinham ou não alguma preocupação com as cores que vestiam”. Essa questão foi respondida num inquérito feito “a um universo de 25 invisuais”, através de entrevistas directas, n Internet, na página, “Ler para Ver” e ainda através da ajuda da delegação de Castelo Branco, da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), “a única, a nível nacional, a responder”, sublinha.
Os resultados “foram surpreendentes” e apontaram para a preocupação que estas pessoas têm com as cores das suas roupas. A título de exemplo, Madalena Sena confessa que nalgumas respostas de pessoas invisuais encontrou “expressões que provavelmente nenhum de nós pensaria que um cego utilizaria, como ‘estar verde de inveja’ ou ‘amarelo de raiva’”. A autora do trabalho acabou por compreender que “a cor é importante para os invisuais, no seu dia-a-dia e no vestuário”. Um facto que se verificava “até mesmo com invisuais que já nasceram com esta deficiência e que, por isso, nunca viram, mas que mesmo assim demonstram preocupação com a cores que vestem”.
“Espero que este tipo de trabalho venha a melhorar a vida das pessoas”, confessa a autora da ideia, que teve a ajuda de alguns invisuais. Um apoio “sobretudo ao nível de teste das etiquetas, da opinião sobre o material que estava a utilizar para as fazer e da forma como estas ficavam colocadas”, refere.
> madaper @ gmail . com em 2009-07-28 16:46:25
muito interessante, a aluna está de parabéns, a incorporação dos vídeos ajuda de alguma forma os cegos a perceberem o trabalho, deveria ter mais video para eles ouvirem. Mas penso que a aluno depois irá tratar do assunto para sites mais específicos
> sena . lv @ gmail . com em 2009-07-29 10:13:14
Parabéns pelo trabalho, originalidade e humanismo. Continua no bom caminho.....
> a23753 @ ubi . pt em 2009-08-21 19:34:03
Parabens. É bom ver que alguem pensa no bem estar dos outros. É uma ajuda para as pessoas cegas e não só.Quando alguem observar este tipo de roupa com etiqueta em braile, vai ter de pensar um pouco em tais pessoas e quiças pensar também numa ideia que os possa ajudar.
Continue, que vai no bom caminho.
> gilberto . peixoto @ gmail . com em 2009-07-29 21:16:49
De facto trata-se de uma iniciativa interessante e válida. Mas o que me irrita mesmo e me deixa, como direi... Verde de Raiva é que, sendo Eu Cego, tenha que ler constantemente as Pessoas, e neste caso os Jornalistas, referirem-se aos Cegos como invisuais... Mas será que não entendem que invisual é algo que não existe? Eu estou a escrever este comentário, logo existo. Se existo e sou cego, não posso ser invisual... Por favor acho que já está na hora de parar de dar tanta facada na Língua Portuguesa... Eu sou Cego e não tenho problemas nenhuns que as Pessoas se refiram a mim como Cego. Não gosto que me chamem ceguinho porque isso é altamente prejurativo e também não gosto que me chamem invisual... Por isso ao Autor do artigo e a todos os Jornalistas e às pessoas em geral por favor passem a chamar Cegos aos Cegos e não invisuais, ceguinhos ou quaisquer outras coisas... É muito mais dignificante para mim enquanto Cidadão Cego ser tratado por Cego do que por invisual... Invisual não existe, ou melhor, é algo que não existe e Eu existo!
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